Em 1972, um avião que levava um time de rugby uruguaio para uma competição no Chile caiu na Cordilheira dos Andes. O acidente, em local inóspito, levou os passageiros a recorrer a um último expediente para sobreviver: o canibalismo – fato que contribuiu para a popularidade do aflitivo caso nos últimos cinquenta anos. A Sociedade da Neve, novo filme da Netflix dirigido pelo espanhol J.A. Bayona, explora os desafios enfrentados pelos passageiros e as estratégias adotadas por eles, em clima de cooperação. Das 45 pessoas que viajavam no avião, 29 sobreviveram à queda e, ao fim de 72 dias, apenas 16 foram encontradas. Hoje, 14 estão vivas.
A maioria dos sobreviventes tinha por volta de 20 e poucos anos à época e hoje está na casa dos 70. Após retornarem às suas vidas “normais”, os rapazes terminaram seus estudos universitários, formaram suas famílias e se dividiram entre aqueles que rapidamente se tornaram vocais sobre o acidente, atuando como porta-vozes do Milagre dos Andes, e os que demoraram algumas décadas para vir a público com suas perspectivas pessoais. Nesse meio-tempo, vários membros do grupo publicaram livros sobre o caso e se tornaram palestrantes motivacionais, compartilhando as lições de resiliência aprendidas com a experiência traumática. Até hoje, os homens costumam se reunir em memória dos colegas mortos.
Fernando Parrado é uma das figuras mais populares ligadas ao caso. Ele retornou a Montevidéu após a tragédia, enlutado pela perda da mãe, Eugenia, e da irmã, Susy, que viajavam com ele e foram vítimas do acidente. Parrado dedicou alguns anos de sua vida ao automobilismo, chegando a disputar no Campeonato Europeu de Carros de Turismo pela equipe da Alfa Romeo. Deixando as corridas de lado, seguiu carreira como apresentador e produtor de televisão, logo tornando-se famoso por seus discursos motivacionais. Outra personalidade bastante conhecida é Roberto Canessa. Ele foi jogador da Seleção Nacional de Rugby e finalizou seus estudos de Medicina. Hoje é cardiologista infantil e figura bastante respeitada e premiada na área, além de professor acadêmico. Canessa tentou entrar para a política como candidato pelo Partido Azul nas eleições presidenciais uruguaias de 1994, sem sucesso.
Gustavo Zerbino, assim como Canessa, jogou na Seleção Nacional de Rugby e, posteriormente, chegou a presidir a URU (Unión de Rugby del Uruguay). Mais tarde, foi diretor de uma empresa química e esteve à frente de órgãos do setor farmacêutico. Antonio Vizintin também tornou-se empresário na indústria de produtos químicos, além de palestrante. Carlos Páez Rodríguez seguiu carreira como técnico agrônomo, que depois trocou pela publicidade. Ele chegou a enfrentar vício em álcool e drogas, desafio que qualificou como tão difícil quanto o de sobreviver nos Andes. Roberto ‘Bobby’ François também se dedica à prática agropecuária em seu rancho.
Alfredo Delgado tornou-se advogado e, diferente de vários dos colegas, se mantém discreto quanto a sua experiência pessoal no acidente. Roy Harley tornou-se engenheiro industrial, e um de seus filhos jogou no time dos Old Christians como o pai. Eduardo Strauch, por sua vez, tornou-se um arquiteto renomado de Montevidéu, além de pintor. Seu primo Adolfo, que o acompanhava na viagem, é mais um que atua no setor agrário, como fazendeiro de gado. Daniel Fernández, outro primo, também formado em agronomia, tornou-se empresário após o acidente e foi diretor de uma companhia de informática e tecnologia.
José Pedro Algorta concluiu seus estudos em Economia e foi viver na Argentina, trabalhando como diretor de uma fábrica de bebidas. Nos anos 2000, abriu sua própria consultoria, retornando ao Uruguai. Álvaro Mangino atuou em uma empresa de ar condicionado e é membro do conselho da equipe Old Christians Rugby, time em que os então rapazes jogavam nos anos 1970. Morou no Brasil por anos. Ramón Sabella, que era acompanhante no voo – do amigo Rafael Echavarren, morto na tragédia – chegou a viver no Paraguai e, após anos em silêncio em respeito às vítimas do acidente, tornou-se palestrante e empresário.
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