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Guel Arraes, sobre clã político: “Ninguém é bolsonarista, graças a Deus”

Diretor falou a VEJA sobre sua convivência numa família ligada à política e o modo como aborda problemas sociais nas telas

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h21 - Publicado em 24 jun 2022, 06h00

LEIA: Guel Arraes, um diretor da Globo no fogo cruzado da polarização

Sua família vem de uma longa tradição na política de Pernambuco. Por que seguiu outro caminho? Havia essa expectativa, mas eu queria fazer algo que me causasse a empolgação que via no meu pai (o ex-governador Miguel Arraes). Encontrei isso na arte, que também é expressão política. Me desvencilhar desse “superpai” foi difícil. Mas aprendi com ele que política é influenciar e melhorar a vida das pessoas.

A polarização política também afetou sua família? Mais ou menos. Ninguém é bolsonarista, graças a Deus.

Melhor então dizer que foi um desentendimento dentro da esquerda, quando João Campos e Marília Arraes, que são primos, se enfrentaram pela prefeitura do Recife. Como ficou o clima na família? Temos uma regra geral que é: não discutimos política na mesa do Natal, em casamentos, grupo de WhatsApp. No Nordeste, a tradição familiar é muito forte e fica acima de outros assuntos.

Seu pai foi exilado na ditadura militar. Como é lembrar daquele período? Fomos para a Argélia e não tenho memórias ruins, pois fui um exilado de segunda geração. Foi um período difícil para o país e me choca ver o atual presidente exaltando aquela opressão.

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Seu próximo filme é uma adaptação atual de Grande Sertão: Veredas na favela. Por que essa escolha? Para mim, é um dos maiores livros do mundo e queria adaptá-lo sem ser de época e no sertão, como já foi feito. O Brasil lida com três questões enormes: a violência, a corrupção e a influência da religião. São dilemas de cunho político e social, mas que viraram questão artística.

E isso é um problema? O cinema assimilou essas questões dando origem ao favela movie. Seus dois maiores representantes são Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2007). Um é o ponto de vista do criminoso e o outro, da polícia. Mas se nem a direita nem a esquerda sabem o que fazer com a violência urbana brasileira, querem que a gente resolva? O artista não tem essa responsabilidade.

O senhor estreou no streaming com Vai Dar Nada. Como analisa esse momento do audiovisual? É a primeira vez que o audiovisual brasileiro recebe um bem-vindo investimento estrangeiro. É preocupante que as plataformas tragam tanto conteúdo internacional e que o nacional seja ofuscado. Mas é curioso e interessante ver a chegada de novos formatos, como a telessérie, além da mudança no mercado — caso da Globo, por exemplo, que tem se movido não para concorrer com o SBT, mas sim com a Net­flix, a Disney, entre outros.

Publicado em VEJA de 29 de junho de 2022, edição nº 2795

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