Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Cristovam Buarque

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Um século perdido

O horário integral nas escolas exige planejamento do governo

Por Cristovam Buarque Atualizado em 9 Maio 2024, 18h42 - Publicado em 8 dez 2023, 06h00

O descuido histórico com a educação faz propostas antigas continuarem atuais. Quando voltou de sua pós-graduação nos Estados Unidos, há quase 100 anos, Anísio Teixeira trouxe a ideia da escola em horário integral. Para um país que nem praticava matrícula para todos, sugeriu que a criança brasileira estudasse parte do dia em uma “escola-classe” tradicional, com quatro horas, continuando as aulas em uma “escola-parque” para arte, esporte e reforço escolar. Solução insuficiente, mas considerável avanço diante da triste realidade do sistema educacional na época.

Nas décadas de 1920 e 1930, no cargo de inspetor-geral do ensino na Bahia e depois como secretário da Educação do Rio de Janeiro, ele implantou esse modelo em forma experimental. Em 1950, quando secretário de Educação, inaugurou em Salvador o Centro Educacional Carneiro Ribeiro: uma “escola-parque” que atende no contraturno complementar 4 000 alunos de quatro “escolas-classe”. Foi o primeiro modelo de educação integral pública no Brasil, embora ainda de forma complementar. Em 1960, repetiu a experiência em Brasília, onde até hoje há cinco “escolas-parque”. Foi necessário esperar mais de vinte anos para Darcy Ribeiro, no governo Brizola, adotar o horário integral dos Cieps (Centros Integrados de Educação Pública) em parte do sistema educacional do estado do Rio de Janeiro. Dez anos depois, o presidente Fernando Collor levou os Cieps para o Brasil, criando algumas centenas de unidades desse tipo com o nome de Ciacs (Centros Integrados de Atendimento à Criança).

“O descuido histórico com a educação faz propostas antigas continuarem atuais”

Mais três décadas foram necessárias até que, em 2023, o atual governo federal lançasse o programa Escola em Tempo Integral, prometendo recursos financeiros aos municípios e estados que desejem alongar a permanência diária dos alunos nas escolas. Nada indica que a execução dessa intenção ocorrerá na amplitude territorial, nem na profundidade pedagógica que se necessita. Não há demonstração expressa de vontade política e prioridade nacional pela educação de base, faltam instrumentos administrativos federais que induzam os governos locais, as escolas não têm condições físicas nem de pessoal para implantar horário integral e os recursos financeiros previstos são insuficientes: 4 bilhões de reais para três anos, em um país com quase 50 milhões de crianças em idade escolar.

Se realmente tivesse a vontade de oferecer um sistema público em horário integral para todas escolas do país, o governo federal deveria definir e implantar estratégia de médio prazo, pela qual assumiria, em cronograma viável, a responsabilidade pela educação de base em todo o território nacional. Seriam Cieps ou Ciacs implantados por cidade, como no programa iniciado em 2003, no primeiro governo Lula, com o nome de Escola Ideal, e proposto desde o Senado à presidente Dilma. Mas, considerando a falta de ambição para implantar um sistema nacional em horário integral, um caminho seria a adoção do secular modelo de Anísio Teixeira, implantando “escolas-parque federais” ao lado das “escolas-classe municipais ou estaduais”.

Continua após a publicidade

Em alguns anos, seria possível implantar uma rede de “escolas-parque federais”, que atenderiam com horário complementar todos os alunos das “escolas-classe municipais ou estaduais”. No lugar de simples intenção, sem condições de gerar o efeito que o futuro exige, o governo federal daria um passo concreto na direção de ampliar a permanência de toda criança na escola.

Publicado em VEJA de 8 de dezembro de 2023, edição nº 2871

Publicidade

Imagem do bloco
Continua após publicidade

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Continua após publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.