Assim que deixou a caixa na qual veio embalado, Buzz Lightyear enfrentou uma crise existencial: o boneco acreditava piamente ser um astronauta. Só quando deparou com outros como ele é que a ficha caiu — assim como sua autoestima elevadíssima: ele não era um herói intergaláctico, era “apenas” um brinquedo. Seu processo de aceitação e de entender que tinha valor sendo quem era conduziu o gracioso Toy Story, de 1995. Em Lightyear, animação derivada dos filmes da Pixar, em cartaz nos cinemas, outra jornada de autoconhecimento espera por Buzz — não o boneco, e sim o homem que o inspirou.
Numa espécie de Star Wars após um banho de loja da Disney, Lightyear é apresentado como o filme favorito de Andy, o garotinho de Toy Story que ganhou de presente, lá em 1995, o boneco do Buzz. Na produção, o patrulheiro comete um erro ao pilotar uma imensa nave num planeta hostil. O queixudo caxias autossuficiente transforma culpa em obsessão e faz de tudo para tirá-los dali — de preferência, sem ajuda. Quando Buzz retorna de um voo de teste de quatro minutos, no qual tentava atingir a hipervelocidade, descobre que no planeta se passaram quatro anos — e que a tripulação já estabeleceu uma vida ali. Buzz insiste nos voos enquanto décadas se passam para seus colegas. Eventualmente, ele se vê forçado a integrar um grupo deveras peculiar, formado por uma jovem com astrofobia (medo do espaço), um homem sem talentos, uma criminosa da terceira idade e um adorável gatinho robô.
A combinação de tipos diferentes, que prega a importância da colaboração e da amizade, remete não só ao próprio Toy Story: Lightyear oferece ainda uma salada de referências nostálgicas para cativar as crianças de hoje e os adultos que há mais de duas décadas carregam a memória afetiva da dupla formada por Buzz e o caubói Woody. Para além das referências óbvias a Star Wars, estão ali representados clássicos como 2001: uma Odisseia no Espaço, e a participação de luxo de Starman, sucesso de David Bowie na trilha. Saiu da órbita previsível do lançamento cheio de boas intenções morais apenas a repercussão da cena de um beijo lésbico, o que levou a produção a ser banida em países do Oriente Médio e da Ásia. Ao infinito e além, como diz Buzz — mas, em se tratando de costumes, nem sempre.
Publicado em VEJA de 22 de junho de 2022, edição nº 2794
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