Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

É Tudo História

Por Amanda Capuano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
O que é fato e ficção em filmes e séries baseados em casos reais
Continua após publicidade

A história secreta que inspirou o filme ‘Victoria e Abdul’

Longa com Judi Dench mostra o relacionamento da rainha Victoria com o indiano Abdul Karim – amizade que a família real tentou apagar

Por Mariane Morisawa, de Los Angeles
Atualizado em 4 jun 2024, 18h26 - Publicado em 24 nov 2017, 11h30
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Sem querer, a jornalista Shrabani Basu encontrou um tesouro ao visitar a Casa Osborne, residência de veraneio da rainha do Reino Unido na ilha de Wight. Ela tinha pesquisado a história do curry e sabia que a rainha Victoria (1819-1901) apreciava a comida indiana e tinha empregados vindos do país, então uma colônia inglesa. Nessa visita, porém, um retrato do criado Abdul Karim, pintado em tons de ouro, vermelho e creme, segurando um livro nas mãos, chamou a sua atenção. “Ele parecia mais um nobre do que um empregado. Isso despertou minha curiosidade”, diz Shrabani em entrevista ao blog É Tudo História.

    Foi assim que ela desencavou um segredo enterrado desde a morte da rainha, que se tornou o livro Victoria & Abdul – The Extraordinary True Story of the Queen’s Closest Confidant (na tradução, “Victoria & Abdul – A Extraordinária História Real do Confidente Mais Próximo da Rainha”). Seu trabalho foi transformado no filme Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha, em cartaz no Brasil, com direção de Stephen Frears, Judi Dench no papel de Victoria e Ali Fazal como Abdul Karim.

    Para contar essa história, Shrabani passou quatro anos pesquisando, baseando-se nos diários da rainha e seus cadernos com aulas de urdu, idioma que Karim lhe ensinava, além dos diários de seu médico e documentos de outros membros da Casa Real. Ela também foi a Agra, na Índia, onde encontrou os descendentes de Karim, e descobriu seu diário perdido no Paquistão. “Sua história me levou a três palácios (Balmoral, Casa Osborne e Castelo de Windsor) e três países (Índia, Paquistão e Grã-Bretanha)”, conta a autora. Ela considera que o filme é 90% fiel aos acontecimentos relatados em seu livro e comenta a seguir os principais pontos da trama:

     

    Recrutamento

    foto 1
    (//Divulgação)

    Abdul Karim era escriturário na prisão de Agra, mas tinha sido útil na escolha de tapetes para uma exposição sobre a Índia que tinha acontecido. O superintendente da prisão tinha decidido enviar dois indianos para o Jubileu de Ouro da Rainha, a comemoração dos seus 50 anos no poder – na época, ela era Imperatriz da Índia também. “Abdul Karim era alto, inteligente e tinha um olho para a arte, por isso foi escolhido”, explica Shrabani, enfatizando que ele não tinha experiência em serviço doméstico. Mohammed Buksh, o outro servente, tinha recebido treinamento para servir a mesa e trabalhado com um marajá. No filme, o superintendente diz que teve de escolher Abdul às pressas porque o outro indiano alto tinha caído de um elefante. “Essa parte é ficção, para trazer um pouco de comédia”, diz.

     

    O jantar

    foto 2
    (//Divulgação)

    No filme, Karim e Buksh ficam num corredor apertado aguardando a vez de oferecer o mohur (medalha comemorativa) à rainha, enquanto serventes passam com os pratos do jantar. Na verdade, a entrega não foi feita durante o banquete. “Como criados, eles precisavam servir os pratos”, diz Shrabani. Um detalhe que chama a atenção — e provoca risos — é a rapidez da rainha para comer. Os nobres sentados à mesa precisam acompanhar o ritmo da monarca se quiserem se alimentar. “Ela terminava antes de todo o mundo, e os pratos de todos eram retirados”, conta a autora. No filme, ela também cai no sono entre um prato e outro, o que não é verdade. Mas é fato que, no Jubileu, em 1887, ela tinha 68 anos e já estava muito cansada.

    Continua após a publicidade

     

    A quebra de protocolo

    foto 3
    (//Divulgação)

    Antes de entregarem o mohur à rainha, Karim e Buksh recebem instruções precisas de como se comportar. Por exemplo, não podem jamais dar as costas a Victoria – outra cena cômica no filme – nem olhar para ela, permanecendo sempre de cabeça baixa. No filme, Karim olha para a rainha, o que aconteceu realmente. “Como qualquer jovem de 24 anos curioso faria, Abdul olhou para a rainha”, conta Shrabani.

