Mare Sheehan (Kate Winslet) tem uma vida complicada. Perdeu um filho e cria o neto que ele deixou; divorciou-se do marido, que vai se casar de novo; toureia a mãe e a filha adolescente; e é a investigadora da reduzida força policial de Easttown, na Pensilvânia, um desses lugares que exalam declínio econômico, ressentimento e uma nefasta falta do que fazer, e no qual todos se conhecem desde sempre. Aparentemente (e essa é a palavra-chave), não há detalhe da vida de Mare que a cidade não conheça, ou circunstância da vida alheia de que ela não saiba: os desentendimentos familiares, as dificuldades financeiras, as antipatias. É um caldo indigesto, e nele fermenta já há um ano o desaparecimento de uma jovem da qual a detetive nunca conseguiu achar nem rastro. Agora, ele ganha um novo ingrediente: o assassinato de uma adolescente, que, como tudo o mais ali, se vai revelando um nó em uma vasta teia de relações. Eis a razão do título da minissérie Mare of Easttown (Estados Unidos, 2021), cujo terceiro de sete episódios estará disponível neste domingo, 2 de maio, na HBO e HBO GO: tanto quanto Mare, a própria Easttown é aqui uma protagonista viva.
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De modo geral, o whodunnit — ou “quem matou?” — depende de um elenco finito de suspeitos e desencadeadores, mas a ambientação em uma cidade pequena soma ao mistério um item volátil: como quaisquer outras pessoas, os moradores de Easttown guardam segredos de maior ou menor monta, pertinentes ou não ao crime. Boa parte deles será revolvida pela investigação, o que vai conferir a personagens adjacentes uma influência inesperada sobre os rumos da trama e criar um terreno movediço e traiçoeiro — sensação que é a marca também de séries como a inglesa Broadchurch, em que Olivia Colman investiga a morte de um menino do lugarejo em que vive com a ajuda do policial forasteiro vivido por David Tennant. Também Mare, para sua profunda irritação, ganha aqui um parceiro de fora, que ela tenta isolar como quem expulsa do organismo um corpo estranho. É Mare, porém, a pessoa fora de lugar: ríspida, impaciente, confrontadora, exausta, em deriva interna e sobretudo franca, ela é, na atuação brilhante (mais uma) de Kate Winslet, a pedra de que o sapato da hipocrisia provinciana quer se livrar.
Publicado em VEJA de 5 de maio de 2021, edição nº 2736
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