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Como ‘Anatomia de Uma Queda’ se tornou queridinho do Globo de Ouro

Após conquistar a Palma de Ouro em 2023, filme foi alçado à distribuição internacional e encantou figuras como Barack Obama com suspense de tribunal

Por Thiago Gelli Atualizado em 8 Maio 2024, 17h03 - Publicado em 8 jan 2024, 14h33
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  • Em maio de 2023, a cineasta francesa Justine Triet competia pela segunda vez à Palma de Ouro — troféu máximo do Festival de Cannes —, apenas quatro anos após a recepção morna de seu filme anterior, Sibyl. Modesta, ela apresentou o drama de tribunal Anatomia de Uma Queda em competição contra ícones como Wes Anderson, Nanni Moretti, Catherine Breillat, Todd Haynes e mais — e, surpreendentemente, levou a melhor.  Foi apenas o primeiro passo para que o longa se tornasse um fenômeno internacional e uma das maiores promessas para a temporada de premiações de 2024, na qual deve ser indicado às principais categorias do Oscar, como melhor filme e melhor atriz. Na noite de domingo, 7 de janeiro, o Globo de Ouro foi bom presságio — encheu as duas mãos da cineasta com troféus, um pelo roteiro e um por melhor filme em língua não-inglesa. Na plataforma Google Trends, que indica as tendências do buscador, o filme ficou entre os assuntos relacionados à cerimônia mais buscados da noite de domingo no Brasil – atrás apenas de Taylor Swift.

    Em 2 horas e 30 minutos, Anatomia de Uma Queda conta a história de Sandra Voyter (Sandra Hüller), uma escritora de ficção alemã casada com um colega de profissão francês. Mãe do menino Daniel (Milo Machado Graner), que perdeu parte da visão em um acidente, ela leva uma vida pacata em uma casa no interior da França, onde as paisagens não destacam muito mais do que neve. Um belo dia, a protagonista encontra algo diferente no entorno branco de seu lar: o corpo de seu marido, morto após cair do último andar da residência. A partir daí, um enervante julgamento em torno do acontecido vira sua rotina de cabeça para baixo — e ela deve provar sua inocência para a Justiça.

    Vagaroso, mas assertivo, o filme intensifica o suspense e choca com conflitos do cotidiano centrados em papéis de gênero e nas falhas comuns de um casamento. Assim, a estrutura caótica e agressiva do tribunal, que busca por um culpado definitivo por meio de especulações oportunistas e sem nuance, encontra a riqueza da escrita de Triet, que constrói Sandra como uma mulher multifacetada e imperfeita, repleta dos dotes que configuram anti-heróis do cinema já vividos por atores másculos como Al Pacino e Daniel Day Lewis. Mãe e esposa imperfeita, ela transforma a advocacia francesa em palco para discussões sobre papéis tradicionalmente femininos e expõe o julgamento como uma batalha de narrativas, tão influenciado por clichês sociais quanto um debate literário ou uma obra de entretenimento.

    Para além da qualidade técnica, porém, outro possível atrativo que o aproxima ao público americano é a língua. Pouco fluente em francês, Sandra utiliza o inglês com a família e até com os juristas que a analisam ao longo do filme, reduzindo a quantidade de legendas que anglófonos são obrigados a encarar. Tal elemento afastou o filme do comitê de seleção da França, que optou por O Sabor da Vida como concorrente do país à vaga no Oscar — decisão que não deve impedir Anatomia de figurar em outras categorias.

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    Difícil de negar, o brilhantismo conquistou até Barack Obama, que o listou como um dos melhores filmes do ano. Quanto a outras láureas, o longa já conta com três indicações ao Critic’s Choice Awards, uma ao Independent Spirit e três ao Satellite, além de ter vencido dois prêmios Gotham.

    Anatomia de Uma Queda foi exibido no Brasil por mostras locais e pelo Festival Varilux de Cinema em 2023 e retorna às salas nacionais em 25 de janeiro.

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