‘Divertida Mente 2’: entenda o final da animação da Pixar
Novo filme do estúdio mostra a chegada de novas emoções à mente de Riley – entre elas a ‘vilã’ Ansiedade
O texto a seguir contém spoilers sobre o fim do filme Divertida Mente 2, em cartaz nos cinemas
Logo no início de Divertida Mente 2, as emoções apresentadas no primeiro filme, de 2015, Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho, são surpreendidas pela chegada de novos moradores não tão desejados. Os novatos, Vergonha, Inveja, Tédio e Ansiedade, logo dominam o painel de controles da mente de Riley, a garota de 13 anos que abriga na cabeça a trupe de seres coloridos. Incumbida de pensar no futuro e nos cenários que podem dar errado, a Ansiedade prende as emoções antigas e as envia para o fundo da mente da jovem, numa ação de consequências desastrosas.
A premissa básica do novo filme da Pixar não nasceu do “achismo”. Com consultores da área de psicologia, a produção do longa voltou a atenção para emoções que refletem uma virada importante da vida humana, quando, da infância para a adolescência, o indivíduo passa a criar o senso de si e a se importar com o social. “Os hormônios explodem e os jovens se preocupam com a aparência, querem paquerar e passam a imaginar o que os outros pensam sobre eles”, disse em entrevista ao site Vox o psicólogo e professor universitário Dacher Keltner, consultor dos dois filmes da série, que estuda as emoções e seus efeitos no convívio social e nos julgamentos morais.
A cena da crise de pânico de Divertida Mente 2
Ao entrar em uma fase de maior interação social fora da família, Riley tem sua autoestima abalada, assim como a construção de seu senso de si. Quem ela é? No que acredita? O que quer para o futuro? Quando suas duas melhores amigas revelam que vão mudar de escola, e ela tenta uma vaga no time de hóquei, que pode ser uma porta de entrada também para uma vida social agitada no ensino médio, a garota excede os limites físicos e mentais, culminando em uma crise de ansiedade e de pânico.
Ela fica ofegante, suas pernas tremem, o corpo transpira, tudo em um sofrimento contido e explosivo ao mesmo tempo. Em sua mente, a Ansiedade está presa ao controle e a Alegria, que retornou ao local, só consegue fazê-la soltar quando diz uma frase poderosa: “Ansiedade, você não tem o direito de decidir quem a Riley é”. A sentença serve também para a própria Alegria, que tentava mascarar os defeitos e erros de Riley, enviando memórias ruins para o lixão da mente. Ao fim, a Alegria retoma o controle, mas deixa de iludir a garota só com memórias felizes — e não bane a Ansiedade para os confins do cenário colorido: a emoção é parte da jovem e, apesar de não parecer inicialmente, ela se importa com a garota.
Mas a Ansiedade é a vilã?
Assim como foi feito no filme anterior, o qual mostra a Tristeza como uma parte essencial da vida humana, a animação tenta fazer o mesmo com a Ansiedade: ela parece ser a vilã, mas não é — porém, seu poder sobre uma pessoa, sua personalidade e sua autoconsciência devem ser controlados. “A Ansiedade é parte essencial da vida”, disse a psicóloga Lisa Damour, especializada nas mudanças mentais de meninas, também consultora do filme. “Ela nos protege, nos ajuda a antecipar situações que podem dar errado e nos faz tomar boas decisões. Ela tem uma função saudável, mas tem seu lado perigoso, e o filme mostra ambas as situações para que as famílias conversem sobre isso.”
Assim, no fim da produção, a Ansiedade reaparece para palpitar nas ações da Alegria – que lhe dá um chazinho quente e uma cadeira de massagem. Em seguida, elas conversam sobre uma ferramenta comum na psicoterapia: o que está sob o controle de uma pessoa? Riley tem prova de espanhol e precisa estudar. Ao apontar para essa preocupação, a Ansiedade mostra seu valor. Mais do que um alívio cômico, a cena é notável: respirar fundo e deixar de lado o que não está sob controle é uma boa saída para treinar o lado bom da temida emoção.