Meninos, eu vi, acompanhei de perto e, ainda assim, 33 anos depois foi preciso assistir ao filme O Paciente – O Caso Tancredo Neves (chega aos cinemas no dia 13 de setembro) para me dar conta de que Tancredo Neves morreu de morte matada pelo vício da dissimulação, cacoete da velhíssima política.
Direção de Sérgio Rezende com produção de Mariza Leão, O Paciente é o tipo de filme necessário. Analiso do ponto de vista dos fatos passados. A dramaturgia deixo ao encargo dos colegas do ramo. O filme conta uma história a respeito da qual o Brasil sabe pouco: a agonia de Tancredo por 37 dias, da internação na véspera da posse no dia 14 de março de 1985 à morte em 21 de abril.
Aos jovens o filme serve como fonte de informação. Aos que lá estiveram, na condição de espectadores passivos ou profissionais ativos, funciona como uma rebobinagem histórica a nos dizer do valor do valor da transparência. Revendo as cenas, há uma conclusão de fundo: no Brasil de hoje talvez Tancredo Neves não tivesse morrido.
Para início de conversa, não teria escondido sua doença (um tumor que há tempos o atormentava). A imprensa não teria sido tão condescendente no tocante ao chamado respeito à privacidade muito menos ao circo de horrores que se formou no hospital de Base. À família não teria sido possível atuar para esconder a real situação do paciente e os médicos não poderiam, como fizeram, agir para falsear.
O filme conta uma história sobre do peso da mentira. Em 1985 um valor bem considerado no cenário político, tido como essencial. Em 2018 soa a ficção. Não era, retratava a mais pura e cruel realidade. Ao menos nesse aspecto, evoluímos.