Brian Cox, o colosso que dá vida a Logan Roy em Succession, conversou com VEJA sobre o patriarca — e o que ele realmente acha de seus filhos.
Com qual personagem clássico o senhor compararia Logan? Exceto pelo fato de que Logan não tem a menor intenção de se afastar do seu reino, há fortes elementos de Lear, claro — inclusive naquilo que é sua força e sua fraqueza, o amor pelos filhos.
Mas ele é capaz de atos terríveis contra os filhos. Na sua opinião, ele os ama de fato, ou só a parte deles em que pode se espelhar? Não tenho dúvida de que ele ama os filhos. O que não quer dizer que eles não sejam uma decepção para ele. Nenhum dos quatro, no fundo — nem a favorita dele, Shiv —, é capaz de se manter de pé sozinho. Logan saiu da pobreza e trabalhou por tudo o que possui, mas seus filhos, para sua frustração, nunca conquistaram nada por conta própria. Como é comum nesta geração, eles acham que algo é devido a eles. Vivemos em uma era em que a sensação é de que tudo é fácil e instantâneo, e para tudo há um atalho. O mundo, porém, continua a exigir o que sempre exigiu: esforço e conhecimento das regras do jogo. Logan é rude e antipático, mas entende a realidade da situação.
No caso de Kendall, ele vai bem além da mera rudeza, não? Kendall já quase se matou tentando ser o que o pai espera. Mas Kendall também não pode ser o que ele espera. O problema de Kendall não é o pai — é Kendall. Ele tem uma fraqueza inerente. Chora, não assume a responsabilidade, não aceita o fato de ser um viciado. Sim, ele sofre, e ao que parece isso faz com que as pessoas esqueçam quanto ele é ambicioso e ganancioso. Mas é obsceno que um homem adulto culpe os pais por continuar se colocando em situações lastimáveis.
Os personagens de Succession mentem, apunhalam pelas costas, traem. Por que isso fascina tanto, na sua opinião? Primeiro porque reconhecemos neles os dilemas humanos e a loucura em que vivemos hoje. Mas também porque esse jogo em si é fascinante: mentir, dissimular, aniquilar — tudo isso faz parte da técnica de trabalhar com o poder no nível em que os Roy trabalham. Não é admirável nem louvável, mas é uma realidade.
Logan é um grande personagem — mas o senhor gosta dele como pessoa? Não desgosto dele. Penso que ele tem seus problemas, mas entendo o ponto de vista de Logan e tenho uma enorme empatia por sua pessoa. Ao mesmo tempo, ele costuma ser seu pior inimigo também. Como a maioria de nós.
Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2021, edição nº 2759