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Como o Coringa se tornou, erroneamente, um símbolo reacionário

Testemunhas afirmam que o ex-candidato do PL, que morreu em atentado ao prédio do STF, vestia um terno como o do personagem

Por Da Redação 14 nov 2024, 14h21
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  • *O texto a seguir contém spoilers dos filmes Coringa e Coringa: Delírio a Dois

    Na noite desta quarta-feira, 13 de novembro, o chaveiro e ex-candidato a vereador pelo Partido Liberal Francisco Wanderley Luiz dirigiu até a Praça dos Três Poderes em Brasília com explosivos em seu porta-malas e, pouco tempo depois, morreu por “autoextermínio com explosivo”, sem deixar outros feridos ou danificar o patrimônio público. Principal tópico de discussão nas redes sociais, o atentado tem chamado atenção também pela vestimenta do homem, que optou por um terno verde coberto por símbolos e naipes, visual interpretado como referência ao personagem Coringa. Sendo ou não a roupa do chaveiro uma escolha de fato ligada ao vilão dos quadrinhos Batman, fato é que, desde 2019, com o filme Coringa, o personagem se tornou representante de subculturas reacionárias como a “Incel” — abastecida por jovens de direita no espaço digital.

    Por que o Coringa é visto como símbolo reacionário?

    No filme de 2019 dirigido por Todd Philips, o Coringa é representado como o recluso e perturbado Arthur Fleck, oprimido pela mãe e incapaz de se conectar com outras pessoas, feito a vizinha que cobiça. Ao longo da trama, ele sucumbe à insanidade e a abraça como movimento contrário às mazelas sociais que o afligem, até chegar ao ponto em que realiza um assassinato ao vivo em rede nacional, inspirando milhares de espectadores a seguir seus passos. O ato anárquico e caótico representava a origem trágica de um vilão a partir da pobreza e do isolamento. Parte do público interpretou o filme como uma glamourização perigosa da violência; já outros viram na produção um endosso contra o politicamente correto.

    A reação alarmista fez com que muitos temessem tiroteios públicos e demonstrações de violência inspiradas pelo filme. Por este motivo, o cinema na cidade de Aurora, Colorado, onde doze pessoas foram mortas por um atirador em 2012 se recusou a exibir a obra. Na época, o diretor Todd Phillips negou explicar suas intenções, mas disse perceber com a discussão que “a extrema-esquerda facilmente se iguala à extrema-direita quando quer”. O ator Joaquin Phoenix, por sua vez, disse que “não é o papel do cineasta ensinar moralidade” e que “se o espectador não sabe a diferença entre certo e errado, então chegará a todo tipo de conclusão de acordo com a própria vontade”. Desde então, o personagem pode ser visto em conteúdos relacionados à insatisfação da direita.

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    Por que Coringa não deve ser um ícone extremista? 

    Apesar das respostas vagas dadas na ocasião, a equipe por trás do filme encarou o debate de frente cinco anos depois com o lançamento de Coringa: Delírio a Dois. Situado no julgamento do personagem pelos crimes cometidos, o filme não poderia ser mais didático sobre sua intenção. Ali, o personagem fica dividido entre os conselhos parcimoniosos da advogada Maryanne (Catherine Keener) — que quer que ele seja reconhecido como insano pelo júri — e a manipulação de Lee (Lady Gaga), uma admiradora de seu trabalho criminoso, que o seduz e tenta convencê-lo a se tornar Coringa por tempo integral, sempre voraz, violento e subversivo. Farsante abastada, a personagem finge ter uma criação tão conturbada quanto a dele para que o homem vulnerável acredite que a única fuga da opressão é o caos. Perto do clímax, contudo, Fleck percebe não ser o ícone que a amada espera. Na cena final, ele é assassinado por um colega de prisão realmente maníaco e sorridente, cuja postura indica se tratar do verdadeiro Coringa maniqueísta dos quadrinhos. Longe das expectativas dos fãs, a sequência foi mal de bilheteria: arrecadou 206 milhões de dólares, 800 milhões a menos que o antecessor.

    O atentado à Praça dos Três Poderes

    O Boletim de Ocorrência da Polícia Civil diz que “o indivíduo trazia consigo uma mochila e estava em atitude suspeita em frente à estátua, colocou a mochila no chão, tirou um extintor, tirou uma blusa de dentro da mochila e a lançou contra a estátua. O indivíduo retirou da mochila alguns artefatos e com a aproximação dos seguranças do STF, abriu a camisa os advertiu para não se aproximarem”. Depois disso, deitou no chão e esperou a bomba explodir. Chaveiro em Rio do Sul, cidade de Santa Catarina, Francisco Wanderley Luiz concorreu a vereador em 2020 com o nome Tiü França e recebeu 98 votos. Antes da morte, ele utilizava as redes sociais para criticar o judiciário e já havia ameaçado plantar bombas em casas de “comunistas” e no prédio do STF.

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