A Very English Scandal
Onde: na Globoplay
Hugh Grant e Ben Whishaw brilham – e deitam e rolam – como o líder do Partido Liberal britânico e seu jovem e atrapalhado amante, numa história que começou com sedução, nos anos 60, e só foi terminar nos anos 80, depois de muita chantagem, ranger de dentes e choro, além de várias tentativas aparvalhadas de assassinato e um baita escândalo nos tribunais. Stephen Frears, de Ligações Perigosas e Filomena, dirige os três episódios, e estava inspirado: é tudo verdadeiro, mas também tão surreal e tão fleumaticamente inglês que não tem jeito – mais do que uma opção, o tom farsesco é uma necessidade aqui. Depois de tanta diversão, há uma nota melancólica no final, mas também ela é também natural e espontânea: a homossexualidade foi crime previsto em lei na Inglaterra até 1967 (o que talvez seja o mais ululante caso de hipocrisia registrado na história), e demorou outras décadas até que os condenados até essa data tivessem suas fichas criminais anuladas. Ser gay não era só viver nas sombras; era viver em sobressalto, sujeito a todo tipo de perigo e chantagem
Waco
Onde: na Globoplay
Em 1993, a compra de armas em quantidade por uma seita religiosa de Waco, no Texas, levantou uma bandeira vermelha no sistema da ATF, a agência que controla armamentos nos EUA – e a essa suspeita somaram-se outras, de poligamia (verdadeira) e de abuso de crianças (ao que tudo indica, falsa) na comunidade liderada pelo profeta apocalíptico David Koresh. A ATF deu início ao desastre, provocando um tiroteio com mortes dos dois lados. E o FBI deu seguimento e volume à catástrofe com a disputa entre os agentes a favor do uso de força e os agentes pró-diplomacia (como o negociador-chefe interpretado pelo excelente Michael Shannon). O resultado: um cerco que durou 51 dias e terminou muito, muito mal. Esta minissérie em seis episódios tensos e densos (que, aliás, usam muito da linguagem do faroeste na maneira como são filmados) se baseia em dois livros: um escrito por um jovem sobrevivente do cerco, e o outro pelo negociador. A combinação dos pontos de vista garante um resultado interessantíssimo, com pelo menos uma conclusão em comum – a dificuldade que é compreender a psicologia do líder de um culto e seus seguidores, e os julgamentos apressados e os erros táticos que decorrem da falta de disposição para compreendê-la. Muito bem escrita, Waco acerta também no elenco, com destaque para Taylor Kitsch como Koresh, Paul Sparks como o braço-direito dele, Glenn Fleshler como o chefe do FBI no local e Camryn Manheim como a mãe de um dos fiéis.
Olhos que Condenam
(When They See Us) Onde: na Netflix
É barra-pesadíssima a história de cinco garotos do bairro negro do Harlem, em Nova York, que em 1989 viram sua vida virar um pesadelo: de bobeira no Central Park enquanto este era tomado por um rolê, foram apanhados a esmo pela polícia, que agarrou quem não correu rápido o suficiente – e então transformados em suspeitos de um estupro brutal pela imaginação fanática de uma promotora (interpretada de forma perfeitamente detestável por Felicity Huffman), e condenados apesar da absoluta falta de provas e da salada processual cometida pelos detetives. Quatro dos meninos tinham entre 14 e 15 anos, mas foram interrogados por até 40 horas seguidas sem direito a dormir ou comer, sem a presença dos pais, e continuamente pressionados a confessar. O quinto garoto, de 16 anos, só estava na delegacia para acompanhar um amigo; nem sequer fora arrolado pela polícia – mas foi quem sofreu os horrores mais indescritíveis, já que, por causa da idade, jogaram-no no meio de prisioneiros adultos. Interpretado em todas as idades pelo estrondoso Jharrel Jerome, ele é o coração da série (embora aqui não haja ator mais-ou-menos; são todos soberbos). A diretora Ava DuVernay, de Selma, pesa a mão como de costume. Mas, verdade seja dita, os quatro episódios são impecavelmente filmados. E os “Cinco do Central Park”, como ficaram conhecidos, merecem este ajuste de contas e mais um tanto.
Chernobyl
Onde: na HBO e HBO Go
Não espere ter um instante de paz sequer enquanto assiste a cada um dos cinco episódios – nem depois que eles terminam; um dos feitos desta produção inglesa absolutamente impecável, e terrivelmente perturbadora, é fazer com que as imagens da catástrofe nuclear e humana de Chernobyl continuem vivas na imaginação e funcionem como um lembrete de que, se a finada União Soviética tratou a indiferença e a crueldade para com os cidadãos como uma forma de arte, não falta quem continue a imitá-la hoje em todo o mundo, seja qual for a forma de governo. Protagonizada por atores soberbos como Jared Harris, Emily Watson, Jessie Buckley e Stellan Skarsgard – em um papel crucial, como o burocrata de alto escalão do Partido Comunista que pouco a pouco se dá conta do horror a cujo serviço ele se colocou –, Chernobyl reconstitui desde o momento da explosão do reator 4 da usina ucraniana, em 26 de abril de 1986, até os esforços de acobertamento e também de investigação; das medidas desesperadas para conter de alguma forma a contaminação (equivalente à de umas 100 bombas de Hiroshima) até as consequências devastadoras para as pessoas apanhadas por acaso pela tragédia. É assombrosa na meticulosidade e na potência – e devastadora.