O ataque de J.K Rowling a atleta acusada erroneamente de ser trans
Polêmica surgiu depois que atletas foram desclassificadas de competição anterior após suposto teste de gênero, mas situação é mais complexa
A escritora J.K Rowling se envolveu em mais uma polêmica ao acusar uma boxeadora argelina, Imane Khelif, de ser um “homem” batendo em mulher depois da italiana Angela Carini desistir da luta contra Khelif aos 46 segundos, após ser golpeada com força no nariz. “Uma jovem boxeadora teve tudo o que ela trabalhou e treinou roubado porque permitiram que um homem entrasse no ringue com ela”, escreveu a autora de Harry Potter no X.
A polêmica remonta a uma decisão de 2023 da Associação Internacional de Boxe (IBA), que baniu Khelif e mais uma atleta do Mundial de Boxe após ambas serem reprovadas em um teste de verificação de gênero. Khelif, no entanto, não é trans, como tem circulado nas redes — na Argélia, inclusive, a transição de gênero é proibida. “A boxeadora argelina nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher, lutou boxe como mulher, tem registro de mulher no passaporte. Não é um caso de transgênero”, informou Mark Adams, diretor de comunicação do COI, que afirmou que todos os atletas competindo na Olimpíada de Paris estão dentro dos critérios de elegibilidade do torneio. Khelif, inclusive, competiu em Tóquio, em 2021, e foi derrotada nas quartas de final.
Could any picture sum up our new men’s rights movement better? The smirk of a male who’s knows he’s protected by a misogynist sporting establishment enjoying the distress of a woman he’s just punched in the head, and whose life’s ambition he’s just shattered. #Paris2024 pic.twitter.com/Q5SbKiksXQ
— J.K. Rowling (@jk_rowling) August 1, 2024
O caso, portanto, é mais complexo do que se pinta. A IBA — que foi banida dos Jogos de Paris por acusações de corrupção e falhas de transparência — não especificou por que as atletas falharam nos testes, mas disse que nenhuma delas passou por exames de testosterona. Na época, o presidente da associação, o russo Umar Kremlev — acusado pelo COI de ter tomado uma decisão arbitrária — afirmou, sem citar nomes, que testes de DNA identificaram atletas que possuíam “cromossomos XY” (combinação masculina) — o que, segundo especialistas, pode indicar algum tipo de anomalia cromossômica e intersexualidade, e alterar níveis de hormônios como a testosterona. Os resultados do exame nunca foram divulgados oficialmente, mas instaram uma série de discussões delicadas sobre a validade da participação da atleta.
Nos últimos anos, Rowling se envolveu em polêmicas e foi acusada de transfobia diversas vezes — chegou, inclusive, a ser denunciada para a polícia britânica por India Willoughby, primeira repórter de TV trans do Reino Unido. Segundo ela, a desistência da Italiana frente a Khelif resume “o nosso novo movimento pelos direitos dos homens”. “O sorriso malicioso de um homem que sabe que está protegido por um establishment esportivo misógino”, escreveu em uma foto da luta no X.