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Felipe Moura Brasil

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Análises irreverentes dos fatos essenciais de política e cultura no Brasil e no resto do mundo, com base na regra de Lima Barreto: "Troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo".
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O piti de Arnaldo Jabor pela ‘Cuba libre’ de Obama

Escrevi esse tuíte ao lado na madrugada da última sexta-feira (19), quando Arnaldo Jabor deu seu comentário no Jornal da Globo sobre o fim do embargo americano a Cuba. Transcrevo-o na íntegra: Esta reaproximação com Cuba tem dois inimigos: os rancorosos que querem sempre dividir o mundo em bons e maus e os republicanos da América que só pensam […]

Por Felipe Moura Brasil Atualizado em 5 jun 2024, 08h54 - Publicado em 23 dez 2014, 22h19
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    Escrevi esse tuíte ao lado na madrugada da última sexta-feira (19), quando Arnaldo Jabor deu seu comentário no Jornal da Globo sobre o fim do embargo americano a Cuba.

    Transcrevo-o na íntegra:

    Esta reaproximação com Cuba tem dois inimigos: os rancorosos que querem sempre dividir o mundo em bons e maus e os republicanos da América que só pensam em ferrar o Obama. Se bem que o Obama conta com o medo que eles terão de desagradar o imenso contingente latino na América de hoje.

    Captura de Tela 2014-12-23 às 22.16.25Este é o primeiro passo para acabar com o embargo comercial que tanto prejudicou a ilha. Mas isso não ocorre aos vingativos que preferem que a população de Cuba morra de solidão democrática e econômica do que conciliar. O importante é a vingança.

    Cuba, que foi uma revolução maravilhosa na época, que parecia uma floração tropical de jovens hippies. Com metralhadoras, acabou nas mãos soviéticas.

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    Mas os EUA foram muito responsáveis pelas dificuldades da ilha. Kennedy tentou invadir logo em 1961, e daí para frente Cuba foi a ovelha negra das Américas e virou uma ditadura brutal, sim, como uma ilha comunista perto da Flórida.

    Mas isso, que rola há 50 anos, não impede a tentativa de contribuir para uma abertura democrática.

    Agora o Obama tenta desfazer esse equívoco duplo e, claro, sofre pressões nesse momento histórico. Nunca um presidente foi tão atacado por tudo que tentou fazer.

    O reacionarismo deles não é uma questão política, é psiquiátrica, é racista, é estúpida, cega de ódio. Obama é como Cuba, ele também foi excluído e sabotado pelos eternos reacionários que posam de democratas.

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    Retomo.

    Jabor se tornou mais obamista que a MSNBC porque, não podendo defender os crimes do PT no Brasil, precisava de uma esquerda para chamar de sua. Para ele, como mostrei aqui, ‘perigo vermelho no (…) dos outros é refresco‘.

    Também já mostrei aqui o quão grotesco é Jabor chamar os republicanos de racistas; e aqui, quais são as verdadeiras críticas dos republicanos a Obama, acrescentando que dinheiro não faz democracia, mas enriquece ditadura, como bem ilustra a imagem abaixo.

    Cuba embargo

    Não vou me repetir nem entrar no mérito dos outros xingamentos de Jabor, que nada mais são do que sintomas de uma mentalidade revolucionária jamais convalescida.

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    Depois de velho, ele continua chamando de ‘maravilhosa’ e de ‘floração tropical de jovens hippies’ uma revolução que derrubou uma ditadura para instalar outra muito pior e mais assassina. Nunca superou seu deslumbramento juvenil com Fidel Castro, exposto em um dos textos mais constrangedores do colunismo brasileiro, ‘Os românticos de Cuba‘:

    “Lembro-me até hoje que sua mão era quente e larga, a palma generosa e macia. Sua mão se aninhava confortavelmente na minha, enquanto eu tentava lhe falar: ‘Comandante’… – comecei de novo, gago de emoção. (…) ‘Será que é uma bicha brasileira, infiltrada?’ – tenho certeza que ele pensou. Não, comandante, eu não era uma bicha; apenas um ex-comunista. Foi a única vez que vi Fidel.”

