Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Em Cartaz

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Do cinema ao streaming, um blog com estreias, notícias e dicas de filmes que valem o ingresso – e alertas sobre os que não valem nem uma pipoca

A Diplomata e mais: as séries que expõem as agruras das mulheres no poder

Na atração da Netflix, uma embaixadora americana deve lidar com tensões geopolíticas — enquanto tenta controlar um marido que mete os pés pelas mãos

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 out 2024, 10h48 - Publicado em 26 out 2024, 08h00

Na hierarquia do mundo diplomático, o embaixador conta com respaldo de um vice, o qual é chamado de número 2. A nomenclatura ganhou significado extra na série A Diplomata, que lança sua segunda temporada na quinta-feira 31, na Netflix: Kate (Keri Russell) foi por muitos anos número 2 de Hal (Rufus Sewell), relação profissional que virou casamento — fazendo com que ela se tornasse coadjuvante dele também na vida pessoal. A dinâmica muda drasticamente quando Kate é promovida pela Casa Branca e enviada a Londres como embaixadora americana na Inglaterra. Ela vira número 1 e seu marido, sem função oficial, se resigna ao papel de cônjuge — ou de “esposa”, como ele diz vez e outra, reproduzindo o vocabulário machista desse universo. Às esposas, ou melhor, aos cônjuges, destinam-se tarefas como a decoração da casa e a organização de eventos. Hal se esforça para apoiar Kate, mas ele não foi talhado para o segundo plano — e ela, por sua vez, tem pouco gosto pelos holofotes. “Trocar o alfa e o beta de lugar pode causar desconforto a ambos”, disse Keri Russell em entrevista a VEJA.

NOVA TEMPORADA - Casal da série em cena: entre tapas, intrigas e beijos
NOVA TEMPORADA - Casal da série em cena: entre tapas, intrigas e beijos (./Netflix)

Na trama, o casamento conturbado anda em paralelo com tensões geopolíticas — tema que conecta um casal entusiasta da força da diplomacia. “É comum se apaixonar por alguém do trabalho que tem os mesmos interesses que você”, diz a criadora da série, Deborah Cahn. “Mas existe o perigo de que, um dia, essas pessoas discordem, se tornem rivais e até compitam pelo mesmo cargo.” Enredar nessa dinâmica o ego ferido de um homem obrigado a ser subserviente à esposa é um tempero extra do roteiro. “Hal é o fã número 1 de Kate. Ele não quer derrubá-la, mas quer ficar bonito na foto”, defende Rufus Sewell (veja a entrevista completa no vídeo a seguir).

Última fronteira da afirmação feminina, o poder político nas mãos de mulheres é tema de várias séries de TV recentes. De A Diplomata, passando pela cômica Veep à dinamarquesa Borgen e até a fantasiosa A Casa do Dragão, essas narrativas expõem estruturas antiquadas de ambientes de poder tipicamente masculino. Um exemplo peculiar da dinâmica é retratado em A Casa do Dragão: enquanto Rhaenyra Targaryen (Emma D’Arcy) briga por seu direito ao trono na série da HBO, ela enfrenta o ciúme do marido Daemon (Matt Smith), que almeja a coroa. Na segunda temporada, exibida neste ano, uma cena emblemática mostra o personagem à frente de um exército, se ajoelhando após muitas recusas perante Rhaenyra, assumindo sua submissão. Curiosamente, o mesmo ator encarnou outro príncipe obrigado a se curvar a uma rainha: Smith deu vida a Philip, cônjuge de Elizabeth II em The Crown, que não achava correto, em 1953, um marido se rebaixar perante a esposa — mesmo sendo a cerimônia de coroação dela. Por fim, ele se prostrou.

Continua após a publicidade
NA ESCANDINÁVIA - Borgen: mesmo na Dinamarca, o problema resiste
NA ESCANDINÁVIA - Borgen: mesmo na Dinamarca, o problema resiste (Mike Kollöffel/Netflix)

Já na hilária Veep, a protagonista Selina Meyer, vivida com acidez sulfúrica por Julia Louis-Dreyfus, é vice-­presidente dos Estados Unidos e almeja o emprego de seu chefe. Entre os percalços do caminho estão não só a própria política atrapalhada e sua equipe, mas seu ex — que posa de amigo, mas tenta se dar bem usando como ponte sua conexão com a segunda pessoa mais poderosa do país. Quando Kamala Harris foi de vice-­presidente a presidenciável nas eleições americanas, logo surgiram comparações com Veep: em determinado ponto da série, o presidente renuncia, passando a Selina o bastão e fazendo dela a primeira mulher na Presidência americana — conquista que, até agora, se resume ao campo da ficção. Na vida real, Harris depara com roteiros não tão cômicos — que chancelam a ideia por trás dessas séries: no esgoto da internet, seu marido, Douglas Emhoff, é chamado de frouxo e daí para baixo por apoiar a candidatura da esposa. Se ela ganhar, Emhoff vai assumir o título inédito na história do país de primeiro-cavalheiro.

CIÚME - A Casa do Dragão: demorou, mas ele se ajoelhou diante da rainha
CIÚME - A Casa do Dragão: demorou, mas ele se ajoelhou diante da rainha (./HBO)
Continua após a publicidade

A máquina do machismo, claro, está presente nessas séries — e o brilhantismo de cada roteiro reside em contornar o assunto sem lhe dar tanta atenção, mas não deixar que ele vença. A série dinamarquesa Borgen faz isso com primor ao mostrar que nem em um dos países mais desenvolvidos do mundo uma primeira-ministra passa imune ao julgamento masculino. Já em A Diplomata, Kate é constantemente cobrada por sua aparência e esboça sorrisos educados ao ouvir comentários sexistas de homens em posições superiores — a postura sagaz sempre antecede alguma ação da qual ela sairá por cima.

HILÁRIA - Veep: as intempéries de uma vice-presidente americana
HILÁRIA - Veep: as intempéries de uma vice-presidente americana (./HBO)

Assim, Kate e companhia quebram outro estigma das mulheres poderosas: elas se dão a chance de serem femininas e polidas, e ainda perspicazes e decididas — características que seriam sinal de fraqueza para pioneiras como Margaret Thatcher (1925-2013). A ex-primeira-ministra inglesa assumiu posturas até mais rígidas que as de seus colegas homens para reforçar a autoridade. O preço do poder é alto — e elas estão dispostas a pagá-lo.

Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2024, edição nº 2916

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.