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O Filme da Minha Vida

Delicadeza e nostalgia dão o tom em novo filme de Selton Mello

Por Isabela Boscov 5 ago 2017, 19h32
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  • Filho único da gaúcha Sofia (Ondina Clais) e do francês Nicolas (Vincent Cassel), Tony (Johnny Massaro) ama o pai pela sinceridade, a independência e o caráter, e não consegue entender como ele simplesmente abandonou a família enquanto ele concluía os estudos na capital, sem dar aviso nem notícias. Paco (Selton Mello), amigo da família, diz que Nicolas é um boi que não gosta de curral; mais cedo ou mais tarde, teria de ganhar de novo o mundo, e sabe-se lá o que ele anda fazendo de volta à França. Trabalhando como professor na escola da pequena Remanso, esperando uma carta de Nicolas que não chega nunca e observando a solidão em que a mãe foi deixada, Tony tem dificuldade em conciliar sua idealização do pai aos fatos. E é em boa parte disso que trata o terceiro longa de Selton Mello como diretor e também roteirista – do circuito longo e cheio de atalhos falsos que é preciso percorrer para perder-se do pai e encontrar-se a si mesmo como adulto. Baseado no romance breve Um Pai de Cinema, do chileno Antonio Skármeta, O Filme da Minha Vida carece da capacidade de coesão instantânea que tornou O Palhaço, o trabalho anterior de Selton, uma experiência tão especial – mas tem a delicadeza que lhe é habitual, assim como aquela mesma nostalgia por um Brasil mais íntimo e provinciano que se perdeu no tempo, embora seja ainda tão próximo (a história se passa em 1963).

    O Filme da Minha Vida
    (Vitrine/Divulgação)

    Indeciso entre Petra (Bia Arantes), a femme fatale da cidadezinha, e Luna (Bruna Linzmeyer), a irmã mais nova dela, Tony faz excursões frequentes no trem interiorano pilotado por Rolando Boldrin (um ator de que a produção  nacional faria bem em se lembrar mais vezes) à próxima Fronteira, para ir ao cinema e, a certa altura, ao único bordel local. Em um, ele assiste a Rio Vermelho, em que John Wayne e Montgomery Clift vivem seu próprio conflito de pai e filho; no outro, perde a virgindade, que subitamente lhe passa a ser intolerável. E em Fronteira, também, ele faz uma descoberta decisiva, que muda sua perspectiva tanto sobre Nicolas quanto sobre Paco – ou, mais precisamente, sobre a sua necessidade de figuras paternas. Com ótimas interpretações (em especial a do próprio Selton) e uma produção e uma trilha sonora de época quase que preciosas demais, já que às vezes desviam a atenção do drama para o entorno dele, O Filme da Minha Vida demora um pouco a encontrar seu passo. Quando o faz, envolve e toca. Em certo sentido, talvez seja uma etapa indispensável na carreira de Selton como diretor – um balanço das contas pessoais e profissionais que o trouxeram até aqui, e que, espera-se, continuarão a ser refeitas em outros filmes norteados pela sua sensibilidade particular.

    O Filme da Minha Vida
    (Vitrine/Divulgação)

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    Trailer

    O FILME DA MINHA VIDA
    Brasil, 2017
    Direção: Selton Mello
    Com Johnny Massaro, Vincent Cassel, Selton Mello, Bruna Linzmeyer, Ondina Clais, Bia Arantes, Rolando Boldrin
    Distribuição: Vitrine

     

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