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A visão humanista sobre drama dos imigrantes no filme ‘O Brutalista’

Diretor do filme a VEJA: ‘A arquitetura canaliza sentimentos’

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 fev 2025, 12h45 - Publicado em 14 fev 2025, 06h00

Um dos prédios mais imponentes de Washington, capital dos Estados Unidos, o J. Edgar Hoover Building, inaugurado em 1975, foi feito especificamente para abrigar o FBI, agência de inteligência e segurança do país. Em seu primeiro mandato, Donald Trump deixou claro odiar a construção de linhas retas, com janelas quadradas abundantes e concreto aparente, que ocupa um quarteirão inteiro — e chegou até a sugerir que ela fosse demolida para dar lugar a outra mais “bonita”. “É um prédio do tipo brutalista, sabe? Honestamente, é um dos mais feios da cidade”, disse o mandatário em 2018. Seu plano não saiu do papel — por questões orçamentárias e de segurança nacional, óbvio. As obsessões delirantes de Trump já não chocavam mais o cineasta americano Brady Corbet, mas a aversão ao estilo arquitetônico chamou sua atenção. “Me fascina a ligação entre ideologia e estética. Elas não possuem conexão óbvia, mas se relacionam e raramente prestamos atenção nisso”, disse o diretor a VEJA (leia a entrevista).

Essa foi a semente do filme O Brutalista (The Brutalist, Estados Unidos/Reino Unido/Canadá, 2024), que estreia nos cinemas na quinta-feira 20, vitaminado por dez indicações ao Oscar (confira o quadro). Na trama, o arquiteto judeu László Tóth, papel de Adrien Brody, deixa Budapeste, na Hungria, e chega a Nova York em 1947. Sobrevivente do Holocausto, ele vai para os Estados Unidos com o anseio de deixar os horrores da Segunda Guerra Mundial para trás e com a crença no tal sonho americano de viver em um país livre, tolerante e próspero. As adversidades, porém, se revelam maiores do que as oportunidades — mesmo quando um ricaço, vivido por Guy Pearce, o contrata para desenhar um enorme centro cultural, que será, como sugere o título do filme, de contornos brutalistas.

CONTROVÉRSIA - O ator e Felicity: sotaque com inteligência artificial
CONTROVÉRSIA - O ator e Felicity: sotaque com inteligência artificial (./Universal Pictures)

Nome forte na corrida pelo Oscar de direção — e o mais jovem entre os indicados na categoria em 2025, com 36 anos —, Corbet acha irônico que Trump esteja de volta ao poder quando seu filme, enfim, chega aos cinemas. Na sua visão, a antipatia do presidente ao brutalismo está em consonância também com sua caça aos imigrantes ilegais. O paralelo é metafórico, mas faz sentido. O estilo arquitetônico austero proliferou especialmente em prédios públicos pelo mundo na segunda metade do século XX, quando os recursos ficaram escassos na economia abalada pelo pós-guerra. Contraditório, o brutalismo é, ao mesmo tempo, grandioso e modesto. É também resistente e funcional, mas com pontos que aparentam vulnerabilidade. Em São Paulo, o Masp, de Lina Bo Bardi, é um belíssimo exemplo inspirado no estilo: um enorme bloco de concreto sustentado apenas por quatro colunas laterais. Ou seja, as construções brutalistas são um exercício de força e resiliência — características que espelham a dura experiência dos imigrantes: capazes de atravessar distâncias e vencer desafios, muitos enfrentam obstáculos fatais e, no destino final, ainda encaram os reveses do preconceito. São vulneráveis e marginalizados, mas seguem de pé.

arte Oscar

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A trajetória é a mesma de László. Livremente inspirado no arquiteto e designer de móveis húngaro Marcel Breuer (1902-1981), o personagem representa os milhares de judeus que buscaram abrigo nos Estados Unidos durante a guerra. É essa também a história por trás de vários envolvidos no filme. Corbet é descendente de irlandeses e húngaros e possui ascendência judaica por parte da mãe. Adrien Brody, um favorito ao Oscar de melhor ator, é filho de refugiados judeus húngaros nos Estados Unidos e cresceu no Queens, bairro nova-iorquino de ampla diversidade étnica. “Transformar um novo país em um lar e reconstruir sua vida é uma experiência que vi de perto”, disse a VEJA o ator americano, que ganhou um Oscar ao interpretar, aliás, outro sobrevivente da perseguição nazista no clássico O Pianista (2002).

MECENAS - Brody e Guy Pearce: o artista e o magnata em relação conturbada
MECENAS - Brody e Guy Pearce: o artista e o magnata em relação conturbada (./Universal Pictures)

O processo criativo de László expia dores do passado e angústias do presente, fazendo do prédio uma manifestação de seus traumas. A relação tóxica com Lee Van Buren, o magnata que o acolhe, é de altos e baixos: influente, ele ajuda a reunir o arquiteto e sua esposa, Erzsébet (Felicity Jones), separados no campo de concentração. Van Buren, porém, inveja o talento do empregado e o trata como posse. Com 3 horas e 34 minutos de duração — incluindo nesse tempo quinze minutos de intervalo —, O Brutalista é um drama histórico inteligente, duro e que demanda atenção. Não à toa, divide opiniões — o que foi acentuado com a revelação do uso de inteligência artificial para amenizar o sotaque do casal protagonista nas falas em húngaro.

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Mesmo não sendo um consenso, O Brutalista é um colosso. Feito com apenas 10 milhões de dólares — um troco se ponderados a magnitude do filme e os orçamentos de concorrentes (Duna: Parte 2 custou 190 milhões) —, o longa independente se mostra igual à corrente arquitetônica que homenageia: trata-se de uma obra sobre a qual é impossível ficar indiferente. Como o talentoso László, O Brutalista é um notável e incômodo estranho no ninho de Hollywood.

“A arquitetura canaliza sentimentos”

O diretor Brady Corbet falou a VEJA sobre o processo de fazer O Brutalista.

NO SET - O diretor (ao centro): filme demorou sete anos para ser concluído
NO SET - O diretor (ao centro): filme demorou sete anos para ser concluído (./Universal Pictures)
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De onde vem seu interesse por arquitetura? Um tio meu era arquiteto e eu até pensei em seguir a profissão. Assim como a arte, a arquitetura é capaz de canalizar sentimentos. Me chamou a atenção também como os diferentes estilos são amados ou odiados por políticos, como Trump — que quis derrubar o prédio do FBI.

Qual sua conclusão a respeito? Ideologia e estética não têm conexão óbvia, mas se relacionam e raramente prestamos atenção nisso. É comum, por exemplo, que autocratas odeiem prédios modernistas, mas amem o neoclássico (movimento artístico europeu do século XVIII de linhas greco-romanas).

Qual sua opinião sincera sobre construções brutalistas? Existem prédios lindos e outros horrorosos, que parecem um estacionamento. Mas meu interesse no movimento é como ele foi moldado pela psicologia do pós-­guerra. O filme é sobre esse trauma e o que nasce da criatividade que testemunhou horrores.

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Por que o intervalo de quinze minutos dentro do filme? Porque precisamos esticar as pernas e ir ao banheiro. Existem dificuldades técnicas para os exibidores, no sentido de parar o filme e acender luzes para um intervalo. Colocar essa pausa dentro do filme, com um relógio, facilitou o processo. No meu próximo filme, se for longo assim, vou colocar dois intervalos.

Publicado em VEJA de 14 de fevereiro de 2025, edição nº 2931

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