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Felipe Moura Brasil

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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".

Nelson Motta, Mainardi, Marina e eu

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 31 jul 2020, 03h11 - Publicado em 29 ago 2014, 17h25

O artigo “Como uma onda“, de Nelson Motta, sobre a candidata Marina Silva publicado hoje no Globo é uma mistura – não vou dizer voluntária; apenas constato as semelhanças de ideias – do que venho escrevendo aqui com o que Diogo Mainardi escreveu na Folha, e estou de acordo com ambas as partes. Mas tenho pequenas considerações sobre os acréscimos de Nelson.

Escreve ele – e eu vou comentando:

“Os marqueteiros sempre dizem que o eleitor vota mais levado pela emoção do que pela razão, e Marina Silva não precisou de uma campanha de marketing para provar que eles estão certos.”

Claro que precisou. E o próprio Nelson vai descrevê-la.

“Entre os 70% dos que estão insatisfeitos e querem mudanças, boa parte está encontrando nela uma esperança que, apesar de seu passado petista e da senilidade do PSB, não tem o ranço partidário que nauseia o eleitor.”

Está encontrando justamente porque o marketing é bom e fisgou o anseio do povo em benefício de Marina, cujo ranço partidário se dilui em braços partidários dissimulados como a Rede.

“Ninguém é bobo [o] bastante para acreditar numa ‘nova política’, mas qualquer coisa diferente da atual já seria um grande avanço.”

Claro que há bobos o bastante. Há dezenas de milhões deles no Brasil. Houve bobos o bastante para acreditar na bandeira da “ética na política” com a qual o PT subiu ao poder; e há bobos o bastante para acreditar na “nova política” de Marina Silva, de modo que cabe à camada intelectual da sociedade mostrar que é o velho embuste de sempre. De resto: qualquer coisa diferente da política atual NUNCA é necessariamente um avanço, como não foi nos Estados Unidos, por exemplo, depois que bobos o bastante – eles estão por toda parte e os marqueteiros vivem de explorá-los – acreditaram no “Yes, we can” de Barack Obama.

Como anotei no Facebook na noite do debate da Band:

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“Ao reconhecer os méritos e as conquistas dos governos FH e Lula e se apresentar como uma terceira via para a polarização PT x PSDB, que divide e atrasa o país, Marina atinge em cheio o eleitor que quer mudanças feitas por alguém com autoridade, legitimidade, honestidade e competência.”

E o nome disso que faz Marina “atingir em cheio” o eleitor, como eu havia descrito ontem, é justamente… marketing:

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“Muito dificilmente, ela terá condições políticas para fazê-las [as mudanças], mas quem acredita que Dilma ou Aécio terão, com os seus partidos carcomidos e suas tropas políticas destruindo e sabotando uns aos outros?”

Eu acredito, registro, que o PT de Dilma pode mudar – e decerto mudará, em caso de reeleição – o Brasil para pior, como deixa evidente a assinatura do decreto 8.243, apoiado por este suposto exemplo de “autoridade, legitimidade, honestidade e competência” que é Marina Silva. “No horizonte da turma que defende esse lixo autoritário, está, inclusive, o controle da imprensa, sim, senhores!, por conselhos populares”, como escreveu Reinaldo Azevedo, referindo-se à turma de Gilberto Carvalho. O decreto, lembro eu, disciplina a participação no governo federal brasileiro dos “movimentos sociais” controlados e financiados pelo PT, subordinando o povo e a gestão pública a uma falsa “sociedade civil” constituída pela “companheirada”, incluindo a turma do MST, movimento do qual Marina veste o boné, como uma autêntica petista de raiz que também pode, portanto, mudar o Brasil para pior.

“Para quem não aguenta mais ter que escolher entre o preto e o branco, Marina oferece a opção de 50 tons que vão do verde ao vermelho, passando pelo azul.”

No caso de Marina, mais certo é dizer verde por fora e vermelho por dentro. E talvez laranja, em homenagem à rede de empresas fantasmas envolvidas na compra do avião do seu partido, o PSB, pago com caixa dois.

“Se a onda crescer e for eleita com uma votação avassaladora, Marina certamente receberá ofertas de apoio de todos os lados, querendo participar do poder, com as melhores ou piores intenções, e poderá escolher para seu governo os mais competentes de diversas filiações partidárias.”

Este é o trecho relativo ao texto do Mainardi, que escreveu: se Marina ganhar, “voluntários de todos os partidos irão oferecer seus préstimos, e ela, agradecida, aceitará, claro. Assim como aceitará a serventia e a cumplicidade daqueles que, até hoje, sempre lucraram com Dilma e o PT: no empresariado, no sindicato, na cultura, na imprensa.”

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Estamos de acordo neste ponto. Mais um traço da velha política de Marina.

“OK, é um sonho, todos sabem que esse papo de governo de união nacional é furado, porque eles gostam mesmo é de partilhar o butim do presidencialismo de cooptação, mas, com Marina poderosa e uma eventual pressão da opinião pública, que os políticos tanto temem, talvez tenhamos alguma chance de virar o jogo.”

Ok. Eu já impliquei com o “ninguém é bobo o bastante”. Não vou implicar com o “todos sabem”.

“Enquanto isso, insones e febris, marqueteiros petistas e tucanos e blogueiros de aluguel quebram a cabeça para encontrar uma forma de desconstruir Marina, garimpando, ou inventando, algo de podre na sua vida pública ou privada.”

Para Nelson Motta e boa parte da imprensa, como se vê, Marina é a única candidata autêntica que não precisa de marqueteiro. Ela é a Rainha da Floresta, com seus “50 tons que vão do verde ao vermelho, passando pelo azul”, sua “autoridade, legitimidade, honestidade e competência”, enquanto os marqueteiros dos outros tentam denegrir essa pureza messiânica.

Que blogueiros de aluguel do PT vão intensificar os ataques a Marina conforme ela ameace a vitória de Dilma, não há dúvida. Mas que a candidata tem explicações a dar – se é que isto é possível – sobre os (laranjas) podres do avião do PSB, o apoio ao decreto 8.243, a reprovação contundente que sofreu daqueles que realmente estiveram sob seu governo no Acre, o embuste de sua “nova política”, e o ódio a São Paulo e aos paulistas devotado pelo seu marido, Fábio Vaz, para quem os mais ricos – à exceção dos eleitores de Marina, como constatou Reinaldo – têm na “maioria das vezes o desprezo, o preconceito e a prepotência com seu semelhante”, sendo que a elite de São Paulo maltrata os nordestinos, “bem vindos [sic] apenas para suprir o exército de força de trabalho” em serviços subalternos, tampouco resta dúvida.

É lulice demais para um casal só.

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Nelson Motta está longe de ser um Ricardo Noblat, acusando de má-fé quem quer vencê-la no “tapetão”, mas, colocando na conta de “marqueteiros insones e febris” e “blogueiros de aluguel” as tentativas necessárias de se descobrir o que há por trás da imagem – ela própria marqueteira – de Marina, também acaba dando uma contribuiçãozinha para a blindagem moral da candidata.

De certo, só que nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre passará. Quem viver verá.

De certo, só que não falta mesmo quem, voluntária ou involuntariamente, faça marketing de Marina Silva na imprensa acusando o marketing dos outros. E funciona.

Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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