    Mal posso imaginar como seria a descrição do encontro com Obama, o verdadeiro sabotador do capitalismo americano. O fim do embargo o juntou a Fidel no mesmo assunto, e o dito ex-comunista Jabor só podia mesmo ficar duplamente ‘gago de emoção’, apelando ao discurso vitimista típico dos… comunistas.

    Os motivos do embargo
    O público de pouca informação que ouve seu comentário na TV pensa que Obama – o Messias blindado pela mídia – foi mais atacado do que George W. Bush, cuja demonização o elegera; e que Cuba só virou uma ditadura brutal porque ‘acabou nas mãos soviéticas’, foi prejudicada pelo embargo comercial americano e invadida por Kennedy.

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    Mas as razões pelas quais por mais de cinco décadas presidentes, democratas e republicanos, isolaram politicamente e aprovaram sanções a Cuba (com sucesso, ao contrário do que diz Obama) revelam o embuste de Jabor:

    1. Cuba tem sido uma prisão comunista desde que Fidel Castro chegou ao poder. De 1959 até o fim da década de 1990, mais de 100.000 cubanos foram colocados em campos de trabalho forçado, prisões e outros locais de encarceramento. Entre 15.000 e 17.000 pessoas foram fuziladas. Castro justificou o seu reinado de terror com estas palavras: “A revolução é tudo; todo o resto é nada.”

    2. A Cuba comunista exportou o marxismo-leninismo pela América Latina, especialmente para a Nicarágua, dominada pelos sandinistas marxistas no final de 1970. Outro alvo foi a pequena nação-ilha de Granada, que era para funcionar como a terceira perna de um triângulo comunista de Cuba, Granada e Nicarágua. O presidente Ronald Reagan frustrou os planos dos comunistas, libertando Granada de um regime radical pró-Moscou. Como explicou um líder comunista venezuelano, a revolução cubana foi como um “detonador”.

    3. A Cuba comunista levou o mundo à beira de uma guerra nuclear em 1962, quando permitiu que a União Soviética construísse bases para mísseis nucleares destinados a grandes cidades dos Estados Unidos. Castro sabia o que estava fazendo: o líder soviético Nikita Khrushchev disse que Castro solicitou um ataque nuclear soviético sobre os Estados Unidos.

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    4. A Cuba comunista frequentemente ofereceu as tropas terrestres para a estratégia da União Soviética de incitar a revolução do Terceiro Mundo, especialmente na África. De 1975 a 1989, de acordo com ‘O Livro Negro do Comunismo’, Cuba foi a principal apoiadora do Movimento Popular para a Libertação de Angola. Castro enviou uma força expedicionária de 50.000 homens para o país africano, explicando, em parte, por que durante décadas Moscou financiou o regime cubano à base de US$ 5 bilhões por ano. O fim deste financiamento, como já falei aqui, foi um dos motivos que levaram Fidel a criar em 1990 com Lula o Foro de São Paulo, que depois elevou a esquerda ao poder na América Latina e que agora recebe novo impulso com o fim do embargo.

    No exato momento em que as misérias econômicas da Venezuela ameaçam seriamente os seus enormes subsídios de bilhões de dólares a Cuba e quando mais e mais cubanos estavam pressionando o regime de Castro para permitir liberdades e direitos humanos fundamentais, Obama se comprometeu a retirar as sanções econômicas e estabelecer relações diplomáticas. Dias depois de repudiar a tortura praticada pela CIA após o 11 de setembro, o presidente dos EUA tirou da corda bamba o regime que aplica há décadas a tortura em seus adversários políticos. Nas palavras da dissidente cubana Yoani Sanchez, “o castrismo venceu”.

    Se ainda estiver vivo, Fidel hoje deve estar sorrindo e acendendo um charuto El Rey del Mondo, em seu palácio de Havana. Se sua mão está “quente e larga, a palma generosa e macia”, aí é melhor vocês perguntarem ao Jabor.

    Felipe Moura Brasil ⎯ https://www.veja.com/felipemourabrasil

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