Entre 1963 e 1967, o fotojornalista americano Danny Lyon se embrenhou no clube de motoqueiros Chicago Outlaws para registrar os hábitos e o estilo de vida do grupo. Os membros eram principalmente homens de meia-idade deslocados e solitários, que compartilhavam o gosto por motos e pela subversão das regras. Eles viajavam juntos, faziam churrascos, gostavam de uma briga e desafiavam a polícia ao dirigir em alta velocidade. Aos poucos, no entanto, os arruaceiros quase inofensivos viraram uma grande ameaça à segurança. A experiência de Lyon resultou no elogiado livro-reportagem The Bikeriders (1967), vertido no filme O Clube dos Vândalos (The Bikeriders, Estados Unidos, 2023), em cartaz nos cinemas.
Exalando graxa e testosterona, o longa é dirigido pelo americano Jeff Nichols, nome que, em uma Hollywood dominada por franquias, ganhou respeito ao explorar as particularidades dos rincões do Sul e do Meio-Oeste dos Estados Unidos em tramas originais. Para chamar atenção, o elenco é carregado de estrelas. Austin Butler, que brilhou como Elvis, assume a pose de bad boy ao lado do veterano Michael Shannon, da estrela de The Walking Dead Norman Reedus e do talentoso Tom Hardy, no papel de Johnny, líder do clube — na adaptação, os Outlaws são rebatizados como Vândalos de Chicago.
Paixão por Motos – Jean-Louis Basset
Qualquer um dos motoqueiros seria uma escolha óbvia para narrar a história tão masculina, mas Nichols optou por um ponto de vista original: interpretada pela ótima Jodie Comer (de Killing Eve), a desbocada Kathy é quem destrincha os eventos para o repórter (vivido por Mike Faist), com uma dose de humor ácido e outra de empatia, mas sem perder o olhar crítico. “A Kathy tem uma visão privilegiada sobre o grupo”, disse a atriz a VEJA. “São homens de outra época, com dificuldades em lidar com suas emoções e de falar sobre isso, mas ela tem essas ferramentas.” Kathy é a esposa de Benny, papel de Butler. Os dois formam um triângulo peculiar com Johnny: ele quer Benny como seu pupilo e sucessor, enquanto a esposa insiste que o rapaz deixe o clube conforme o clima começa a pesar.
Vietnã: Uma tragédia épica – Max Hastings
A mudança de reunião de amigos do barulho para uma gangue criminosa se dá com o aumento do grupo. O negócio ganha escala ainda mais perigosa quando a trupe é reforçada pela entrada de ex-soldados traumatizados da Guerra do Vietnã. As detenções por racha evoluem para tráfico de drogas, porte de arma e assassinatos, fazendo dos Vândalos uma facção violenta e na mira da polícia. A virada pode ser lida pelo simbolismo da motocicleta. “É um veículo lindo, que representa a liberdade, mas que também pode matar. Por que o ser humano gosta do perigo? Não sabemos”, diz o diretor, Nichols. O fato é que muitos derrapam feio por causa dessa paixão.
Publicado em VEJA de 21 de junho de 2024, edição nº 2898