Filho de imigrantes indianos nos Estados Unidos, Paras Patel tinha uma carreira modesta como ator até entrar para o elenco da série bíblica The Chosen – Os Escolhidos, na pele de Mateus, um dos principais apóstolos de Jesus e autor do Evangelho que abre o Novo Testamento. Por se tratar do discípulo mais detalhista entre os que escreveram sobre o Messias, Mateus ganha, nas mãos do criador da série, Dallas Jenkins, uma característica inusitada: na trama, o coletor de impostos está no espectro autista. Jenkins tem uma filha neurodivergente, inspiração para o papel que Paras Patel abraçou com gosto. O ator falou a VEJA sobre o personagem e sobre como The Chosen se tornou não só sucesso de audiência do streaming, como também, em sua quarta temporada, vem arrastando o público ao cinema: nesta quinta-feira, 16, chegaram às salas os episódios 5 e 6 – e daqui duas semanas, no dia 30, estreiam os dois últimos capítulos. Depois, a temporada completa vai para o aplicativo gratuito da série.
Antes de ser ator você estudou finanças, certo? Por que essa escolha? Pois é, eu queria algum tipo de estabilidade profissional. Mas no fundo sempre quis ser ator e acho engraçado que, agora, o cara que estudou finanças interpreta um famoso personagem que lida com números e dinheiro. Parece até que era algo meio predestinado na minha jornada. Sou bom com números, faço minha contabilidade, mas gosto mais de atuar.
Essa ligação foi o que o levou a desejar especificamente o papel de Mateus na série? Acho que em partes sim. Os outros atores fizeram testes para múltiplos papeis ao mesmo tempo. Eu só fiz para o Mateus. Acho que ele possui um caráter único, uma personalidade atrativa e interessante. Eu também me senti muito instigado pelo roteiro e pelo modo como o personagem foi escrito.
Como é interpretar um personagem tão conhecido, mas com essa característica específica do autismo? Criar um personagem é um trabalho em equipe. Dallas Jenkins e eu falamos muito sobre a personalidade de Mateus e sua jornada, assim encontramos juntos a voz dele, seus modos, seu jeito de se vestir, de andar. Eu pesquisei bastante sobre autismo. Vi documentários, observei pessoas neurodivergentes e tento dar o meu melhor para representá-los na tela.
Quais as dificuldades e as recompensas desse papel? Eu me preocupo em representar a comunidade autista da maneira mais autêntica possível, me sinto como um embaixador que os apresenta para muitas pessoas, que traz consciência sobre o espectro e mostra que eles podem encontrar seu caminho com segurança e independência. Me esforço para que o Mateus seja uma inspiração. Entre as recompensas está o retorno dos que assistem. Uma família me escreveu para dizer que, assistindo a série, o filho apontou para a TV e falou que o Mateus era igual a ele. Isso fez com que os pais entendessem o filho e ele foi diagnosticado depois. Fui ao Brasil esse ano e conheci uma família que nem sabia que o termo autismo existia e que a série os ajudou a se comunicar melhor com o filho. Então esse impacto positivo me motiva.
Existem muitas séries e filmes bíblicos. Por que The Chosen se destacou entre elas? Para mim, é 100% por causa da capacidade da série de criar empatia e mostrar esses personagens de forma tão humana. É possível se identificar com todas as dificuldades que os seguidores de Jesus passam, e até o próprio Jesus, pois todos são muito humanos. Mateus por exemplo tem uma jornada de fé importante. A vida tenta sempre colocá-lo para baixo e testar essa fé, mas ele faz de tudo para ser uma pessoa melhor e aprender mais com as experiências ao redor. E acho que precisamos disso nos dias de hoje.