Dilma não está “enganada”, Aécio. Dilma quer enganar! E Marina também! – Notas sobre o debate da Band

[* Veja também o próximo post: Aécio foi o melhor no debate da Band?]

Já estou com saudades do primeiro debate entre candidatos a presidente do Brasil na Band, que segue completo em vídeos do Youtube no fim deste post. Foi muito divertido comentá-lo ao vivo no Facebook. Por mim, pode ter um por semana. Se a emissora ficou apenas em quarto lugar, de acordo com números prévios do Ibope para a Grande São Paulo, com cinco pontos, enquanto a Record e o SBT, no mesmo horário, cravaram seis; e a Globo liderou com folga, somando 21 pontos, como informou Lauro Jardim, é porque boa parte dos brasileiros não sabia que poderia se divertir tanto também, especialmente com a psolista Luciana Genro, perto de quem até o candidato do PV, Eduardo Jorge, que chegou a abrir mão de alguns minutos de resposta, pareceu ter uma mente sã para governar o país. Por motivos de tragicomédia maior, tive de incluí-la junto aos principais candidatos nas notinhas que reúno abaixo, acrescentando algumas novas.

MARINA SILVA (PSB):

Faço um razoável esforço para que Marina Silva me desperte algum interesse intelectual, de modo que eu possa escrever sobre ela, o que parece ser a maior obrigação jornalística do momento no país. Mas a única coisa que ela consegue dizer com clareza é que ela é uma alternativa à polarização PT-PSDB (mesmo sendo uma ex-petista, se é que isto existe). E eu me pergunto: e daí? A “alternativa à polarização” entre um elevador e uma escada em um prédio, por exemplo, pode ser um buraco para o morador se jogar de cabeça quando quiser chegar à rua.

Grande coisa.

AÉCIO NEVES (PSDB) x DILMA ROUSSEFF (PT):

1) A estratégia do PT quando o assunto é segurança pública é sempre a mesma: responsabilizar os estados. Foi exatamente o que Dilma fez no debate, com o cinismo de sempre. Vamos lembrar alguns tuítes? Veja na imagem ao lado.

* Mais sobre o assunto no post “Quem se importa com as fronteiras do Brasil?“.

2) “Nem trinta segundos de fala e Aécio já soltou um ‘contingenciamento’. Sabe tudo”, ironizou meu editor Carlos Andreazza, da Record. E olha que eu ainda perguntei aqui outro dia: quantos brasileiros sabem o que significa essa palavra?

3) No confronto direto, Dilma já saiu atacando Aécio: “O Brasil tem hoje a menor taxa de desemprego da história, mesmo diante da mais grave crise internacional. Quando o Fernando Henrique, do seu partido, era presidente e entregou o cargo ao presidente Lula, o desemprego era mais do que o dobro. O senhor falou que, se eleito, tomaria medidas impopulares. Além da redução do emprego e do salário mínimo, que medidas impopulares o senhor tem em mente?”. Em outras palavras: chamou Aécio de inimigo do povo e acusou o PSDB de ter quebrado o Brasil.

O tucano respondeu: “Quem fala olhando pra trás é porque tem receio de debater o presente ou não tem nada a apresentar em relação ao futuro. Infelizmente, a senhora está enganada.” E revidou criticando o sucateamento da indústria e a baixa geração de empregos no governo Dilma: “Os dados do CAGED mostram que este mês de julho foi o pior mês de geração de empregos de carteira assinada do século, senhora presidente, como foi junho, como foi maio”. Disse também que “o governo perdeu a capacidade de inspirar confiança por um conjunto de ações desastradas e desconexas. A grande verdade é que o governo do PT surfou e se aproveitou muito das reformas que foram feitas no governo do Fernando Henrique, mas infelizmente a bendita herança acabou e agora os brasileiros estão extremamente preocupados com o futuro que os espera”. Na tréplica, Dilma afirmou que “o PSDB quebrou o Brasil três vezes”, e Aécio rebateu dizendo que sem o governo FHC não haveria estabilidade econômica.

