A guinada do astro cristão que foi um dos maiores rebeldes de Hollywood
De bad boy na música pop e nas telas, ator ficou amigo de Mel Gibson - com quem faz parceria em filme recente - e passou a abraçar a religião

De mansinho, após passar praticamente despercebido pelos cinemas nacionais em janeiro, um filme revelador ficou disponível para aluguel no Prime Video e na AppleTV. Não que Ameaça no Ar seja lá um thriller muito memorável: na verdade, é um tanto frugal a história do assassino que se faz passar por piloto para sequestrar um avião de pequeno porte que leva a bordo uma oficial do Departamento de Justiça americano e a testemunha de um caso importante, explorando a tensão e a adrenalina do embate entre os três dentro do teco-teco. O que chama atenção são os talentos envolvidos na empreitada. Na direção, ninguém menos do que Mel Gibson, ator que virou persona non grata em Hollywood por seus arroubos racistas, misóginos e antissemitas — e que agora, quem diria, encontra uma chance de redenção na maré conservadora do segundo mandato de Donald Trump. Mais surpreendente ainda, contudo, é quem topou assumir o papel do vilão histriônico do filme em razão da amizade e até de certa afinidade espiritual com Gibson: Mark Wahlberg, astro que já foi do primeiro time do cinema americano e hoje tenta se reinventar de forma peculiar.
Como Mark Wahlberg ficou famoso?
Wahlberg, para quem não se lembra, despontou para a fama com uma altíssima carga de rebeldia. Primeiro, ele foi Marky Mark, rapper que causou barulho nas paradas no começo dos anos 1990. Logo explodiu como garoto-propaganda de cuecas da marca Calvin Klein, exibindo o corpo torneado de forma insinuante. A ura de bad boy ganhou mais uma camada e tanto quando protagonizou Boogie Nights, no papel do sugestivo protagonista do filme cult de Paul Thomas Anderson: um ator pornô famoso pela alta, digamos, calibragem de seus instrumento de trabalho.
O ponto de virada do ator
Aos 53 anos e depois de construir um currículo vasto que vai da comédia a filmes de prestígio, Wahlberg anda meio apagado — e, no meio tempo, vem cultivando uma sólida relação com Gibson. Não só por força do trabalho. Nascido numa família irlandesa e católica de Boston, o ator reencontrou sua fé cristã nos últimos anos — e o empurrão do mentor Gibson, igualmente católico e diretor do controverso A Paixão de Cristo (2004), foi importante nessa jornada. Wahlberg já apareceu numa edição do tradicional programa Good Morning America exibindo com orgulho a cruz da Quarta-feira de Cinzas inscrita em sua testa; deu entrevistas denunciando o preconceito dos liberais de Hollywood contra os artistas cristãos; veio a público renegar, ironicamente, até mesmo seu papel picante em Boogie Nights; hoje, por fim, tem até uma parceria com o aplicativo de pregação católica Hallow.
Em Ameaça no Ar não há nenhuma demonstração explícita de religiosidade, mas sinais aqui e ali entregam seu embarque na nave cristã-conservadora: seu vilão — para o qual ele se caracteriza com uma orgulhosa careca — tem o perfil típico de um homem banco de família, como fica claro no modo como ele lida com a oficial vivida por Michelle Dockery. Mais emblemático de seu mergulho recente na fé é o trabalho anterior que o próprio Wahlberg produz, protagoniza e co-roteiriza –e foi feito com o intuito escancarado de ser um filme religioso. O longa Lenda pela Fé (Father Stu), lançado em 2022 e inspirado num personagem real, fala de um lutador de boxe que supera seus tormentos ao descobrir a conexão com Deus, e vira um padre. Quem faz seu pai em cena é — ele de novo — Mel Gibson. Como diz um ditado muito caro aos cristãos: dize-me com quem andas e te direi quem és.
Confira trailers dos trabalhos mais recentes do ator: