Namorados: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

Crônicas de Peso

Por Cid Pitombo Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O cirurgião bariátrico e pesquisador na área de obesidade Cid Pitombo reflete, em seus textos, sobre alimentação, movimento, ganho... e perda de peso

O quarto do pânico: quando a gordura invade o corpo

Colunista traça paralelo entre o organismo e uma residência para mostrar os perigos do excesso de gordura em vários cantos

Por Cid Pitombo
14 Maio 2025, 12h00

Na trilha de Hollywood, uma mulher recém-separada com uma filha, portadora de diabetes, se muda para uma casa grande que possui um quarto do pânico, idealizado para se abrigar e estar seguro em caso de invasão.

É enredo de filme, mas o nosso corpo (que eu também chamo de “casa”) apresenta diversos cômodos e algumas estruturas para lidar com problemas. A suíte máster é o nosso cérebro, onde controlamos funções vitais, guardamos as memórias e gerenciamos as emoções, bem como os mecanismos de fome e saciedade.

As janelas são nossos pulmões, sempre abertos para oxigenar o lar. A sala de bombas, o coração, é quem permite que os suprimentos circulem pela residência. Também temos filtros, como o fígado e os rins, e uma rede de encanamentos, os vasos e os nervos, que conectam tudo.

Por fim, há a cozinha, representada pelo estômago e os intestinos. As colunas de sustentação, forjadas por nossos ossos e músculos. E, não podia faltar, a dispensa, o tecido adiposo, um conjunto de células de gordura que, mais do que atuar como reserva de energia, produz uma série de hormônios e substâncias, que podem ser benéficos ou maléficos.

Assim como uma moradia, o cuidado com a segurança – nesse caso, alimentar, física e mental – deve ser diário, pois elementos estranhos e perigosos podem entrar na casa e se alojar em diversos lugares. A gordura, por exemplo, é sabidamente um invasor que trará consequências, a depender de sua localização e quantidade.

Continua após a publicidade

Em um passado distante imaginava-se que ela era somente uma fonte de energia, mas sabemos hoje que ela funciona também como um órgão endócrino, produzindo substâncias para o bom ou mau funcionamento da casa.

A localização da gordura seguirá em muitos organismos os nossos traços genéticos, e isso não é culpa nossa. Quando temos tendência que ela vá para o compartimento visceral, ou seja, se acumule dentro do abdômen, os alarmes irão disparar e temos que correr para o quarto do pânico, onde teremos médicos, profissionais de saúde e orientações para sobreviver.

Assim como no filme, esses bandidos viscerais invadirão todos os cômodos, roubando o que puderem da saúde de cada local. O aumento progressivo desses maus elementos irá fazer com que pressionem a parede dos outros cômodos da casa. O pulmão diminuirá de tamanho e não conseguirá se expandir adequadamente, pois uma de suas paredes (o diafragma) será comprimida, bloqueando a abertura de algumas de suas janelas.

Continua após a publicidade

Da mesma forma, os canos do abdômen serão bloqueados pelo peso da gordura sobre eles, dificultando que o sangue volte do subsolo (pernas) para a casa de bombas, se acumulando e levando a inchaços, dores, escurecimento da pele e até tromboses.

O excesso de gordura nos vasos levará à obstrução do nosso encanamento, culminando em ataques como infartos e derrames. A bomba principal pode pifar, pois com os canos bloqueados pela compressão ou entupidos pelo acúmulo de gordura, o sangue deixará de fluir e sobrecarregará o músculo cardíaco.

No quarto do fígado, o grande fluxo desses criminosos levará a uma inflamação crônica, podendo evoluir para cirrose.

Continua após a publicidade

Para que a insulina guarde a glicose dentro das células – e isso garanta a manutenção da casa toda -, é necessário a transmissão de um sinal químico para que uma porta se abra e a glicose entre. O aumento da gordura visceral produz substâncias inflamatórias que bloqueiam esse sinal. Daí a glicose não entra, o pâncreas é avisado, manda mais insulina, mas, como há uma resistência ao hormônio os dois ficam do lado de fora.

Resultado: o encanamento fica cheio de insulina e glicose e o pâncreas começa a cansar. Essa gangue é conhecida como diabetes.

A suíte máster, quando invadida, pode levar à morte de neurônios e a uma dificuldade no controle da fome e saciedade. Quanto mais tempo de obesidade, mais danos ela sofrerá.

Continua após a publicidade

Então, quando estamos presos nessa residência, invadida por gorduras do mal, devemos o mais breve possível correr para o quarto do pânico. Lá, teremos ajuda e a possibilidade de nos salvar. Mas, se não seguirmos as instruções ou demorarmos para procurá-lo, poderemos perder boa parte da nossa casa – ou ela toda.

Compartilhe essa matéria via:

 

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.