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Dora Kramer

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Uma cajadada só

Bolsonaro usa criação de legenda para mobilizar tropa eleitoral

Por Dora Kramer Atualizado em 4 jun 2024, 15h05 - Publicado em 17 jan 2020, 06h00
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  • A cena política dita tradicional está em risco, de novo, de perder para o presidente da República o bonde que já havia perdido em 2018 para o candidato Jair Bolsonaro. Daquela vez a bobeada foi em relação ao uso das redes sociais como instrumento de campanha. Agora, os partidos marcam passo no campo da mobilização popular ao não dar a devida atenção aos movimentos feitos em torno da criação da legenda Aliança pelo Brasil.

    O debate tem se dado sobre a possibilidade de Bolsonaro e companhia reunirem as assinaturas necessárias para conseguir o registro no Tribunal Superior Eleitoral até abril, a fim de concorrer às eleições de outubro na nova casa. Bobagem, perda de energia, saliva, cliques e papel. Bolsonaro não está preocupado com isso. Ainda que houvesse tempo, e não há, ele preferiria deixar a formalização do partido para o próximo ano ou mais um pouco porque o que interessa são as eleições de 2022. Para isso, tem até abril daquele ano para obter o registro.

    Desse período, Jair Bolsonaro vem sabendo tirar vantagem. Nas barbas dos adversários, cuja visão estreita os impede de enxergar meio palmo para além dos respectivos narizes ocupados com outras tarefas. Umas mais, outras menos produtivas.

    Parte da esquerda é refém de Lula, presa voluntária e/ou involuntariamente ao culto daquela personalidade; parte está procurando escapar dessa armadilha, buscando diálogos ao centro.

    Desse campo para a direita a preocupação também é construir consensos, coisa que toma todo o tempo de seus autores.

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    O presidente mata dois coelhos ao montar vários palanques de um só partido

    Os dois conglomerados só se ocupam de Bolsonaro para manifestar repúdio a uma agenda de costumes que, de resto, não prospera nem tem chance real de prosperar. Operam, portanto, ora no terreno da fantasia, ora no mercado futuro, ora referidos numa pauta regressiva. Enquanto isso, a turma de Jair Bolsonaro vai tocando o barco por outro lado e a toda a velocidade.

    Para eles é ótimo não ter partido agora. Nada os impede de apoiar candidatos em variadas legendas, cujos prefeitos eleitos poderão se transferir sem ônus para a Aliança, pois a regra da perda de mandato não atinge ocupantes de cargos no Executivo. Além do mais, terão o ano praticamente todo e 5 000 e tantos municípios onde badalar o sino da nova legenda, aliando a isso as campanhas para prováveis integrantes à tropa de 2022.

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    A programação é profissionalmente montada: presença, pessoal ou virtual, do presidente nos estados, roteiro-modelo, com orações, hinos, entrada em cena de oradores treinados, telões e painéis padronizados, incentivo ao voluntariado, calendários desde já organizados desses atos, começando pelo Nordeste (26% do eleitorado), onde em tese é mais complicado em razão da rejeição ao presidente e do apreço ao PT.

    No discurso, a mensagem clara e de fácil identificação: valores conservadores, devoção a Deus, reverência à família, incentivo ao voluntariado, recusa ao uso de recursos públicos. Nos atos de governo, aumento dos benefícios aos mais pobres por intermédio do Bolsa Família.

    Está bom ou querem mais? Se não estiver, convém aos adversários de Bolsonaro maior empenho na conquista do eleitor.

    Publicado em VEJA de 22 de janeiro de 2020, edição nº 2670

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