Jason Momoa fala a VEJA: ‘Adoro desafiar rótulos’
Na série Chefe de Guerra, da Apple TV+, o astro se reafirma como o fortão do momento ao criar, dirigir e protagonizar uma história sobre raízes havaianas
Quando se candidatou para o papel de Khal Drogo, um feroz líder tribal da série Game of Thrones, o ator Jason Momoa tomou uma atitude inesperada. No teste, em vez de só fazer cara de mau e ler o roteiro, ele optou por encenar uma dança de guerra típica da cultura polinésia chamada Haka: com passos marcados e movimentos vigorosos, ele batia os braços de forma intimidadora, combinando expressões faciais hostis e palavras ritmadas na língua indígena maori. Inicialmente, o time da HBO que escolhia o elenco se assustou com o homem de 1,93 metro de altura e músculos abundantes se impondo com uma mistura de arte e violência (o vídeo do momento viralizou no YouTube e comprova essa sensação). Depois, não houve dúvida: era de Momoa o papel que, em 2011, fez dele um astro mundial da TV.
Filho de pai nativo havaiano e mãe americana de ascendência alemã, Momoa verteu sua etnia em trunfo justamente ao optar por expor suas raízes no lugar de camuflá-las. O ápice desse orgulho se confere agora na série Chefe de Guerra, que estreia nesta sexta-feira 1º na Apple TV+, com nove episódios a serem lançados semanalmente. A produção épica que narra um importante período da história pré-colonial do Havaí no século XVIII é um projeto antigo e pessoal do ator. “Minha maior responsabilidade é com meu povo, com os havaianos. Quero deixá-los orgulhosos”, disse Momoa em entrevista a VEJA (leia mais abaixo). A série também marca uma nova e instigante fase de sua carreira: para além de músculos, ele quer provar que tem, sim, muito tutano sob a vasta cabeleira.
Herdeiro de uma categoria valiosa para Hollywood — os brutamontes das telas —, Momoa soma um vasto currículo de filmes de ação. Provou a força de seu carisma em escala global ao viver o super-herói Aquaman e, vira e mexe, também abraça o papel do bobalhão cômico, como o “atleta de games” do hit Um Filme Minecraft. Num nicho em que já brilharam astros como Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone, o havaiano agrega um elemento caro aos novos tempos: é um fortão que ilustra a diversidade racial — e não abre mão de sua cultura. Com Chefe de Guerra, ele se aventura no posto de diretor e roteirista, enquanto interpreta o protagonista, Ka’iana, guerreiro de linhagem nobre que foi o primeiro havaiano na história a viajar por outros países. Quando voltou ao lar, Ka’iana se tornou peça essencial na unificação do arquipélago, então dividido em quatro reinos de tribos rivais — uma longa e violenta guerra, no fim, deixou a ilha sob o domínio do rei Kamehameha I (na série, Kaina Makua). O soberano, figura intocável na história do Havaí, frustrou as tentativas de colonização dos europeus e impôs o Havaí como um reino livre por quase 100 anos, até se tornar um estado americano. Um feito em época de conflitos abundantes entre potências e países menos desenvolvidos. O projeto une algumas das paixões de Momoa, em especial sua relação íntima com a natureza — são abundantes as cenas dele no mar e na floresta.
Curiosamente, a atuação não estava em seus planos na juventude. Criado nos Estados Unidos pela mãe, ele regressou ao Havaí para morar com o pai e cursar a faculdade, com a intenção de ser biólogo marinho. Conciliava os estudos com um trabalho na loja de artigos de surfe do tio quando caiu na mira da produção da série Baywatch, programa de sucesso da TV americana sobre um grupo de salva-vidas bonitões, estrelado por Pamela Anderson. Momoa tinha só 19 anos e nunca havia atuado. Ao se mudar para Los Angeles, decidiu se dedicar à carreira. Conseguiu trabalhos de menor apelo até o estouro de Game of Thrones. A fama aumentou em seguida, com o papel do Aquaman. Ao adicionar carisma e masculinidade, Momoa tirou esse personagem do time de heróis insossos para torná-lo um pop star: os dois filmes renderam 1,5 bilhão de dólares.
Momoa recentemente passou da marca de 5 bilhões em bilheteria com o sucesso de Um Filme Minecraft. Enquanto lucra, usa sua influência para tentar salvar o planeta: ele possui duas marcas de roupas e garrafas de alumínio que incentivam a reciclagem e a proteção dos mares. Unir o útil ao agradável é um de seus superpoderes. Até a cicatriz acima do olho esquerdo, sequela de uma briga de bar em 2008, virou um charme para os papéis que o atraem. Quando não está filmando, ele dá vazão ao lado músico e empunha uma guitarra em shows de rock — ou se aventura na escalada de paredões. O salto do gigante não é pequeno.
“Adoro desafiar rótulos”
Jason Momoa falou a VEJA sobre a nova série e a respeito de sua carreira.
Diversos países perderam sua conexão com suas histórias nativas por causa da colonização. Essa série é uma resposta a esse apagamento? Acredito que no Havaí fizemos um bom trabalho em manter nossa história viva. Muitas tradições ancestrais ainda são seguidas. Claro, há partes de nossa cultura que se perderam no caminho, então essa série é, sim, uma forma de manter vivo o passado.
Como compara Chefe de Guerra com as outras séries épicas do seu currículo, Game of Thrones e See? A diferença é o respeito com a história real, a cultura, os personagens. Na fantasia, a imaginação pode ir a extremos. Aqui, não: no máximo, preenchemos lacunas com a ficção. Minha maior responsabilidade é com o meu povo, com os havaianos. Quero deixá-los orgulhosos.
Ao fazer esse tipo de personagem, do guerreiro forte, além de muitos filmes de ação, teve receio de ficar preso no estereótipo do brutamontes? Sempre que tentam me falar que sou uma coisa só, vou lá e provo que sou mais que isso. Adoro desafiar rótulos, tenho feito isso a vida inteira. Hoje tenho muita sorte, pois eu faço o que quero. Quis ser bobo em Minecraft e fui, quis fazer essa série e aqui estamos. Se acham que estou dentro de uma caixa, então é uma excelente caixa.
Passou por algum preparo físico específico para o papel? Tive que comer muito, foi uma alimentação reforçada. Comi muita comida havaiana. Muito poi, laulau e kalo.
Seu figurino nessa série é um tanto revelador. Se sentiu incomodado? Imagina. Aquela tanga era superconfortável. O figurino mais confortável que já usei. E não é segredo para ninguém, eu adoro ficar pelado.
Publicado em VEJA de 1º de agosto de 2025, edição nº 2955
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