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Isabela Boscov

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6 paixões quentes para um dia frio

Na Netflix e na GloboPlay, favoritos declarados como ‘Diário de uma Paixão’ e também surpresas como ‘Pecados Íntimos’ e ‘O Homem do Futuro’

Por Isabela Boscov Atualizado em 4 jun 2024, 15h35 - Publicado em 22 ago 2020, 20h34

Diário de uma Paixão

Onde: Netflix, GloboPlay

Um velho (James Garner) conta a uma mulher com Alzheimer (Gena Rowlands) a história de dois jovens que se apaixonam no início dos anos 40, mas parecem destinados a não ficar juntos. Ela é rica e ele é pobre, as famílias interferem, os mal-entendidos os afastam, a guerra os separa. Difícil pensar em um romance mais adorado nas duas últimas décadas do que este aqui, e por excelentes razões: Rachel McAdams, perfeitamente luminosa, e Ryan Gosling, completamente arrebatador, interpretam o jovem casal com um ímpeto – um quê de fixação, até – que corta o açúcar e o troca por sabores bem mais ricos e complexos. E o diretor Nick Cassavetes (filho de Gena Rowlands, que faz par com um encantador James Garner como o casal idoso) abraça sem medo o melodrama para trabalhar o gênero no que ele tem de melhor: o poder de ao mesmo tempo incendiar e fazer sofrer. Os anos passam, e o filme continua irretocável no que se propõe.

Diário de uma Paixão
The Notebook, 2004 (- PlayArte/Divulgação)

Como Eu Era Antes de Você

Onde: Netflix

Emilia Clarke, atrapalhada e encantadora, vai cuidar de Sam Claflin, que ficou tetraplégico em um acidente e transborda de amargura. É inevitável, e até dá para cronometrar: aos 39 minutos, registra-sei uma hidratação superior à normal nos olhos, quando Sam baixa um pouco a guarda para Emilia. Aos 56 minutos, vem uma lágrima, quando Sam dá uma olhadinha de lado para Emilia, discretamente feliz por vê-la tão enlevada com o primeiro concerto da vida dela. Aos 90 minutos, pontualmente, a torneira se abre: Emilia está arrebatada, certa de que arrumou tudo do jeito certo, mas ele acaba com as ilusões dela. Ao compreender que falhou, Emilia cai no berreiro, e o espectador cai junto – porque o filme baseado no best-seller da inglesa JoJo Moyes é adoravelmente arquitetado com esse propósito. Chora-se em Como Eu Era Antes de Você porque é tristíssimo ver tanta beleza destruída, e porque pensa-se em todos os futuros que não acontecerão. Mas o filme apara a queda do espectador, porque carinhosamente preparou o espírito dele para o baque.

Como Eu Era Antes de Você
Me Before You, 2016 (- Warner/Divulgação)
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Refém da Paixão

Onde: GloboPlay

O divórcio tanto traumatizou Adele (Kate Winslet) que há anos ela mal sai de casa; tudo para ela se resume à convivência com o filho Henry (Gattlin Griffith), que acabou de entrar na adolescência mas sabe que é ele, ali, o adulto responsável. E é Henry quem narra a história do feriado do Dia do Trabalho de 1987, em que sua mãe foi obrigada a levá-lo à cidade. No supermercado, Adele é abordada por Frank (Josh Brolin), um foragido da prisão que toda a polícia está procurando. O que se segue é parte sequestro, parte sedução: firme mas insinuante, Frank obriga Adele a levá-lo para casa; lá, amarra-a para que ela não seja acusada de dar guarida a um criminoso caso a polícia bata à porta; e então prepara um suculento chili con carne, que dá na boca de Adele, às colheradas, enquanto o menino olha fascinado – não é sempre que um garoto trava contato com as realidades do erotismo por meio do arrebatamento de sua mãe. Adaptado de um romance de Joyce Maynard, o filme em tudo difere dos trabalhos anteriores do diretor Jason Reitman (de Juno e Amor sem Escalas). Aqui há nada de humor e zero de cinismo: o clima é de melodrama dos anos 1950, casto mas transbordante de sugestão.

