‘Godzilla e Kong’: o que esperar da aventura de monstros com sabor carioca
No filme, as duas criaturas pop unem força contra novo inimigo — um embate cheio de ação e nonsense que ensina como se faz uma mina de ouro das telas
Habitante de uma dimensão subterrânea batizada de Terra Oca, King Kong está livre das ameaças humanas — mas não dos percalços da natureza. Perseguido por uma espécie asquerosa — algo entre lobos e hienas gigantes —, Kong corre pela floresta e se livra de boa parte dos bichões. A artimanha não é suficiente, contudo, e o gorila acaba cercado à beira de um precipício. Fugir não é uma opção, nem lutar. Ele então resolve dar um showzinho: pega um dos animais que já havia matado, levanta sobre sua cabeça e o estraçalha em duas partes, enquanto ruge com dentes à mostra. O espetáculo dá certo: os predadores se assustam e Kong respira aliviado. A cena que abre o filme Godzilla e Kong: O Novo Império (Godzilla x Kong: The New Empire, Estados Unidos, 2024), em cartaz nos cinemas, mostra que o macaco gigante já está calejado na arte de se renovar nas telas: sabe que é preciso sempre mais ação e violência para continuar impressionando a audiência — como o faz, de resto, desde os anos 1930.
A mesma lógica nutre a popularidade do Monstroverso, saga que reúne Kong, Godzilla e mais titãs enormes e perigosos. O novo filme é o quinto desde 2010, e a empreitada já soma 2 bilhões de dólares em bilheteria. Botar monstros colossais para rugir em cena dá um lucro danado. A Apple TV+ lançou recentemente a série Monarch — Legado de Monstros, que explora as origens desse universo. O sucesso da franquia coincidiu com o longa japonês Godzilla Minus One, ganhador do Oscar de efeitos especiais este ano. Com orçamento ínfimo comparado ao americano — foram 15 milhões de dólares, contra 200 milhões da versão de Hollywood —, o longa japonês retornou às raízes do réptil criado por Ishiro Honda (1911-1993) nos anos 1950. Em sua versão original, o Godzilla era um efeito colateral da radiação advinda das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. “Esses monstros representaram metáforas variadas, das mais contundentes até as mais bobinhas. É prova de que são parte inerente do imaginário popular”, disse a VEJA o diretor do filme americano, Adam Wingard.
Em Godzilla e Kong, os protagonistas não se prestam a dar lições de moral elaboradas — já que coerência e verossimilhança são o de menos nesses filmes. Kong deve proteger a humanidade, e Godzilla, o planeta — propósitos que não são complementares. Inimigos, eles se unem quando outro macaco gigante e um réptil cuspidor de gelo tentam dominar a Terra. Essa batalha do tipo UFC do fim dos tempos acontece, acreditem, no Rio de Janeiro. Era mesmo só o que faltava para a Cidade Maravilhosa.
Publicado em VEJA de 29 de março de 2024, edição nº 2886
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