As 6 lições de civilidade que Fernanda Torres deu ao Brasil
Corrida da brasileira pelo Oscar por 'Ainda Estou Aqui' foi marcada por elegância e carisma

Mesmo sem ter ganhado o Oscar de melhor atriz por Ainda Estou Aqui, Fernanda Torres deu ao Brasil seis valiosas lições de civilidade durante a campanha, provando que seu talento é sustentado por qualidades que vão muito além da tela. Confira:
Menos é mais
No longa dirigido por Walter Salles, Fernanda interpreta Eunice Paiva, viúva do ex-deputado Rubens Paiva, que foi sequestrado, torturado e morto por agentes da ditadura militar. Sua atuação contida na maior parte do filme foi capaz de passar para o público todos os sentimentos de angústia e tristeza que a personagem sentia. No filme, Eunice explode somente uma vez, quando enfrenta agentes que faziam vigia sobre sua família, sem precisar de exageros para contar uma história tão revoltante quanto a da família Paiva. As escolhas dos figurinos de Fernanda Torres para os eventos de campanha também sempre foram minimalistas, mas deslumbrantes. Tons sóbrios e escuros foram escolhidos para não desviar a atenção do filme, além de homenagear Eunice.
Elegância acima de tudo
A elegância da atriz também foi além dos tapetes vermelhos. O brasileiro é um povo muito emocional, que se apega facilmente a qualquer celebridade que demonstre um carinho pelo Brasil. O ódio funciona da mesma forma, com chuvas de ataques pelas redes sociais. Antes de Karla Sofía Gáscon tentar manchar a campanha da brasileira ao insinuar que sua equipe e pessoas próximas a ela estavam a atacando, a espanhola pediu socorro para a intérprete de Eunice Paiva. Rapidamente, lá estava Fernanda Torres gravando um vídeo em que pedia para que as pessoas não perseguissem nenhuma das atrizes concorrentes ao Oscar. Karla não repostou, nem agradeceu, mas teve a própria reputação afundada quando tuítes antigos de teor racista, xenofóbico e antissemita foram resgatados em suas redes.
Bom-humor combina com seriedade
Ao longo das entrevistas, Torres não abriu mão de seu carisma e bom humor para falar de um assunto sério como a ditadura. Nos minutos que teve disponíveis ao conversar com Jimmy Kimmel, por exemplo, a atriz explicou a trama de Ainda Estou Aqui, como a história de Eunice Paiva é fácil de gerar empatia e ainda a relação da ditadura militar brasileira com a Guerra Fria — um contexto mais fácil para os americanos entenderem. E ainda por cima contou a anedota de ter sua mala revistada em um aeroporto americano e questionada sobre seu troféu do Globo de Ouro, provocando risadas da plateia e dobrando Kimmel.
Sem suor, não há talento que resista
Fernanda atua desde os 13 anos, mas teve uma carreira mais focada na comédia, com papéis em séries humorísticas como Tapas e Beijos e Os Normais. Por isso, a atriz não teve vaidade e procurou a preparadora de elenco Helena Varvaki para estudar o papel dramático de Ainda Estou Aqui e treinou arduamente por um mês antes da reunião do elenco. O resultado primoroso resultou na vitória do Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar. A VEJA, Helena destacou a dedicação da filha de Fernanda Montenegro: “Como atriz, ela é imensa em vários âmbitos. O que senti desde o começo foi uma enorme disponibilidade, um atributo de grandes atrizes. Fernanda trabalhou intensamente. Ela se permitiu ficar vulnerável”.
A vida vale mais que um prêmio
Apesar da amarga derrota para Mikey Madison, de Anora, a atriz pode se orgulhar — enquanto é aclamada por todo país — de sua trajetória de respeito e coerência. Fernanda, afinal, não é estrela de um filme só: do cinema ao teatro, ostenta uma sólida e brilhante trajetória gestada nos tempos em que acompanhava a mãe e o pai, Fernando Torres, nas coxias dos palcos. A vida da intérprete poderia tomar um rumo diferente caso ganhasse o Oscar, mas seu patrimônio imaterial como atriz é muito maior do que um prêmio americano. O saldo da corrida em Hollywood é positivo, provou a potência da atriz lá fora, mas é no Brasil que Fernanda será eternamente valorizada.
Ter o pé no chão é importante
Desde o início da corrida pelo Oscar, Fernanda, humildemente se manteve com os pés no chão. A atriz deixou claro que vencer seria praticamente impossível e ressaltou várias vezes os obstáculos para se conquistar o troféu com um filme em língua portuguesa — feito que permanece inédito. Além disso, apostava abertamente na vitória de Demi Moore, a favorita por A Substância. Com um discurso pessimista, ela pretendia poupar o público — e talvez a si mesma — da frustração. Mas sem muito sucesso, já que o país inteiro criou expectativas. No final, a lição que fica é: sonhar é importante, mas manter a conexão com a realidade também.
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