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Dias Lopes

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Comer na gaveta

Origens de um comportamento à mesa que já foi atribuído sarcasticamente aos habitantes das cidades de Mariana (MG), Itu (SP) e Cuiabá (MT)

Por J.A. Dias Lopes 8 abr 2019, 20h10

Uma divertida locução popular conhecida no Brasil é comer na gaveta ou de gaveta. Designa a pessoa que esconde a comida quando chega uma visita inesperada à hora das refeições. As mesas de antigamente, tanto coloniais como imperiais, tinham pelo menos uma gaveta. Era nelas que o dono da casa ocultava rapidamente o alimento saboreado no momento e por isso acabava sendo chamado de gaveteiro. Hoje, esses móveis são encontrados nas lojas de antiguidades.

Brasileiros de diferentes cidades já receberam o apelido sarcástico. Alguns se ofendiam. Houve tempo em que dava briga chamar de gaveteiros os habitantes de Mariana, em Minas Gerais, os mais notabilizados pela suposta prática de ocultar pratos como tutu à mineira, feijão tropeiro ou frango com quiabo; o mesmo acontecia com os de Itu, em São Paulo, e os de Cuiabá, no Mato Grosso. Sentiam-se acusadas de pão-durismo.

Mas o professor e escritor mineiro Eduardo Frieiro, no capítulo “Comer na Gaveta”, de “Antologia da Alimentação no Brasil”, organizada pelo etnólogo potiguar Luís da Câmara Cascudo, o maior pesquisador do folclore nacional (Global Editora, São Paulo, SP, 2008), apresenta uma versão tergiversadora para a explicação da avareza.

“A insinuação tem caráter universal e não se come escondido, como no caso, por sovinice, senão para ocultar uma refeição pobre. A gente marianense (por exemplo) era em geral de poucos recursos, mas presumia-se de boa qualificação social. Comia angu, alimento do escravo, mas queria arrotar presunto. Era um mecanismo de defesa para os que evitam tornar pública a pobreza da própria alimentação, que desqualifica socialmente”. Portanto, os marianenses não escondiam o prato por sovinice, mas por vergonha do que ele continha.

arroz cm feijão
Gaveta malandra: o dono da casa esconderia a comida ali por avareza ou, então, para não tornar pública a singeleza do seu alimento (Dias Lopes/Divulgação)

O jornalista e escritor fluminense Nélson Backer Omegna, no livro “A Cidade Colonial” (Livraria José Olympio, Rio de Janeiro, 1961), reforça a hipótese do colega: “A lenda, generalizada hoje pelo país, de pessoas que comem na gaveta espelha menos a avareza dos que não queriam despender com comensais que o pendor dos que temiam tornar pública a pobreza das suas refeições, tão excessiva importância teria, nos modestos burgos, o papel dos alimentos para manter e graduar a categoria social”.

Eduardo Frieiro também ressalta que a expressão comer na gaveta existiu em outros países, a começar por Portugal, sempre usada em contexto humorístico-depreciativo. Na França, por exemplo, dizia-se manger au tiroir. Algum tempo atrás, quando escrevemos outra crônica sobre a divertida locução, recebemos contribuições de leitores. Um português sublinhou que os habitantes de Tavira, bonita cidade do seu país, situada a 30 quilômetros de Faro, na região do Algarve, são de mesma forma denominados gaveteiros.

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Entretanto, o vereador da cidade José Baía assegurou ao Ciberdúvidas – O Portal de Dúvidas da Língua Portuguesa, que a fama era injusta. Segundo ele, viria do tempo em que o comércio local não fechava à hora do almoço. Quando aparecia um cliente, o comerciante enfiava o prato na gaveta da mesa e a fechava subitamente.

Só reiniciava a refeição no momento em que o homem ou mulher iam embora. Hoje, os tavirenses exploram a fama do passado. Em 2018, foi aberto na cidade o Come Gaveta, moderno gastrobar – um conceito importado de Londres e Nova York, do bar que oferece comida de restaurante a preços atraentes e com ambiente descontraído. O convite para a inauguração anunciava: “No coração de Tavira, renasce uma expressão popular com um novo conceito”. Paradoxalmente, suas mesas não têm gavetas.

A comida motiva criativas locuções populares, algumas das quais se converteram em sábios provérbios. Exemplos: à mesa não se envelhece; ao pé de um bom estômago, há sempre uma boa alma; amiga é a minha barriga e mesmo assim me dói às vezes; comer até adoecer e jejuar até sarar; casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão; comer com os olhos; comer o pão que o diabo amassou; mais vale comer palha do que não comer nada; quem bem come e bebe, bem faz o que deve; quem quiser comer sem sal, que vá para o hospital; e por aí em diante. Comer de gaveta, porém, é a mais divertida.

P.S. Nada a ver com a receita de gaveta, aquela que alguns médicos e nutricionistas já têm pronta, às vezes até impressa, para nos entregar quando nos submetem a uma dieta adelgaçadora.

TUTU À MINEIRA

Rende 6 porções

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INGREDIENTES

FEIJÃO

.1/2 kg de feijão mulatinho cozido e batido no liquidificador

.2 dentes de alho socados

.2 colheres (sopa) de óleo

.Farinha de mandioca o quanto baste

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.Sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto

MOLHO

.2 colheres (sopa) de óleo

.1 dente de alho picado

.1 cebola picada

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.2 tomates maduros picados

.1 pimentão picado

.3 colheres (sopa)de massa de tomate

.Sal e pimenta – do – reino moída na hora a gosto

CARNE, LINGUIÇA E COUVE

.1/2 kg de carne de porco em pedaços

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.1/2kg de linguiça em rodelas

.2 maços de couve fatiados finamente

.2 colheres (sopa) de óleo

.2 colheres (sopa) de manteiga

.Sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto

ACOMPANHAMENTO

.Arroz branco

PREPARO

FEIJÃO

1.Refogue o feijão ( já batido) com o alho, no óleo previamente aquecido. Tempere com sal , pimenta e, em fogo brando, vá juntando aos poucos a farinha de mandioca, mexendo com uma colher de pau, para não empelotar.

2.Quando a consistência estiver boa, até dar ponto de pirão, apague o fogo e reserve.

MOLHO

3.No óleo quente, doure o alho com a cebola. Junte os outros ingredientes, tempere com sal, pimenta e refogue até obter um composto homogêneo.

CARNE, LINGUIÇA E COUVE

4.Tempere a carne de porco com sal, pimenta e frite-a no óleo. Junte a lingüiça, complete o cozimento e reserve.

5.Refogue a couve na manteiga, tempere com sal e complete o cozimento.

6.Monte os pratos e sirva imediatamente, com o arroz branco do acompanhamento.

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