O que aconteceu de fato com os alunos brasileiros nessa pandemia? Eles perderam o que haviam aprendido? Ou estão atrasados em relação ao ponto em que deveriam estar? Não se trata de um preciosismo de semântica – uma coisa é perder o que já tivemos, outra coisa é encontrar-se aquém de onde deveríamos estar.
No início da pandemia, junto com os pesquisadores Thaís Barcellos e Matheus Gomes, da consultoria IDados, publicamos uma revisão de mais de 700 artigos científicos sobre o tema. Desde então estava claro, pelo menos para nós, que o problema a ser enfrentado seria o de atraso, e não de perda. E mais em Matemática do que em Linguagem.
Nos últimos meses, tivemos oportunidade de aplicar testes-diagnóstico sistemáticos e abrangentes em vários municípios, confirmando o que a revisão da literatura científica vem confirmando há quase um século: pouco perdemos do que já sabemos, e isso vale ao longo da vida e também durante epidemias.
Tenho acompanhado o que vem acontecendo em algumas dezenas de municípios e o que vem sendo divulgado a respeito de suas iniciativas. Tenho acompanhado também as recomendações de instituições e especialistas. Parece que a ficha não caiu. As pessoas compram e vendem ilusões com enorme facilidade. Tudo isso é parte da fragilidade da formação dos nossos educadores – e dos nossos especialistas em educação.
Em um artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo no dia 24 de outubro, apresento algumas reflexões sobre o tema. O que digo ali, em duas palavras: Primeiro, é difícil haver perdas, o que vemos é atraso escolar. Segundo, para recuperar as perdas são necessários diagnóstico preciso e intervenções adequadas no turno escolar, com foco nas disciplinas essenciais. É preciso recompor a base a partir de onde o aluno parou.