Refém da Paixão
Labor Day, 2013 (- Paramount/Divulgação)

Brooklyn

Onde: Netflix

Em Enniscorthy, sua cidadezinha provinciana, fofoqueira e ultramoralista na Irlanda, não há nenhum futuro para Eilis (Saoirse Ronan) no início da década de 50. A irmã de Eilis, então, faz um sacrifício: vai ficar na Irlanda com a mãe viúva, e Eilis vai se mudar para Nova York. No início, Eilis se sente infeliz o tempo todo: acha que as outras moças da pensão ridicularizam seu ar de boazinha e suas roupas caipiras, sente-se um bicho-do-mato porque não sabe conversar com as freguesas da loja em que trabalha. Mas descobre que pode fazer uma vida para si mesma – estudar, vestir-se como achar melhor, escolher com quem namorar. É especialmente bem conduzida a aproximação entre Eilis e o ítalo-americano Tony (Emory Cohen): repare na cena em que Eilis vai jantar com a família dele e acaba confessando que tomou aulas para aprender a comer spaghetti. A certa altura, Eilis tem de fazer uma visita à Irlanda, e a pequena Enniscorthy repentinamente se abre para ela. Um outro sujeito entra na jogada – Jim (Domnhall Gleeson), que é tão doce quanto Tony, mas está enraizado ali. Seria um golpe sujo escolher qual dos dois é melhor para Eilis, se Tony ou se Jim. Bem mais honesto é sugerir que Eilis poderia ser feliz com um ou com outro; a escolha, aqui, não é só entre eles, mas entre a vida que cada um deles representa e o que ela quer para si. Brooklyn é um filme de cheio de encantos: finge ser água-com-açúcar, mas retrata as experiências da imigração, da emancipação e da escolha amorosa com humor e muito discernimento.

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Brooklyn
Brooklyn, 2015 (- Paris/Divulgação)

O Homem do Futuro

Onde: Netflix

Zero (Wagner Moura) sabe exatamente qual o momento em que sua vida pegou o desvio que terminaria por levar à sua infelicidade: uma festa no diretório acadêmico da universidade, em 21 de novembro de 1991. Nessa noite, Zero, então o gago e tímido expoente do curso de física, viveu uma hora de inacreditável paixão com a rainha da escola, Helena (Alinne Moraes) – para logo a seguir mergulhar em desgraça, com a cumplicidade dela, pendurado por uma corda sobre a multidão, lambuzado de mel e coberto de penas. E por isso, em 21 de novembro de 2011, quando ele conclui o experimento a que se dedicou desde então e entra no acelerador de partículas de seu laboratório, é esse o instante que ele quer reescrever. São várias, porém, as viagens do filme: uma, ao passado que ficou na lembrança; outra, ao passado que realmente se desenrolou e que a memória, apesar de tão vívida, turvou; e outra ainda, a um país que hoje parece distante – o Brasil da era Collor. O diretor carioca Cláudio Torres retorna assim ao cinema mais inquieto com que acenara em Redentor, e do qual se afastara com A Mulher do Meu Amigo e A Mulher Invisível, e o torna muito convincente e também arrebatador por nunca perder de vista aquilo que move Zero – a dor de uma paixão frustrada. 

O Homem do Futuro
O Homem do Futuro, 2011 (- Paramount/Divulgação)

Pecados Íntimos

Onde: Netflix

PlayArte

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Sarah (Kate Winslet de novo, porque nunca é demais) e Brad (Patrick Wilson), ambos no começo dos 30 anos, veem-se relegados a cuidar da casa enquanto seus parceiros trabalham com sucesso, e ambos se ressentem de ter que deixar de ser o centro da própria vida para cedê-lo a esses usurpadores – os filhos. Espera-se de Sarah e Brad que eles estejam felizes por viver cercados de riqueza, de beleza e das supostas alegrias do lar. Mas Sarah todos os dias leva a filha de 3 anos a um parquinho, onde confraterniza com outras mulheres insatisfeitas e tenta parecer uma mãe dedicada, o que não é. Cada vez que Brad aparece no parque com seu menino pequeno, o grupinho ferve de fantasia. Logo o clima será de histeria, porque Sarah e Brad iniciam um caso e porque um pedófilo é solto da prisão e volta a morar no bairro. O diretor Todd Field trabalha aqui junto com o escritor Tom Perrotta, a partir de um romance de autoria deste, e desenha cuidadosamente cenas sensacionais como aquela em que Sarah escolhe um maiô vermelho, e essas minúcias dão vida ao filme. Não é novidade, por exemplo, imaginar um caso entre pessoas como Brad e Sarah; mas é novo, e fascinante, observar a rotina desse caso – a luta para persuadir os filhos a tirar uma soneca, as discussões sobre os prós e contras da lavanderia como alcova, a perplexidade de Sarah, que não se acha mais atraente, em ter seduzido um homem tão belo. Patrick Wilson compõe um retrato soberbo da irresolução masculina, enquanto Kate Winslet realiza um de seus melhores trabalhos – o que não é pouca coisa.

Pecados Íntimos
Little Children, 2006 (- PlayArte/Divulgação)
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