Em 29 de setembro de 1988, quando o Brasil passava por uma forte crise econômica, um avião que ia de Belo Horizonte com destino ao Rio de Janeiro foi sequestrado por um maranhense insatisfeito com o então governo federal presidido por José Sarney. Armado com um revólver calibre 32 e mais de 90 balas, Raimundo Nonato da Conceição queria jogar a aeronave sobre o Palácio do Planalto para matar o presidente. O sequestro chocante mudou quase nada nas normas de segurança dos aeroportos brasileiros, que só passaram a ser mais rígidas 12 anos depois, quando o ataque terrorista às Torres Gêmeas de Nova York abalou o mundo inteiro. A história de Raimundo, que aterrorizou pilotos e passageiros, completa 35 anos nesta sexta-feira, 29, e em 7 de dezembro ganhará um filme que contará os fatos dramáticos nos cinemas: O Sequestro do Voo 375.
Para embarcar no voo 375 da Vasp, o sequestrador passou com facilidade pela segurança do aeroporto de Confins, sem ser revistado nem passando por detector de metais que já existiam na época, mas eram pouco usados. Sua munição estava na bagagem de mão. O avião decolou da capital mineira às 9h. Quando a tripulação começava a servir os passageiros, Raimundo, um tratorista desempregado, sacou sua arma e foi até a cabine dos pilotos para exigir que a rota fosse alterada do Rio de Janeiro para Brasília. Um comissário e um piloto que estava de carona no voo foram baleados de raspão e o co-piloto Salvador Evangelista foi morto com um tiro na nuca. O comandante Fernando Murilo de Lima e Silva conseguiu avisar a torre de controle sobre o sequestro e depois fez uma manobra arriscada para atordoar o sequestrador. Chamada tonneau, a manobra consiste em dar um giro completo sobre o eixo longitudinal da aeronave. Depois, o piloto executou um mergulho em espiral de 9.000 metros, girando em parafuso. A queda livre deixou o sequestrador desacordado, e Murilo conseguiu pousar em Goiânia por volta das 13h.
O sequestro ainda não tinha acabado, mesmo com Raimundo desacordado. Ele recobrou a consciência antes de ser desarmado e continuou o terror em solo. Ele trocou tiros com a Polícia Federal, foi baleado e encaminhado para um hospital. Internado, o criminoso morreu misteriosamente dias depois, sob suspeita de envenenamento, mas um laudo feito por um legista atribuiu a morte a um quadro de anemia falciforme.
Apesar de sério, o caso teve pouca atenção na época e não provocou mudanças significativas dentro dos aeroportos, segundo a produtora Joana Henning, CEO do Estudio Escarlate, produtora O Sequestro do Voo 375, em entrevista a VEJA. “Já havia detectores de metal em alguns aeroportos e isso o filme mostra. Depois do episódio, pelo que estudamos, houve uma ligeira ampliação dos detectores. Tivemos informações de que o 11 de Setembro trouxe o governo americano ao Brasil em missão oficial com a FAB para estudar o espaço aéreo brasileiro no processo de mudanças das regras da aviação nos Estados Unidos”, explicou. “Na época do sequestro já existiam os detectores de metais, mas não eram utilizados em voos domésticos. Passaram a ser ligados onde já existiam, mas não era um norma. O que mudou foi o fato de bagagens não serem despachadas sem que o dono estivesse a bordo”, completou Constancio Viana Coutinho, autor do argumento e pesquisador do filme. O longa tem direção de Marcus Baldini, roteiro de Lusa Silvestre e Mikael de Albuquerque, e produção do Estúdio Escarlate.