Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Elvis & Nixon

Por Isabela Boscov Atualizado em 11 jan 2017, 16h21 - Publicado em 16 jun 2016, 20h28

Uma comédia simpática sobre o dia em que um rei foi visitar o presidente

nixon_elvis.jpg
A foto original do encontro ()

Feita em dezembro de 1970, no Salão Oval da Casa Branca, a foto de um encontro entre dois aparentes opostos – Elvis Presley e o presidente Richard Nixon – virou uma espécie de evento cultural americano: é a imagem mais solicitada do acervo dos Arquivos Nacionais. Qual teria sido o motivo da visita do Rei à sede da Presidência, e como ela teria transcorrido? Essa é a história que Elvis & Nixon tenta imaginar – e que começa com Elvis, já suplantado pela revolução pop nas paradas, reagindo com desgosto ao noticiário repleto de convulsão social, rejeição à Guerra do Vietnã, protestos raciais, drogas: refestelado numa poltrona em Graceland, Elvis espatifa a tiros as diversas telas de TV da sala, troca os chinelos por sapatos e vai para o aeroporto (sem assessores nem escolta, pela primeira vez na vida): quer pegar os amigos Jerry (Alex Pettyfer) e Sonny (Johnny Knoxville) em Los Angeles e seguir com eles para Washington, onde planeja propor ao presidente que o decrete agente federal disfarçado. Na cabeça cheia de mistificações de Elvis, ele poderá assim agir incógnito (justo quem – o homem mais famoso do planeta) em defesa do seu país. No fundo, no fundo, Elvis só quer duas coisas de fato: ser recebido pelo líder do mundo livre com toda a deferência exigida por sua majestade, e acrescentar o escudo do FBI à sua vasta coleção de distintivos honorários.

elvisnixon_mat5

Continua após a publicidade

O fabuloso Michael Shannon, de O Abrigo (e também o General Zod de Homem de Aço), é um arraso como Elvis, embora não tenha com ele nenhuma semelhança física (Elvis já estava ficando corpulento, Shannon é um vara-pau; Elvis tinha um rosto cheio de curvas arredondadas, e o do ator é cortado a machado). O que Shannon capta em infinitas nuances é a cultura sulista e a psique complicada de Elvis: um emaranhado de narcisismo, inseguranças e complexos variados – de dependência, de inadequação – que as pessoas próximas cuidavam de alimentar. Elvis, o homem, é tão frágil e iludido que chega a ser patético. Mas é magistral o efeito que Shannon obtém quando vai envergando as roupas, as joias, o penteado, o cinturão dourado e, mais até de dentro para fora do que de fora para dentro, metamorfoseia-se na persona com que se apresenta ao mundo – do maior entre os maiores, o único e verdadeiro Rei, o que tudo pode e hipnotiza a todos.

elvisnixon_mat2

Já a interpretação de Kevin Spacey segue uma linha radicalmente diferente: ótimo imitador, Spacey reproduz os ombros fechados de Nixon, seu andar pesado, sua atitude defensiva e ressabiada. É uma caricatura; mas, aos poucos, vão emergindo dela alguns traços mais intangíveis – o sentimento de inferioridade, a insegurança, a necessidade de aprovação e, ao mesmo tempo, a urgência de rebatê-la tentando provar-se sempre certo. Convencer Nixon de que é ótima ideia alardear um encontro seu com Elvis (nenhum presidente, em toda a história americana, apelou tão pouco aos jovens) é uma pedreira, mas a carta em que o Rei solicita a audiência – e que ele foi entregar pessoalmente numa das portarias da Casa Branca – já virou item célebre no gabinete.

Continua após a publicidade

elvisnixon_mat1

A direção de Liza Johnson e o roteiro assinado pelo ator Cary Elwes e o casal Joey e Hanala Sagal são primários na sua concepção: consistem de encher o filme de telefones de discar, carros com rabo-de-peixe e mocinhas de franja e delineador, apresentar a situação, mostrar em paralelo os esforços dos amigos de Elvis e dos assessores de Nixon (interpretados por Colin Hanks e Evan Peters) para que o encontro aconteça, e então proceder ao encontro propriamente dito. Há vários momentos simpáticos, mas é esse, o evento principal, que faz a coisa toda valer a pena: livres para tomar conta do filme – e competir um com o outro –, Shannon e Spacey dançam uma deliciosa coreografia de egos, repleta de humor e observação, que diverte tanto quanto entristece. Desesperados para provar a si mesmos sua relevância em um mundo que estava pegando fogo e mudando com muito mais rapidez do que poderiam acompanhar, nem Elvis nem Nixon percebem que o presente já lhes fugiu, e não imaginam quanto o futuro lhes seria cruel. Em 1974, ao ser revelado o escândalo de Watergate, Nixon renunciou antes que seu impeachment fosse votado e passou à história como o mais infame e escuso de todos os ocupantes da Casa Branca. E, em 1977, o coração de Elvis sucumbiria aos excessos – de comida, de comprimidos e, talvez, de desapontamento. Elvis segue sendo o maior de todos os entertainers, mas é possível que não se desse conta disso daqueles palcos de Las Vegas onde, nos últimos anos de vida, o antigo ícone da rebeldia se dedicava a embalar senhoras com o cabelo cheio de laquê.


Trailer

Continua após a publicidade

ELVIS & NIXON
Estados Unidos, 2016
Direção: Liza Johnson
Com Michael Shannon, Kevin Spacey, Alex Pettyfer, Colin Hanks, Evan Peters, Johnny Knoxville, Sky Ferreira, Tracy Letts, Tate Donovan
Distribuição: Sony Pictures

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.