“Esse prêmio é para Eunice Paiva”, diz Walter Salles ao aceitar o Oscar
Cineasta também mencionou Fernanda Torres e Fernanda Montenegro em seu agradecimento por vitória de 'Ainda Estou Aqui'

Ainda Estou Aqui venceu o Oscar de melhor filme internacional na premiação realizada na noite deste domingo, 2, e o diretor, Walter Salles, dedicou o prêmio a Eunice Paiva, mulher de Rubens Paiva, ex-deputado que foi sequestrado e morto por agentes da ditadura militar e cuja história baseia o filme. Ainda Estou Aqui desbancou A Garota da Agulha (Dinamarca), Emilia Pérez (França), A Semente do Fruto Sagrado (Alemanha) e Flow (Letônia). A categoria foi anunciada pela atriz espanhola Penélope Cruz.
“Em nome do cinema brasileiro, é uma honra tão grande receber isso de um grupo tão extraordinário. Isso vai para uma mulher que, depois de uma perda tão grande no regime tão autoritário, decidiu não se dobrar e resistir… Esse prêmio vai para ela: o nome dela é Eunice Paiva. E também vai para as mulheres extraordinárias que deram vida a ela. Fernanda Torres e Fernanda Montenegro”, disse Walter Salles no palco do Dolby Theatre.
O cineasta também citou os nomes de Tom Bernard e de Michael Baker, executivos da Sony Pictures Classic, principal produtora internacional do filme. Baseado no livro de memórias homônimo de Marcelo Rubens Paiva, um dos cinco filhos de Rubens e Eunice, a trama de Ainda Estou Aqui é bem fiel à realidade. Rubens foi de fato dirigindo o próprio carro para o depoimento do qual nunca voltou. Sua certidão de óbito só foi emitida 25 anos depois de sua morte, em 1996.
Após receber o troféu, Walter Salles falou com a imprensa em Los Angeles, e VEJA acompanhou as primeiras falas do diretor. “Demorou sete anos para chegarmos aqui. Só sabíamos que era uma história necessária no começo. Essa jornada trata de memória de uma família e de um país durante 21 anos da ditadura. Essa história é de uma mulher, que ainda está nos guiando. Não é só o filme, é Eunice nos protegendo. Ao mesmo tempo, temos Fernanda Torres e Fernanda Montenegro mostrando que resistir é importante na arte. E elas fizeram isso. Esse prêmio é para essas três mulheres”, disse Walter Salles na entrevista coletiva.
“O filme é sobre perda e como você lida com ela e a supera e como você luta contra a injustiça. Essa mulher abraçou a vida. Outra cosia é que o a democracia está frágil em todos os lugares. O que aconteceu no Brasil está muito próximo ao nosso presente. A Eunice articulou resistência baseada no afeto, em sorrir, ela se recusou a se dobrar. Eu queria falar que este filme foi visto por 5 milhões de brasileiros. Eles se tornaram coautores do filme. Ao redor do mundo viram que havia um filme do Brasil quebrando essas barreiras”, continuou.
“Primeiro, não é um filme que está sendo reconhecido, é toda uma cultura. É a literatura, é a música brasileira. O filme é liderado por Caetano Veloso, Gal Costa, Erasmo Carlos e tantos outros compositores cuja música. É a cultura em geral que está sendo reconhecida. E este prêmio ajuda muito o cinema brasileiro, especialmente o independente”, completou Salles, ao falar da importância do filme para o cinema e a cultura brasileira.
“A gente vive em um momento em que a memória está sendo apagada como projeto político. E o cinema constrói memórias.”, concluiu.
Reportagem de VEJA apareceu no Oscar
O Oscar 2025 exibiu um trecho da reportagem história de VEJA que confirmou a morte do ex-deputado Rubens Paiva pelas mãos de agentes da ditadura militar no DOI-CODI do Rio de Janeiro, lançando luz sobre um dos mais bárbaros crimes do regime. Um recorte da matéria impressa aparece rapidamente em uma cena do filme Ainda Estou Aqui, que concorre ao Oscar em três categorias: melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz para Fernanda Torres, intérprete de Eunice Paiva.
Ao longo da noite, a premiação exibe trechos dos dez longas indicados na categoria de melhor filme.
“O Brasil tinha 78,8 milhões de habitantes naquela época — mas ninguém soube disso, nem a mulher de Paiva, Eunice, nem seus cinco filhos. Cadáver insepulto da política brasileira, Rubens Paiva começou a reaparecer em público”, iniciava o texto.
Dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, o longa conta a história da família Paiva sob o ponto de vista de Eunice (Fernada Torres/Fernanda Montenegro) — mãe que assumiu o cuidado de cinco filhos e a luta por justiça depois que o marido, Rubens Paiva (Selton Mello), foi morto pelos militares.
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