Novo Bridget Jones reforça onda dos galãs ‘Mucilon’ nas telas
Trata-se do jovem par romântico das protagonistas acima dos 40, enredo que desafia os chavões do gênero

Em um encontro, Bridget Jones faz a pergunta que não quer calar ao rapaz que tenta conquistá-la: “Quantos anos você tem?”. Constrangido, o jovem de olhos azuis hipnotizantes responde: “28”. Bridget respira fundo: ela já passou dos 50. O moço ri e diz que estava brincando — na verdade, ele tem 29. A cena cômica protagonizada por Renée Zellweger e Leo Woodall faz parte de Bridget Jones: Louca pelo Garoto (Bridget Jones: Mad About the Boy, Reino Unido/Estados Unidos/França, 2025), que acaba de estrear nos cinemas brasileiros. A produção, dirigida por Michael Morris, é a quarta e última aventura da personagem inglesa atrapalhada que virou símbolo incontornável das comédias românticas: os três primeiros filmes somam 810 milhões de dólares em bilheteria. Sua longevidade diante das câmeras trouxe consigo desafios e possibilidades — entre elas, a subversão da regra que ditava qual a diferença de idade ideal entre casais.
Em O Diário de Bridget Jones (2001) e na sequência Bridget Jones: No Limite da Razão (2004), adaptações dos livros da autora Helen Fielding, Renée era dez anos mais nova que os atores Colin Firth e Hugh Grant, que disputavam o coração da personagem como Mark Darcy e Daniel Cleaver, respectivamente. A média de idade caiu um pouco no triângulo do terceiro filme, O Bebê de Bridget Jones (2016), quando Darcy teve de lidar com o intruso Jack, vivido por Patrick Dempsey — o ator hoje tem 59 anos, e Renée, 55. Agora, ela vai ficar balançada pelo professor bonitão vivido por Chiwetel Ejiofor, que é oito anos mais novo que a atriz. Além, claro, de flertar com o novinho interpretado por Woodall — que, na vida real, tem mesmo só 28 primaveras. Desse modo, Bridget coroa a emergência do dito “galã Mucilon” — termo popularizado na internet que usa de uma referência sugestiva ao suplemento alimentar infantil para designar o homem jovem que se envolve de forma afetiva com uma mulher acima dos 40.

Apenas no ano passado, a tendência contou com títulos como o edulcorado Uma Ideia de Você, com Anne Hathaway e Nicholas Galitzine, que têm doze anos de diferença — ele é um popstar que se apaixona pela mãe de uma de suas fãs adolescentes. Já no recente e picante Babygirl, estrelado por Nicole Kidman e Harris Dickinson, que somam 29 anos de distância um do outro, uma CEO poderosa se rende a uma relação sexual de submissão com um estagiário. Antes, na comédia da Netflix Tudo em Família, Nicole já surgia com outro rapazote: o ator Zac Efron, duas décadas mais jovem, é chefe da filha dela na trama.
Sem julgamentos morais, esses filmes são um irônico contraponto ao renitente etarismo de Hollywood: na indústria cinematográfica, é comum que, ao chegar aos 30, as atrizes sejam preteridas, enquanto seus pares masculinos envelhecem como vinho nas telas. Os exemplos são muitos. Em Cinderela em Paris (1957), Fred Astaire era trinta anos mais velho que seu par, Audrey Hepburn. Num passado nem tão distante, em 2009, o diretor Woody Allen escalou como casal no filme Tudo Pode Dar Certo os atores Larry David e Evan Rachel Wood, que somam quarenta anos de diferença. A obra de Allen, aliás, é repleta de ninfetas com tiozões: um caso emblemático é o de Manhattan, de 1979, no qual o diretor é também protagonista e, aos 43 anos, fazia par com Mariel Hemingway, que tinha 17.

Não bastasse essa disparidade, o inverso por muito tempo foi tratado com sarcasmo: a relação entre uma mulher mais velha e um rapaz mais novo costumava ser mostrada de forma jocosa ou apelativa — um exemplo clássico é A Primeira Noite de um Homem (1967) e sua musa desequilibrada, a senhora Robinson (Anne Bancroft). O olhar sobre a vida sexual e amorosa da mulher de meia-idade agora passa longe da piada. A leva atual de filmes explora temas como a potência do desejo feminino e a dificuldade dos recomeços. Usa também a jovialidade dos rapazes como injeção de vida e de autoestima em personagens acomodadas, seja na carreira, no papel de mãe, como esposas infelizes ou viúvas. O último mote se aplica a Bridget Jones. Com duas crianças para criar, a personagem perdeu o marido e terá, mais uma vez, de aprender a lidar com os desafios da solitude. Mas Bridget aprendeu desde cedo a se reinventar — e a transformar suas desventuras em oportunidades de crescimento e felicidade. No caminho, pelo jeito, deve descobrir que o amor não tem idade. Sorte dela.
Publicado em VEJA de 14 de fevereiro de 2025, edição nº 2931