Apesar de estarem em cantos opostos da política, a extrema direita e a extrema esquerda são muito parecidas. Ambas adoram um governo forte, censuram os jornais, controlam os sindicatos e reprimem minorias e grupos de oposição.
Mas há uma diferença básica de conceitos. A extrema esquerda fala em classe. A extrema direita, em nação.
Explicando melhor. A extrema esquerda diz buscar a igualdade e tem como objetivo acabar com a luta de classes. Na Revolução Russa de 1917, trabalhadores, camponeses e soldados tomaram o poder, instituindo uma ditadura do proletariado. Em Cuba, a propaganda oficial do Partido Comunista afirma que não há várias classes, mas apenas uma.
Para a extrema direita, o fundamental é a nação. Adolf Hitler queria construir um país para a raça que ele considerava superior, a ariana.
Entre os motivos para se dizer por aí que Adolf Hitler era de esquerda está o de que o Partido Nazista tinha como nome oficial Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.
O site de humor Sensacionalista explorou bem a questão etimológica com esse comentário:
“Com base nesse argumento, O Partido Social Cristão também seria de esquerda. E o cavalo-marinho, um equino”.
Até 1934, o Partido Nacional Socialista chegou a ter uma ala que podia se considerar como socialista. Seus líderes eram Otto e Gregor Strasser. Eles queriam a nacionalização de toda a indústria, propunham uma cooperação com a União Soviética e pediam o afastamento da alta burguesia do poder.
Gregor Strasser comandava a milícia SA, um braço armado dos nazistas. Desconfiado da influência de Strasser na SA, Hitler formou outra organização paramilitar, a SS, uma tropa de elite escolhida de dentro da SA para proteger a ele e a outros figurões do partido.
No dia 29 de junho de 1934, Gregor Strasser e os principais quadros da SA foram assassinados, no episódio que ficou conhecido como a Noite dos Longos Punhais.
“O corpo do ‘strasserismo’ se desfez com o fechamento das SA e a absorção de parte de seus homens pela SS. No Partido Nazista, somente o Fuhrer podia ter razão”, escreveram Demétrio Magnoli e Elaine Senise Barbosa, no livro O Mundo em Desordem (Record).
Nos diálogos entre Hitler e Strasser, em 1930, dá para ver facilmente que o primeiro não era comunista. Adolf Hitler apreciava a contribuição dos altos empresários que, como ele, não queriam ver os eventos dramáticos da Revolução Russa se repetirem na Alemanha:
“As grandes massas de operários não querem nada além de pão e diversão. Eles não entendem de idealismo. Nós nunca podemos contar com a possibilidade de obter um apoio considerável entre eles. O que queremos é um grupo de pessoas selecionadas da nova classe dominante, que – ao contrário de você – não estão preocupadas com sentimentos humanitários, mas que estão convencidas de que elas têm o direito de governar como uma raça superior e que poderá assegurar e manter seu domínio implacavelmente sobre as grandes massas “.