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Cristovam Buarque

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O papel de Lula na ONU

O presidente poderia ter dado mais ênfase à educação e à imigração

Por Cristovam Buarque Atualizado em 3 out 2025, 12h28 - Publicado em 3 out 2025, 06h00

Graças a seus méritos pessoais e às especificidades do Brasil — país que de algum modo espelha as dificuldades e qualidades da civilização global contemporânea —, Lula fez um dos mais marcantes discursos proferidos na ONU. Teria sido ainda mais relevante se tivesse incluído alguns pontos que ficaram ausentes. Lembrou do papa Francisco e do ex-­presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica, que morreram neste ano. Mas poderia ter lembrado do fotógrafo Sebastião Salgado como um dos grandes humanistas de nosso tempo, também falecido em 2025, e sugerido batizar o principal auditório da COP30, em Belém, com o nome dele.

Ao abordar a crise ambiental, Lula poderia ter afirmado que a transição energética, embora necessária, não será suficiente para conter as mudanças climáticas. Além da transição energética, a humanidade precisa de uma transição de mentalidade: substituir o propósito do desenvolvimento, identificado com o crescimento econômico da produção e do consumo, pelo objetivo de aumento do bem-­estar social em equilíbrio ecológico, com erradicação da pobreza e distribuição de renda. Para promover essa transição de mentalidade, poderia ter proposto a inclusão do tema educação na pauta da COP30 e sugerido cooperação internacional para atender os 2 bilhões de crianças em idade escolar no mundo, dando-lhes preparo para enfrentar os desafios da contemporaneidade.

Poderia também ter dado maior ênfase à crise humanitária das migrações, tão crítica quanto a emergência do clima. Uma ideia: a criação de um programa de Bolsa Família Internacional, com o objetivo de zelar pelas populações forçadas a se deslocar, empobrecidas. Poderia convidar Estados Unidos e Europa para apoiarem a iniciativa. Lula é o único presidente com legitimidade para esse movimento, pois o Brasil é um país grande sem muros contra imigrantes e mantém há 24 anos um programa que eliminou a penúria e reduziu a migração interna.

“Além da transição energética, a humanidade precisa de uma transição de mentalidade”

Ao defender que o Conselho de Segurança passe a incluir temas como pobreza e meio ambiente, poderia ter sugerido mudar o nome para “Conselho da Humanidade” ou “Conselho da Terra”. Ao criticar o poder de veto outorgado a cada um de cinco países, Lula poderia ter declarado que a ampliação desse número para dez apenas aumentaria os privilegiados sem fazer a democratização necessária. Para isso, poderia retirar nossa candidatura a membro permanente e defender a rotatividade para todos.

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O presidente Lula ajudaria na transição de mentalidade se dissesse que a concepção do mundo como “soma-de-países” precisa ser substituída pela percepção de “cada país ser um pedaço-do-mundo”. Direto ao ponto: com os interesses nacionais entrelaçados, fica obsoleta, envelhecida e desnecessária a ideia de “meu país primeiro”. Lula , enfim, poderia ter afirmado que as forças progressistas precisam sair da velha narrativa das “veias abertas” impostas por colonizadores externos e reconhecer que nosso atraso vem dos “neurônios ofuscados” por decisão das elites nacionais, ao abandonarem os pobres de seus países, negando-lhes acesso a uma educação de qualidade.

Lula fez um discurso superior a qualquer outro presidente na Assembleia da ONU, e devemos louvá-lo pela postura. Mas pode e deve melhorar no próximo encontro, em setembro de 2026.

Publicado em VEJA de 3 de outubro de 2025, edição nº 2964

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