Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Dora Kramer

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Coisas da política. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Trincheira vazia

Na batalha da ‘fraude’ eleitoral, Bolsonaro vem se transformando num comandante sem tropa

Por Dora Kramer Atualizado em 4 jun 2024, 11h56 - Publicado em 20 Maio 2022, 06h00

Sinais efetivos e alentadores têm sido dados ultimamente de que o presidente Jair Bolsonaro é um comandante sem tropa na batalha que empreende contra o resultado das eleições de outubro. Qualquer que seja: se for derrotado para dizer que na verdade ganhou e, em caso de vitória, para alegar que a “fraude” se deu na contagem de votos, pois teria vencido por margem muito maior.

Conturbação haverá, como de resto está havendo há três anos com o presidente da República tentando levar o país à exaustão com sua dinâmica de conflito permanente e a ideia de se mostrar maior do que realmente é para intimidar a sociedade e, assim, disseminar a sensação de que a contestação a ele elevaria o risco de uma ruptura institucional.

Nesse aspecto, até obteve sucesso ao conseguir emplacar a tese do “golpe” iminente e tornar o Brasil (ou a parte dele engajada no debate político) refém de uma temática regressiva. Voltamos a discutir sob a óptica do passado para deixar em segundo plano as questões do presente e suas repercussões no futuro.

A realidade paralela de Bolsonaro, no entanto, tem encontrado limites. Por paradoxal que seja, tais limitações decorrem justamente da falta de noção dele sobre pontos a não ser ultrapassados. O presidente colecionou derrotas pontuais ao longo do mandato sempre que seu mundo de ficção entrou em choque com a realidade.

Caso gritante da vacinação contra a Covid-19. Quanto mais o presidente resistia às vacinas colocando em dúvida a eficácia delas, maior era a adesão dos brasileiros à imunização. Ficou falando praticamente sozinho e foi obrigado a abandonar aquela guerra. Saiu de fininho do campo na companhia de seus adeptos mais fanáticos, cujo discurso passou a ser o oposto. Quando perceberam o erro de cálculo, deram voz à tese de “Bolsonaro pai das vacinas”, mas era tarde. A derrota estava consolidada.

Continua após a publicidade

Na batalha da “fraude eleitoral” se desenha no horizonte algo parecido. Perdido o primeiro round na recusa do Congresso de ressuscitar o voto impresso, Bolsonaro em princípio aquietou-se uns instantes, mas voltou com força à contestação da confiabilidade das urnas eletrônicas.

“Na batalha da ‘fraude’ eleitoral, Bolsonaro vem se transformando num comandante sem tropa”

Ocorre que o fez com a habitual ausência de noção sobre limites, provocando reação forte na mesma, ou até maior, proporção. Hoje ninguém de peso embarca nessa canoa. Nem mesmo a “bolha” de fiéis se engaja de cabeça na ideia do empastelamento do processo.

Continua após a publicidade

O discurso desse pessoal agora é o de inverter a culpa, dizendo que a Justiça Eleitoral alimenta a desconfiança no sistema quando fala em sua defesa. Coisa de quem perdeu os argumentos e rompeu laços de amizade com o mundo real. Neste, o que se vê é a construção de barreiras sólidas à ofensiva arruaceira.

As manifestações em prol da normalidade do pleito são praticamente diárias e ganham a adesão de gente simpática a Bolsonaro, como o procurador-geral da República, Augusto Aras, os presidentes da Câmara e do Senado e até do PL, partido do presidente, que já rifou a ideia de contratar auditoria particular para conferir o resultado das urnas eletrônicas.

A trincheira da fraude imaginária vai se esvaziando. Além de o PL não ter a menor intenção de gastar a dinheirama do Fundo Eleitoral numa inexequível conferência, as Forças Armadas não tomaram conhecimento da proposta de se prestarem a fazer apuração paralela. O presidente segue falando, mas fala a cada dia mais sozinho, desmentido pela realidade dos constantes testes de segurança das urnas e pelos posicionamentos contrários ao respaldo pretendido por ele.

Continua após a publicidade

Não lhe sobra alternativa a não ser recorrer a atos meramente retóricos como a inútil ação no Supremo Tribunal Federal contra o ministro Alexandre de Moraes por abuso de autoridade. Tanto barulho Bolsonaro fez, e faz, que conseguiu pôr a eleição brasileira sob estreita e inédita vigilância aos olhos do mundo.

As invertidas não impedirão o presidente da República de continuar esticando a corda. Mas o andar da carruagem não lhe é favorável, pois trilha um caminho cujo destino parece colocá-lo do lado mais fraco da arrebentação.

Fica de lição uma frase do ex-ministro do STF Carlos Ayres Britto: “A democracia não vence por nocaute. Ganha por pontos”. E é assim, na pontuação persistente, que a legalidade se impõe como fronteira intransponível.

Publicado em VEJA de 25 de maio de 2022, edição nº 2790

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.