O charme camaleônico de Karine Teles, a Aldeíde de Vale Tudo
A atriz se despede da personagem e lança dois novos filmes — tramas distintas que provam sua versatilidade diante das câmeras
Em 2010, Karine Teles lançou o filme Riscado, protagonizado e coescrito por ela em parceria com o diretor Gustavo Pizzi, na época seu marido. Na trama, uma atriz sobrevive como animadora de festas, fantasiada de personagens famosas, entre elas Marilyn Monroe. A história nasceu de uma angústia pessoal de Karine. “Eu já era atriz havia uma década, fazia teatro, mas não conseguia viver do meu trabalho”, conta. “Como dizem, a sorte tem de nos encontrar trabalhando. Foi o que aconteceu comigo.” Para enfrentar as barreiras de um ofício com poucas portas abertas, ela descolou uma boa janela: o filme independente lhe rendeu prêmios e elogios — e lhe deu a chance de provar seu talento e versatilidade.
Recentemente, o jogo virou: Karine, ou melhor, Aldeíde, sua personagem na novela Vale Tudo, converteu-se em fantasia de festas de Carnaval fora de época. Enquanto se despedia da secretária romântica e chamativa, dona de looks de cores fortes, a atriz de 47 anos já estava pronta para lançar dois novos filmes. O primeiro a chegar aos cinemas é o suspense Salve Rosa, da diretora Susanna Lira, que estreia no dia 30. Na trama atualíssima, ela divide o protagonismo com Klara Castanho como uma mãe que vive às custas da filha influenciadora. O próximo é Cyclone, de Flávia Castro, que estreia em 27 de novembro. Na produção de época, Karine é uma artista e prostituta do início do século XX — amiga de Miss Ciclone, vivida por Luiza Mariani, dramaturga modernista esquecida pela história.
As personagens distintas reforçam o tipo de carreira que Karine tem traçado para si. “Quando posso escolher, prefiro experimentar personagens diferentes.” Mais que um desafio pessoal, a atriz se impôs essa meta para não ficar marcada pela madame do filme Que Horas Ela Volta?, de 2015, da cineasta Anna Muylaert. A produção fez de Karine um rosto conhecido da dramaturgia nacional como a mãe ausente e ressentida da relação do filho com a doméstica vivida por Regina Casé. “Recebi muitos convites para interpretar mulher rica. Recusei não só para variar, mas por ser de uma realidade muito distante dessa”, diz.
Natural de Petrópolis (RJ) e criada em Maceió (AL), Karine vem de uma família que viveu a ascensão social. Seus pais são da primeira geração a completar o ensino superior. Ela se mudou para o Rio aos 17 para estudar artes cênicas e se bancava dando aulas de inglês. Os olhos claros que lhe garantem, segundo a própria, a “cara de burguesa”, são um mistério na família. “Fiz um teste de DNA, é um traço genético que vem do norte da Europa.” Já a desenvoltura nas telas é fruto de muito suor. Para viver Aldeíde, Karine até teve dores nas costas com a postura ereta da secretária. Em um futuro breve, ela planeja estrear na direção com outro filme de sua autoria e quer voltar ao teatro. A camaleoa das telas não para.
Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2025, edição nº 2966







