A vitória de 4 a 1 do Brasil sobre a fraquíssima seleção de Camarões teve duas utilidades: acabar com o jejum de gols de Fred e fazer Fernandinho ganhar a vaga do volante Paulinho. O ideal talvez fosse Fred não marcar e perder a vaga também, mas não demos tanta sorte assim, de modo que resta torcer para que a nova parceria renda mais frutos.
Isolado no primeiro tempo, o atacante pareceu ter entrado no intervalo com um chute de fora da área logo no começo do segundo, minutos antes de liquidar a partida com o terceiro gol brasileiro, escorando de bigode o cruzamento de David Luiz pela esquerda após jogada do próprio Fernandinho, que em cinco minutos já tinha feito mais que Paulinho em dois jogos e meio – e que ainda deixaria o seu, chutando na área após tabelinha de Fred e Oscar.
Foi um segundo tempo fácil, graças à substituição fundamental no meio-campo e ao absoluto desinteresse da seleção camaronesa já eliminada da Copa em correr atrás do resultado. Mas as coisas não foram tão boas no começo do jogo quanto os números possam fazer crer, ainda que o Brasil tenha aberto o placar quando Luiz Gustavo roubou uma bola na intermediária adversária e fez algo raríssimo entre os volantes de Felipão: acertar o passe – no caso, um cruzamento rasteiro da ponta-esquerda para Neymar, que só tocou a bola para o gol.
O Brasil começou marcando em cima a saída de bola, mas, muito afobado e impreciso, acabava dando espaço demais ao adversário. Desde os 9 minutos, Camarões já contra-atacava com perigo, em chute que Marcelo rebateu com o corpo e, pouco antes do gol de empate, Eyong também conseguiu escanteio em chute perigoso. Com o trânsito liberado na avenida Daniel Alves e saída pelo viaduto David Luiz, o time africano marcou pela primeira vez na Copa. Sim: Daniel não alcançou Moukandjo; Thiago Silva e Davi ficaram olhando o cruzamento; e Matip, livre na área, tocou para o fundo da rede de Júlio César.
Oscar teve seu dia Fred, completamente apagado, enquanto Hulk, Paulinho e Luiz Gustavo, além de perder a bola, erravam os passes e as finalizações de sempre. Marcelo, por incrível que pareça, errou menos dessa vez, e felizmente, aos 34 minutos, tocou a bola para Neymar, que cortou de lado na entrada da área e chutou, desempatando o jogo. Como joga bem este rapaz contra time ruim!, não é mesmo? Às vezes, lembra até o Messi.
O bom, comentei no intervalo, era isso: o Brasil ganhar de Camarões apertado (ou mesmo empatar), com um futebol afobado, sem criatividade, com muitos erros de passe, tomando bola nas costas dos laterais e gol por desatenção da zaga. Dessa forma, passaríamos à 2ª fase menos iludidos, menos deslumbrados, mais conscientes da seleção mediana que temos e, portanto, mais preparados para uma eventual eliminação.
Talvez os gols da etapa final tenham deixado margem à euforia, mas reitero que o Brasil tem tanto mais chances nesta Copa do Mundo quanto mais consciente de si. Nada mais triste na história esportiva, cultural e política brasileira do que a decepção dos cegos voluntários.
Felipe Moura Brasil – https://www.veja.com/felipemourabrasil
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* Veja também minhas análises de Brasil 3 x 1 Croácia e Brasil 0 x 0 México.