As aulas de arqueologia ministradas pelo professor Indiana Jones sempre foram concorridas — e atraíam especialmente a atenção de jovens moças que apreciavam não só o tema do curso como também (ou principalmente) a beleza rústica do mestre de sorriso malandro e olhos esverdeados. Tal quadro é o total oposto do apresentado em Indiana Jones e a Relíquia do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny; Estados Unidos; 2023): no quinto filme da saga, que estreia nos cinemas na quinta-feira 29, o tédio reina em sala de aula, tanto entre alunos quanto para o professor em decadência, prestes a se aposentar.
Aos 80 anos, o aventureiro já não tem mais o vigor de outrora, que lhe permitia arrombar tumbas milenares, driblar animais peçonhentos e enfrentar perigos em busca de relíquias. Seus dias de ação parecem contados, até ver-se diante de um chamado irresistível: como no primeiro filme, Os Caçadores da Arca Perdida (1981), ambientado na década de 1930, nazistas estão de novo atrás de um artefato poderoso capaz de lhes conferir o direito de bagunçar o rumo da história. Logo, o herói incansável deve sacudir a poeira — e chegar ao objeto em questão antes deles.
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Nome incontornável da história do cinema, o personagem vivido por um charmoso Harrison Ford encara no novo filme não só um velho inimigo, mas um teste de resistência. Após a trilogia bem-sucedida dos anos 1980, um quarto filme da franquia, de 2008, se mostrou uma despedida pífia para o personagem. Agora, o arqueólogo de chapéu fedora e chicote em mãos quer provar sua relevância tanto para a nova geração quanto para os que o acompanharam em tempos áureos — isso, antes que o próprio se torne um item arqueológico. “Eu tinha dentro de mim uma curiosidade sobre como ele estaria na minha idade, como seria encerrar uma vida de aventuras”, disse Harrison Ford em entrevista a VEJA (leia mais neste link).
Indiana nasceu de uma parceria criativa curiosa entre os amigos Steven Spielberg e George Lucas, criador de Star Wars — Spielberg dirigiu os quatro filmes iniciais, e Lucas foi produtor-executivo. A dupla de gurus de superproduções de ação, aventura e fantasia estipulou um padrão a ser seguido no filão que sobrevive até hoje em Hollywood. Para além da alta dose de adrenalina e das sequências alucinantes, receita que já havia sido delineada nos filmes de James Bond nos anos 1960, os cineastas adicionaram uma pitada extra de humor e outra de romance, além de uma narrativa que se revelou eficaz para atrair famílias ao cinema. Indiana anda acompanhado por tipos inusitados em ambientes exóticos: já foram seus parceiros desde uma criança (Ke Huy Quan no segundo filme, Indiana Jones e o Templo da Perdição) até o pai idoso (Sean Connery, uma presença luxuosa do terceiro longa, A Última Cruzada). Sem esquecer, claro, de mulheres belas e extremamente sagazes.
Indiana Jones – Coleção 4 pôsteres
As personagens femininas da saga Indiana Jones nunca foram só objetos nas mãos de um macho alfa: ao contrário das bond girls, eram mocinhas destemidas e independentes. Ainda assim, porém, o novo filme precisou evoluir nessa seara: namorar uma estudante muito mais jovem está fora de cogitação. Aqui, o par feminino é a afilhada Helena, a pop Phoebe Waller-Bridge, da série Fleabag. “Parte do roteiro é mostrar o esforço do personagem para se adaptar a um mundo onde ele se sente deslocado”, disse a VEJA o diretor James Mangold (de Logan e Os Indomáveis). “Ele se questiona sobre seu papel neste mundo.”
O mundo em questão é a virada dos anos 1960, período de ebulição cultural, política e tecnológica. A produção abre com o herói um pouco antes, em 1944, rejuvenescido com empurrãozinho de efeitos para enfrentar o cientista alemão Jürgen Voller (Mads Mikkelsen) na caçada por um pedaço da Anticítera, a Relíquia do Destino do título, objeto que teria sido desenvolvido pelo matemático Arquimedes na Grécia Antiga. O filme salta para 1969, quando o Indiana aposentado conhece Helena e parte para encontrar a outra parte do artefato. Diz a lenda que, quando completa, a Anticítera seria capaz de realizar viagens no tempo. Para o vilão, seria a chance de dar a vitória da II Guerra aos nazistas. Já Indiana nem precisa disso: aos 20 ou 80 anos, o machão continua a toda.
Publicado em VEJA de 28 de Junho de 2023, edição nº 2847
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