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Filme ‘Ghostbusters: Apocalipse de Gelo’ ficaria melhor na geladeira

Nova sequência da comédia despretensiosa de 1984 é drama sisudo e desorganizado com ilusões de grandeza

Por Thiago Gelli Atualizado em 9 Maio 2024, 12h26 - Publicado em 11 abr 2024, 15h58
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  • No início da década de 1980, o programa de esquetes Saturday Night Live ainda era jovem e seus atores, celebridades astronômicas. Transmitida semanalmente, a atração era vista por milhões de americanos e sua equipe logo adentrou o imaginário do país, transbordando para múltiplos filmes e séries sua marca de humor pastelão e nonsense. Nenhum expoente, contudo, foi mais bem-sucedido que o ator e roteirista Dan Aykroyd, que pegou emprestado do programa o colega Bill Murray para Os Caça-Fantasmas (1984), de Ivan Reitman. A superprodução, repleta de efeitos especiais e do timing de seu elenco, caiu nas graças do público, cessou após uma sequência mediana em 1989 e ressuscitou no meio da década passada, quando todo tipo de franquia ganhou vida após a morte. Agora, a marca dispensa o título nacional e responde apenas à alcunha americana — decisão de mercado que já indica quão pouca graça ainda existe no mais novo capítulo, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 11 de abril. 

     

    Continuação direta de Ghostbusters – Mais Além, o longa ainda é protagonizado pelos descendentes do caça-fantasma original Egon Spengler (Harold Ramis, falecido em 2014), agora estabelecidos onde tudo começou: Nova York. Capturando espectros fanfarrões pela cidade, o casal Gary (Paul Rudd) e Callie (Carrie Coon) e os adolescentes Trevor (Finn Wolfhard) e Phoebe (McKenna Grace) têm que equilibrar dramas familiares com a urgência do dever e entram em crise quando um prefeito antagônico proíbe a menina de 15 anos de trabalhar por aí. Prodígio, Phoebe fica arrasada ao ouvir a notícia e encontra apoio com uma simpática fantasma nas ruas da cidade. Enquanto isso, uma esfera misteriosa indica o retorno de uma força maligna ancestral capaz de congelar tudo e todos que encontra, ameaça que força a trupe original não apenas a se reunir, mas a buscar pelo “mestre do fogo” que será capaz de derrotá-la. Sem parar por aí, o enredo ainda reserva boa parte de sua duração para explicar o passado do vilão e ampliar a ficção-científica por trás do universo. Se a sinopse parece incoesa, dispersa e melodramática, Apocalipse de Gelo surpreende e apresenta 115 minutos ainda mais enfadonhos do que o imaginado. 

    Pouco originais ou inspiradas, as decisões são, porém, fáceis de se compreender. Após o fracasso da comédia Caça-Fantasmas de 2016, realizada por comediantes do mesmo programa que Aykroyd e Murray, a rota cômica foi descartada e o apelo nostálgico restou. Trevor e Phoebe, então, foram criados como avatares de um dos elementos mais lucrativos de Hollywood: a criança interior de um público já estabelecido. Afetada pela pulsão sisuda e grandiosa que circunda blockbusters de hoje — como Star Wars e o Universo Marvel —, a nova safra então substitui a agradável cafonice oitentista por dramaticidade incongruente com seu universo e a seriedade de morais sobre amadurecimento e afeto. Como resultado, Apocalipse de Gelo equilibra breves piadas ruins com longos diálogos tacanhos sobre problemas pouco desenvolvidos.

    A sobrecarga de personagens e direções ainda proporciona uma montagem errática e priva o elenco clássico de dar vida a seus personagens. Bill Murray e Annie Potts, em especial, parecem fazer meras participações especiais como si, parados à margem dos acontecimentos do filme e despidos de personalidade que justifique sua presença na história. Lançado alguns anos após Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa — que lotou salas com espectadores ansiosos para aplaudir aparições de atores queridos — o filme deseja emular o efeito, mas não tem ideia de qual ritmo estabelecer para tal, nem do que fez o passado da franquia especial. 

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    Sem rumo e sem alegria, Ghostbusters: Apocalipse de Gelo é, de fato, frio — cadáver de uma franquia que já teve alguma relação ao zeitgeist cultural e ao bom humor. Desse jeito, é melhor deixar os mortos soltos por aí e não ligar, em hipótese alguma, para os estraga-prazeres chamados caça-fantasmas.

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