De Minecraft a Until Dawn: Hollywood entra com tudo no jogo dos videogames
Adaptações ganharam vigor e viraram o novo graal da indústria do cinema

Uma jovem corre para salvar a própria vida, mas é destroçada pela criatura macabra que a persegue. No cinema de horror tradicional, cenas desse tipo indicariam a morte de mais uma personagem secundária. Em um videogame, seria game over. No universo de Until Dawn: Noite de Terror, a sequência é um misto de ambas as possibilidades. No filme já em cartaz no país, os personagens são presos a um ciclo à la Feitiço do Tempo (1993): vivem o mesmo dia repetidamente, escapando (ou não) de diferentes monstros até o raiar do sol. A ideia leva para o cinema o jogo homônimo lançado em 2015 para o PlayStation 4, que revolucionou as histórias interativas de terror. Com gráficos realistas e tecnologia de captura de movimento, ele vendeu 4 milhões de cópias, embalado pelas atuações do oscarizado Rami Malek e outros talentos. Logo depois, desencadeou a antologia Dark Pictures, que já lançou quatro títulos com estrelas como Jessie Buckley e Will Poulter. A chegada da saga à tela grande escancara uma virada na indústria do cinema: antes desprezados e alvo de adaptações risíveis, os jogos hoje atingem novos picos de prestígio — e é Hollywood quem precisa da ajuda deles para renovar seu público.

A nova fonte criativa ocupa o espaço que, poucos anos atrás, pertencia às histórias em quadrinhos, que já não levam o público jovem às salas de exibição. Hoje, histeria similar só é encontrada na recepção de um fenômeno como Um Filme Minecraft, que já é o maior sucesso de 2025, com mais de 717 milhões de dólares arrecadados ao redor do globo e um público devoto capaz de atirar pipoca, pular e gritar em resposta a uma piada interna. Until Dawn busca também viralizar com participação do público, ao propor uma prova de resistência em oito cidades americanas, nas quais competidores terão de ver o filme por doze horas de uma noite sem interrupções.
Para além dessas manobras chamativas, as adaptações de games também fomentam boa dramaturgia, como provam as séries Arcane, Fallout e, especialmente, The Last of Us, que honra com distinção o espaço mais importante da TV americana — as noites de domingo da HBO. Em breve, até a produtora independente A24 entrará na seara ao adaptar Death Stranding, jogo de Hideo Kojima que tem Guillermo del Toro no elenco. Já nos estúdios Amazon, a próxima aposta em ficção científica é transformar a trilogia de games Mass Effect em série. A Nintendo, por fim, planeja lançar um live-action de Zelda em 2027, após o sucesso de Super Mario Bros. O Filme. A lista de adaptações em desenvolvimento supera a marca de cinquenta itens. Hollywood precisa dos games para não perder o jogo.
Publicado em VEJA de 25 de abril de 2025, edição nº 2941