Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Imagem Blog

Dora Kramer

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Coisas da política. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Lei da atração

O caminho da oposição para 2022 passa pela conquista de isentos e arrependidos de 2018

Por Dora Kramer Atualizado em 4 jun 2024, 13h47 - Publicado em 24 jul 2020, 06h00

Completamos neste ano duas décadas de governos populistas desde a recuperação do direito ao voto para presidente. O cotejo de perdas e ganhos entre esses vinte anos e os oito de mandato de Fernando Henrique Cardoso poderia medir a vantagem de o Brasil retomar o ponto tido como fora da curva. Não tratemos de partidos, mas de desempenho.

Naquele período liquidou-se a inflação, instituíram-se ferramentas avançadas na educação, abriu-se ao cidadão o acesso à comunicação na antessala da internet, deram-se passos importantes na saúde com a introdução dos medicamentos genéricos, o combate à aids, ao tabagismo e, sobretudo, não se viveu sob a égide do conflito permanente.

Ninguém dava nada pela eleição de FH. Intelectual de maneiras brandas, fugia ao estilo do político tradicional e justamente pela falta de traquejo nas lides do popularesco a candidatura foi recebida com descrença, mesmo sendo ele o artífice do Plano Real, iniciado em fevereiro do ano eleitoral de 1994. Menos de oito meses depois seria eleito em primeiro turno.

Na ausência dos recursos da performance tresloucada e/ou do ativismo radical, o ativo da época foi a ligação direta entre a oferta da candidatura e a demanda da população. Os resultados do plano na derrubada da inflação atraíram e convenceram o eleitorado a deixar de lado promessas ilusionistas de mudar “tudo isso que está aí” e se concentrar na resolução da, na época, chaga principal. Com o que, candidato e eleitor passaram a falar na mesma língua, a atuar em sintonia.

Soa utópico falar na possibilidade de retornar a esse tipo de ambiente a fim de se construírem uma ou mais alternativas para a disputa presidencial de 2022. Porém não custa pensar a respeito. Afundaram-se em seus equívocos e malfeitorias PT e PSDB e, com isso, foi-se a dicotomia vigente por longo tempo.

Já é tempo de o Brasil perceber também que não é refém de tipos como Jair Bolsonaro para se defender da ameaça da volta do PT. Os malefícios produzidos por um e por outro foram suficientes para que as forças políticas busquem maneiras mais razoáveis de atrair o eleitorado.

Continua após a publicidade

A unidade dos opositores é celebrada como o grande pré-requisito. É uma condição, mas não a solução de todo o problema, que depende primordialmente da definição dos pontos em torno dos quais se deve dar essa união. Perdem-se tempo e energia, por exemplo, apenas pisando e repisando sobre o que o governo faz de ruim.

“Caminho da oposição para 2022 passa pela conquista de isentos e arrependidos de 2018”

Carecas estamos de saber que Bolsonaro não entrega o que prometeu na economia nem no combate à corrupção; que desarticulou a área da cultura, paralisou a educação, retrocedeu no meio ambiente, comporta-se da pior maneira na crise sanitária e deu o dito pelo não dito na reformulação da política. Isso não apenas devido à aliança com o Centrão, mas também no abandono da reforma dos meios e modos políticos com a anuência, diga-se, de suas excelências que não dão a menor bola para as 52 propostas existentes na Câmara e sessenta projetos no Senado relativos ao tema.

Concentrar a oposição só na repetição do já conhecido, além de não criar caminhos opcionais, ajuda a normalizar atitudes que eram vistas como anormais. As pessoas se acostumam e passam a não se escandalizar, levando o contingente de decepcionados e arrependidos a se acomodar no terreno da “falta de alternativa”.

A denúncia é importante, mas sozinha não funciona para fins de conquista. Fala-se muito hoje em empatia, mas não se veem os opositores de Jair Bolsonaro praticando o que pregam. No lugar de atrair, afastam os que votaram no presidente, mas não o fariam de novo, afugentam os que ainda pensam no caso e aqueles que não se animaram a ir às urnas ou optaram por anular ou deixar o voto em branco.

Continua após a publicidade

Essa turma é chamada de tudo, menos de bonitinha. Não raro costuma-se dirigir a ela um “bem feito” pelo fato de seu escolhido não ter sido Fernando Haddad. Sugestão: que tal substituir o ressentimento e o menosprezo pelo diálogo com esse pessoal? E olha que não é pouca gente: cerca de 30% do eleitorado, 42 milhões de votos em números redondos.

Muita coisa para os pretendentes a candidatos em 2022 deixarem ao sabor do que der e vier. Dá trabalho ir atrás e encontrar um jeito de cativar esse povo todo? Requer enorme esforço. É preciso achar a conversa certa, entender a necessidade de ouvir e, se for o caso, ceder para perceber que as demandas e crenças da maioria nem sempre combinam com os desejos e convicções de quem se dispõe a governar para todos.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 29 de julho de 2020, edição nº 2697

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

a partir de 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.