Não foram as piores respostas, mas foram pouco para quem está em terceiro lugar nas pesquisas. Dilma não está “enganada”, candidato. Dilma “quer enganar”! E é preciso dizer isto ao público com todas as letras, jogando as acusações da presidente contra ela própria, ou a reação será sempre menos convincente que o ataque.

4) Aécio andou lendo meu blog? Finalmente, falou ao cidadão comum, dando um exemplo prático do dia a dia – como falei que ele deveria fazer -, no caso à dona de casa que vai à feira e já não consegue comprar as mesmas coisas com a mesma quantia de seis meses atrás. Explicou assim de maneira simples a inflação do governo Dilma e ainda falou que, se não dá mais para comprar, é porque Dilma não merece ser reeleita. Esse Aécio é muito melhor do que aquele do “contingenciamento”, embora ele continue “contingenciado” demais para atacar Dilma e Marina. Mas não dá para esperar tanto, não é mesmo?

5) Bonner questionou Dilma sobre o apoio do PT aos corruptos do partido. Dilma ignorou a corrupção petista na resposta. Aécio questionou Dima sobre a corrupção do PT na Petrobras. Dilma ignorou a corrupção petista na resposta.

O problema é que, ao contrário de Bonner, Aécio não disse que Dilma ignorou a corrupção petista nas respostas. É preciso dizer essas coisas, em vez de deixar que o público perceba. O público não percebe muita coisa e, mesmo quando percebe, não necessariamente sabe expressá-la. O candidato tem de ensiná-lo a dizer o que ele próprio percebe e quer que o público registre.

É isto que fortalece uma réplica. É isto que faz ganhar votos. #Ficaadica.

6) Dilma e Aécio ainda trocaram farpas sobre o decreto bolivariano que ela assinou criando conselhos populares em órgãos da administração pública. “A participação popular é importante. Mas na formatação que busca trazer o PT, é algo que avilta um poder que deve ser independente e soberano, que foi eleito pela sociedade brasileira”, disse Aécio. A petista disse que o PSDB “sempre teve receio de participação social”.

Aécio perdeu mais uma chance de dizer que Dilma queria enganar o público; e de explicar melhor que “participação social” é como o PT chama a participação dos movimentos que o próprio partido criou, controla e financia com o dinheiro do cidadão comum trabalhador, que tem mais o que fazer do que participar de conselho.

7) Dilma decorou bem o “tripartite”. Na hora de explicar, não encontrou as 3 partes.

LUCIANA GENRO (PSOL):

1) A primeira pergunta foi sobre os mais de 50 mil assassinatos por ano no país e a candidata do PSOL, Luciana Genro, preferiu falar de coerência da esquerda. Dá para entender por que eu zombo tanto do partido de Marcelo Freixo? A última coisa que lhes interessa é a segurança pública.

2) “Um membro da comunidade LGBT é assassinado por dia por causa do preconceito”, Luciana Genro!? De onde vem esse dado? Do Jean Wyllys?

O PSOL é mesmo uma piada macabra.

3) “Eu acho que a gente nunca deve se prender a dogmas.” (Luciana Genro, espécie de Gregório Duvivier do PSOL, o partido preso ao dogma socialista.)

4) “Junho foi um grande movimento de massas espontâneo da nossa juventude, do nosso povo.” (Luciana Genro, do PSOL, uma das organizadoras do movimento “espontâneo”.)

…e por aí vai, com direito àquele discurso contra o ensino do criacionismo nas escolas e a favor da legalização das drogas e do aborto, é claro, posto que os psolistas já nasceram.

Debate completo:

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* Veja também o próximo post: Aécio foi o melhor no debate da Band?

Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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PS: Relembre a listinha resumida de vigarices do PT – aqui.