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Filme tailandês ‘A Médium’ é curiosa mistura de terror e feminismo

Na trama, mulheres de uma mesma família asiática são possuídas por uma entidade ancestral e espíritos malignos

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h56 - Publicado em 21 Maio 2022, 08h00
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  • A médium Nim (Sawanee Utoomma) exibe uma ética religiosa peculiar. Questionada por um documentarista se ela cura qualquer doença, a xamã responde com ironia: “Se alguém me procurar com câncer, provavelmente vai morrer. O ideal é que essa pessoa procure um médico. Eu curo doenças invisíveis”. É de forças espirituais incompreensíveis, mas também males bem terrenos, que se faz o terror A Médium. Em cartaz nos cinemas, o filme tailandês com coprodução sul-coreana emula o formato de um documentário para explorar um universo espantoso: o amplo sincretismo religioso de um país asiático que professa do cristianismo ao budismo e hinduísmo, passando por lendas ancestrais.

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    Na região montanhosa a nordeste da Tailândia, onde a mata fechada se mistura à melancólica neblina da floresta equatorial úmida, Nim carrega um fardo: ela é parte de uma linhagem mediúnica. Ao longo de diferentes gerações, mulheres da família são escolhidas pela entidade Bayan como suas representantes no mundo terreno. Noi (Sirani Yankittikan), irmã mais velha de Nim, estava destinada a ser médium. De forma misteriosa, porém, conseguiu renegar o dom após meses de tortura física — travando uma luta contra a entidade, Noi tinha dores, pesadelos e uma menstruação constante que a enfraquecia. Quando sua filha, Mink (Narilya Gulmongkolpech), apresenta os mesmos sintomas, Noi crê que se trata de um carma. Mas Nim nota que a sobrinha não está sendo dominada pela conhecida entidade familiar: são espíritos malignos.

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    Valendo-se de filmagens de celular e câmeras de segurança, o cineasta Banjong Pisanthanakun explora a mesma veia de “mockumentary” — o documentarismo fajuto — que se mostrou eficaz em sucessos como Atividade Paranormal. Ao transpor para o mundo real o pavor advindo do sobrenatural, no entanto, a produção adiciona elementos que fizeram a fama do tailandês. Sua estreia avassaladora com Espíritos: a Morte Está ao Seu Lado (2004), sobre um fotógrafo assombrado pela figura de uma mulher morta ao fundo dos retratos tirados por ele, ganhou remakes como o americano Imagens do Além (2008). Assim como Espíritos, A Médium decupa as possessões e o exótico folclore de seu país com crueza explícita. A tensão crescente explode nos trinta minutos finais, em um longo exorcismo.

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    Por trás das sequências pouco sutis, contudo, há uma curiosa mensagem feminista. No cerne, o filme trata de um antigo medo caro às mulheres: o de perder o controle sobre si, de suas escolhas — e até do próprio corpo. Não há horror mais real e arrepiante.

    Publicado em VEJA de 25 de maio de 2022, edição nº 2790

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