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Conclave: filme indicado ao Oscar expõe segredos da eleição do papa

Longa transforma em thriller político os bastidores da eleição mais secreta do mundo

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 jan 2025, 11h50 - Publicado em 24 jan 2025, 06h00

Sede vacante. O trono da Santa Sé está vazio.” Com essa afirmação iniciada em latim, um cardeal sênior do Vaticano encerra o ritual privado que declara a morte do papa. O período de duas semanas de luto é ínfimo para o sacerdote que carrega consigo o título de decano do Colégio Cardinalício: é dele a responsabilidade de conduzir a eleição que apontará quem será o próximo chefe supremo da Igreja Católica — grupo religioso que soma 1,3 bilhão de fiéis no mundo. No filme Conclave (Reino Unido/Estados Unidos, 2024), em cartaz nos cinemas, tal peso recai sobre o cardeal Lawrence (Ralph Fiennes). Semanas antes, em crise de fé, ele pediu ao papa que o liberasse do cargo e concedesse a aposentadoria fora de Roma. O pontífice negou: Lawrence tinha o chamado divino para a administração e sua presença no Vaticano era essencial. Ao longo do conclave, essa habilidade não só será posta em xeque como ainda vai exigir que o protagonista assuma outra faceta inesperada: a de investigador. Há algo de podre no Vaticano — e o próximo homem mais poderoso da Igreja deve ser imaculado. Resta a dúvida: existirá alguém puro entre os candidatos?

COADJUVANTE DE LUXO - Isabella Rossellini: uma madre que todos temem
COADJUVANTE DE LUXO - Isabella Rossellini: uma madre que todos temem (Focus Features/Divulgação)

O dilema moral conduz a trama dirigida pelo alemão Edward Berger, do premiado Nada de Novo no Front, de 2022. Nome forte no Oscar neste ano, Conclave é um exemplar primoroso entre as produções que se propõem a investigar os bastidores da instituição religiosa mais poderosa do mundo: um thriller político que examina não só as forças em choque na Igreja, como a personalidade, as ideias e o caráter do ser humano elevado ao posto de papa. Cercada de discrição e reverência, a figura do líder supremo do catolicismo suscitou retratos ousados no cinema e na TV nos últimos anos, da ácida série The Young Pope (2016) ao filme Dois Papas (2019), em que o diretor brasileiro Fernando Meirelles imagina a amizade pouco convencional entre os papas Francisco e Bento XVI (1927-2022) — quando, pela primeira vez na história, o Vaticano abrigou dois pontífices, um em atividade e o outro aposentado, e mais opostos que água e vinho. No final das contas, é a exposição das intrigas e pecados no Vaticano que dá liga ao filão. Caso magistral é o do filme O Sequestro do Papa (2023), do italiano Marco Bellocchio, que resgata o despotismo condenável do papa Pio IX no século XIX, ao tirar uma criança judia de sua família para ser criada pela Igreja.

Nessa leva, Conclave se impõe como o roteiro mais intrigante e afiado ao retratar as sutilezas que rondam a fé cristã, assim como as divergências de um clero que, em última instância, é formado por humanos com qualidades e defeitos, opiniões distintas e vulneráveis à tentação advinda do poder. Adaptação do livro de mesmo nome do autor inglês Robert Harris — obra igualmente valorosa —, Conclave é ainda um deslumbre visual e um palco de talentos luxuosos. Além de Fiennes, desfilam de batinas escarlate os atores Stanley Tucci, John Lithgow, Sergio Castellitto e Lucian Msamati na pele de quatro cardeais que sobressaem como possíveis papas. Rouba a cena, ainda, a italiana Isabella Rossellini, como a madre superiora responsável pelas freiras que cuidam dos afazeres domésticos e da alimentação dos cardeais no confinamento.

Roupas são inspiradas no antigo vestuário dos cardeais, com tecidos e materiais datados do século XV
LITURGIA - Fiennes e Tucci: os cardeais que votam podem ser eleitos papas (./Divulgação)
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Ao fundo, os cenários que emulam o Vaticano são uma combinação entre cenas feitas em estúdio e locações reais — como o Ospedale di Santo Spirito, o hospital mais antigo da Europa, e palácios barrocos do século XVII, todos em Roma. A Capela Sistina, claro, é o principal ambiente do filme, por ser a sede histórica do conclave. Mas, como não se pode filmar no santuário cujo teto exibe obras-primas do mestre renascentista Michelangelo como A Criação de Adão e o Juízo Final, e é visitado por milhões de turistas anualmente, o filme recorre a um velho truque: o uso de sua reprodução perfeita no célebre estúdio italiano da Cinecittà. Produções como Dois Papas e The Young Pope também foram feitas lá.

Mais que locação poderosa, a capela é um personagem de Conclave. Sob os olhos das figuras míticas estampadas nas paredes e no teto, o grupo de 108 cardeais segue diversas regras e liturgias durante o processo. O voto é secreto e o papa eleito deve atingir a maioria de dois terços mais um. Qualquer cardeal ali presente pode ganhar votos. Duas alas se destacam: a mais progressista e a dos conservadores. No processo, o decano vai descobrindo segredos nada agradáveis sobre seus colegas e sobre o falecido papa. Perpassam o roteiro temas espinhosos, como a corrupção na Igreja, os abusos de fiéis, a aceitação de homossexuais e o papel das mulheres.

ELE É POP - 'O Sequestro do Papa' (à esq.) e 'Dois Papas', de Fernando Meirelles: filmes expiam os pecados da Igreja Católica
ELE É POP - ’O Sequestro do Papa’ (à esq.) e ‘Dois Papas’, de Fernando Meirelles: filmes expiam os pecados da Igreja Católica (Divulgação; Peter Mountain/Netflix)
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O filme não foi muito bem recebido por religiosos católicos, que clamam por um boicote. Uma pena. Conclave não é um manifesto anticristão, e sim um estudo profundo de uma instituição que, de tão antiga e poderosa, falhou em seu propósito central: cuidar de um rebanho. Santíssimas intrigas à parte, é uma mensagem de fé e tanto.

Publicado em VEJA de 24 de janeiro de 2025, edição nº 2928

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