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“Lady Bird”: procurei e procurei, mas não encontrei

São um mistério as razões pelas quais o filme de Greta Gerwig ganhou cinco indicações ao Oscar

Por Isabela Boscov 23 fev 2018, 15h38
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  • Garota no final do ensino médio (Saoirse Ronan) não aguenta mais o tédio do colégio católico e da sua cidade sem graça – Sacramento, na Califórnia. Tem ambições artísticas e sonha ir fazer faculdade em Nova York, bem longe da casa dos pais. Namora primeiro um garoto certinho, e depois um garoto rebelde. E vive se pegando com a mãe, que trabalha feito uma condenada e não tem paciência com os dramas dela. É bonitinho? É, razoavelmente. É simpático? É. É um grande filme? De maneira nenhuma. Na melhor das hipóteses, é mediano. Já vi a mesma história uma centena de vezes – e, em pelo menos uma dezena delas, ela era bem melhor do que aqui. No entanto, Lady Bird – A Hora de Voar está concorrendo em cinco categorias peso-pesado do Oscar: melhor filme, direção, atriz, atriz coadjuvante e roteiro. A única em que há algum merecimento que justifique a indicação é a de coadjuvante, para Laurie Metcalf, que faz a mãe da garota. As outras são fruto de delírio, hype e/ou condescendência: no ano do #MeToo, pegaria mal não haver uma mulher no páreo de direção.

    Lady Bird – A Hora de Voar
    (Universal/Divulgação)

    Como Greta Gerwig é fofa (é mesmo) e é uma graça de atriz em filmes como Frances Ha e Mistress America (ambos co-roteirizados por ela em parceria com o diretor e namorado, Noah Baumbach), escolheu-se falar dela, e votar nela, como uma fabulosa revelação logo em sua estreia solo na direção. E, para confirmar que ela é tudo isso, indicou-se também seu roteiro ao Oscar. Procurei com afinco esse talento todo no filme. Não encontrei. Greta é tão simpática como diretora quanto o é como atriz, mas não tem originalidade, não tem imaginação visual e não tem nenhum insight novo a oferecer. Pelo jeito, não tem também grande curiosidade pelo mundo: fazer história autobiográfica aos 34 anos é para quem tem teve uma vida muito singular, ou para quem é capaz de destrinchar o que há de complicado e único no banal e no comum (como Baumbach fez em um de seus primeiros filmes, o também semiautobiográfico A Lula e a Baleia). Nem a primeira nem a segunda coisa se aplicam a Greta. Estão vendendo, mas não compro.

    Lady Bird – A Hora de Voar
    (Universal/Divulgação)

    O que realmente lamento, porém, é que sem querer (ou, a esta altura, querendo) Greta tirou a vaga de gente mais merecedora: se a ideia é que as mulheres sejam mais representadas, o que é necessário, ali ao lado havia uma candidata infinitamente melhor, a Dee Rees de Mudbound – Mississippi em Lágrimas – essa, sim, uma cineasta digna do substantivo. Reparar injustiças é bom. Mas repará-las cometendo outras injustiças é péssimo.

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    LADY BIRD – A HORA DE VOAR
    (Lady Bird)
    Estados Unidos, 2017
    Direção: Greta Gerwig
    Com Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts, Lucas Hedges, Timothée Chalamet, Beanie Feldstein, Stephen Henderson, Lois Smith
    Distribuição: Universal
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