     

    O Munshi e confidente

    foto 4
    (//Divulgação)

    “A rainha fica interessada em Abdul desde o princípio”, diz Shrabani. Assim, na vida real como no filme, logo ele está cozinhando curry para ela, que manda incorporar o prato ao cardápio do palácio. Em um ano, ele se torna seu Munshi, ou professor, dando-lhe aulas de urdu (na época chamado de hindustani). Ela lhe oferece o título para que Abdul tenha status na Casa Real. Victoria também providenciou aulas reforçadas de inglês para que pudessem se comunicar melhor. “O filme é bem fiel no retrato”, diz . Em pouco tempo, os dois viram amigos. “Victoria escreve à sua filha que ele é reconfortante”, conta a jornalista. “Ela fala sobre seus filhos problemáticos, enquanto Abdul conta sobre seu país e a filosofia oriental. Ela pede a Abdul para trazer sua mulher e até dá conselhos sobre concepção. Visita a casa dos dois frequentemente e sempre toma chá com a mulher do Munshi. Leva toda a realeza europeia para visitá-los em sua casa.” No filme, Abdul parece esconder ser casado, um segredo que, quando revelado, desconcerta a rainha por alguns minutos. Mas, na verdade, ela sabia desde sempre que Abdul tinha uma mulher.

     

    A manga e o trono

    foto 5
    (//Divulgação)
    Continua após a publicidade

    A rainha fica doida para provar uma manga após Abdul falar da fruta, que não era produzida na Grã-Bretanha. Ela pede que mandem um exemplar da Índia, que chega passada. “A história da manga é verdadeira. A Rainha realmente queria comer uma manga, mas levava seis semanas para chegar de navio, então ela sempre estava meio podre”, diz Shrabani. Abdul também conta sobre o Trono do Pavão, que a Rainha manda replicar no palácio. E descreve o Taj Mahal, que fica em sua cidade, Agra. “A rainha realmente escreveu que daria tudo para visitar o Taj Mahal. Ela nunca viajaria para a Índia, mas a Índia veio até ela na forma de Abdul Karim.”

     

    A noite no Glassat Shiel

    foto 6
    (//Divulgação)

    No filme, a rainha leva Abdul Karim para o Glassat Shiel, uma casa remota na Escócia, acessada por um lago. Isso aconteceu de verdade. “Foi significativo porque ela disse que jamais retornaria ao local após a morte de John Brown”, diz Shrabani sobre o confidente anterior da rainha. A relação de Victoria e Brown provocou muitos rumores na época e chegou a ser tema do filme Sua Majestade, Mrs. Brown (1997), de John Madden, também estrelado por Judi Dench.

     

    Fofoca no palácio

    foto 7
    (/)

    A amizade entre a rainha e Abdul resultou nas mesmas especulações que a relação de Victoria com John Brown – a soberana ganhou o apelido de Sra. Brown dos membros da Casa Real. No filme Victoria e Abdul, a família real, liderada por seu filho Bertie (Eddie Izzard), e a criadagem fazem fofocas sobre a rainha e seu Munshi. Shrabani acredita que não ocorreu nada além de amizade entre os dois. “Embora o aspecto físico fosse importante, já que Victoria gostava de um homem forte e alto a seu lado, cuidando dela, o relacionamento foi platônico e funcionou em níveis diversos. Ele era seu melhor amigo, e também uma espécie de filho para ela.” A rainha tinha consciência do ciúme da Casa Real em relação a Abdul, a quem dava presentes, terras e títulos. Ela também tratava bem os membros da família de Abdul – o sobrinho do indiano estudou na Inglaterra, por exemplo, seu cunhado ganhou um emprego. “A rainha cuida de todos e faz questão de que estejam bem acomodados”, diz a jornalista, que esmiúça a presença da família de Abdul Karim no livro, resumida no filme. Victoria também chamava a atenção dos empregados e da família. “Ela os acusa de racismo e preconceito de classe.”

    Continua após a publicidade

     

    A morte de Victoria

    foto 8
    (//Divulgação)

    No filme, Abdul Karim recebe permissão de entrar no quarto de Victoria quando ela está à beira da morte. “Na verdade, ele foi a última pessoa a vê-la antes do fechamento do caixão”, diz Shrabani. Durante o funeral, ele andou atrás das pessoas mais importantes.

     

    O apagamento de Abdul

    foto 9
    (//Divulgação)

    Após a morte da rainha, seu filho e herdeiro, Bertie, que seria coroado como rei Edward 7º, manda fazer uma busca na casa de Abdul Karim, queimando todas as cartas que trocou com a rainha. “Sim, é verdade, todas as cartas foram queimadas no lado de fora da casa de Abdul poucas horas depois do enterro da Rainha. Ele recebeu ordens de deixar o país imediatamente, assim como todos os outros indianos.” E quando Abdul morreu em 1909, oito anos após a rainha, Edward 7º mandou fazer duas buscas em sua casa em Agra, removendo cartões-postais e cartões de Natal assinados por Victoria. “Tentaram de todas as formas apagá-lo da história”, conta Shrabani. Mas a pintura e os diários e cadernos da rainha ficaram como chaves para a descoberta feita pela jornalista.

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.