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Ivo Herzog sobre ‘Ainda Estou Aqui’: ‘Homenagem às heroínas da ditadura’

Filho do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto como Rubens Paiva, fala a VEJA sobre a importância do filme e a falta de ações concretas do governo

Por Amanda Capuano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 nov 2024, 08h00

Filme de Walter Salles, Ainda Estou Aqui chegou aos cinemas na quinta-feira, 7, levando para as telas a história da família Paiva, que teve a vida marcada pelo assassinato do patriarca e ex-deputado Rubens Paiva (1929–1971) pela ditadura militar. Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, único homem dos cinco filhos de Rubens e Eunice, o longa ilumina a dor de várias famílias que tiveram a rotina mudada drasticamente pela violência do período, que contabiliza, oficialmente, 434 mortos.

Filho do jornalista Vladimir Herzog (1937-1975), morto em 1975, Ivo, hoje com 58 anos, tinha apenas 9 quando o pai foi torturado e morto nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo. Em entrevista a VEJA, ele fala sobre a importância do filme para dar visibilidade à história de famílias que foram vítimas da ditadura, e analisa o trato do governo brasileiro com as investigações e memória das vítimas. Confira:

Ainda Estou Aqui acompanha a família de Rubens Paiva depois que ele foi assassinado pela ditadura. Seu pai também foi morto pelo regime. Como analisa o papel desse filme para os familiares sobreviventes? Ele é superimportante. É uma grande homenagem às heroínas da ditadura, como a Eunice, e também para toda a família Paiva. Ao mesmo tempo, é outro tapa na cara de mais um governo que não se importa com a dor dessas famílias. É quase um processo de tortura prolongada infinita. A gente está no terceiro mandato do Lula, e o governo proibiu que o estado lembrasse dos 60 anos do golpe de 64, sendo que ainda há muita história que precisa ser contada e muita Justiça que precisa ser feita.

Acha que o cinema preenche essa lacuna? A arte ajuda a dar visibilidade a temas inerentes à sociedade, mas não tem essa obrigação. A beleza da arte denuncia os horrores que a humanidade comete, mas a responsabilidade por esses horrores, em última instância, é do Estado, e a gente tem que cobrar o Estado por essa responsabilidade. 

Como analisa o modo como governo Lula está tratando o tema? A Comissão de Mortos e Desaparecidos, que era uma promessa de campanha de Lula, demorou mais de um ano para ser restituída. Mas foi só no papel, porque não existe verba. A Comissão de Anistia não pode fazer reunião porque não tem verba para pagar a passagem aérea dos conselheiros. O Lula até recriou os órgãos de reparação, mas só burocraticamente. Na prática, esses órgãos não conseguem operar, porque não existem condições de trabalho. Aí a gente precisa de gente como a família Paiva e de cineastas para ajudar a contar nossa história, porque o Estado brasileiro continua se omitindo.

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Ivo Herzog
Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog: “Ainda há muita história que precisa ser contada” (Ze Carlos Barretta/Monica Bergamo/Folhapress/VEJA)

Em que pé está o caso do seu pai? A primeira sentença, de 1978, do juiz Márcio Moraes, ordenava que o Estado investigasse as circunstâncias da morte dele, mas isso nunca foi feito. Não foi nem contestado, só transitou em julgado. É uma ordem judicial que não foi cumprida até hoje. A sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de três ou quatro anos atrás, foi a mesma coisa, até agora não foi cumprida. 

O filme mostra que a dinâmica da família Paiva mudou muito depois que Rubens foi assassinado. Como foi esse processo na sua casa? Mudou muito também. A minha mãe, além de buscar a Justiça e a verdade, colocou na cabeça que nem eu e nem o meu irmão teríamos o nosso desenvolvimento prejudicado pela tragédia. Ela virou uma workaholic, trabalhava de maneira alucinada, e isso impactava na dinâmica familiar. Tem também o legado que a gente carrega. Não é agradável falar da morte do meu pai, mas a gente fala por que é importante. Se o estado brasileiro não fala, e a família também não falar, aí é que vão se esquecer mesmo.

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Herzog
Vladimir Herzog, jornalista da TV Cultura, morto nos porões do DOI-CODI durante a ditadura (Wilson Ribeiro/Cláudia/Dedoc)

Sua mãe, Clarice Herzog, assim como a Eunice Paiva, se tornaram essenciais na busca por Justiça. Como vê o papel dessas mulheres? Tenho uma história interessante sobre isso com o Marcelo Rubens Paiva. Há alguns anos, em uma Flip, ele falou uma coisa que eu nunca tinha parado para pensar, que meu pai e o pai dele não foram heróis. Os verdadeiros heróis, ou melhor, as heroínas, foram as suas esposas, companheiras que lutaram a vida toda em busca da Justiça e da verdade. Os nossos pais foram vítimas dessa máquina de terror que existia na ditadura. É claro que as vítimas têm uma importância muito grande na história, mas normalmente tem também uma companheira, uma esposa, uma mãe ou algum outro familiar que teve a vida mudada totalmente pela tragédia e por uma luta que continua até os dias de hoje.

E qual é a importância de seguir investigando a violência da ditadura? A partir do momento em que o Estado brasileiro investiga e conta essa história — e eventualmente pede perdão e reconhece que foi um erro –, cria-se o caminho para que essas atrocidades não voltem a acontecer. Ainda somos uma democracia muito frágil e uma das razões para isso é que não investigamos ou fizemos Justiça. O fazer Justiça não é pegar antigos militares que hoje estão com 80, 90 anos, e colocá-los na cadeia. O ponto mais importante é que esses militares agiram sob a ordem de um Estado que tem que ser julgado. É preciso identificar e registrar as pessoas que participaram disso para que não volte a acontecer. 

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