Se os fãs dão como certo que a bússola moral de super-heróis como Super-Homem ou Capitão América é tão bem calibrada que nada altera seu norte, a série The Boys, da Amazon, oferece outra perspectiva sobre o poder absoluto: mimados, acobertados e controlados pela megacorporação Vought, os heróis do grupo Os Sete têm habilidades realmente extraordinárias, e também um caráter abjeto fomentado por sua intocabilidade. Prepotência, mercantilismo, corrupção, abuso sexual — a novata Starlight (Erin Moriarty) encontra de tudo ao ingressar no grupo, menos honestidade e heroísmo. Queen Maeve (Dominique McElligott) é a única que guarda um vestígio de integridade. Mas, cada vez mais, ela concorda em perpetrar as iniquidades de que Homelander (Antony Starr) a incumbe. E Homelander, o indestrutível líder natural dos Sete, esconde mais que arrogância atrás do penteado loiro e do sorriso imaculado; é um fascista na definição verdadeira do termo. Os Sete muito mais destroem que salvam. Mas, até quando A-Train corre através (sim, através) da namorada do tímido Hughie (Jack Quaid, filho de Dennis Quaid e Meg Ryan) e a transforma numa polpa vermelha, a executiva Madelyn Stillwell (Elisabeth Shue) dá um jeito de retocar a história. Eis então que Billy Açougueiro (Karl Urban) entra na vida de Hughie prometendo o que ele mais deseja: justiça, mediante quantidades copiosas de violência, sangue e vísceras, em visual deliciosamente pop.
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Adaptada do quadrinho de Garth Ennis e Darick Robertson, a série entra na sua segunda temporada — os quatro primeiros episódios já estão disponíveis — elevando as apostas. Se na primeira leva o criador Eric Kripke explorara os subterfúgios tenebrosos de que Homelander e a Vought se valem para ampliar sua já esmagadora influência (por exemplo, ao criar supervilões que garantam ser os super-heróis indispensáveis), agora ele introduz uma variável aterradora: uma millennial perfeita por fora e putrescente por dentro, capaz de meter medo até em Homelander. Não há imagem na qual se possa confiar no mundo de hoje, argumenta The Boys. Ao que tudo indica, com razões bem calcadas na realidade.
Publicado em VEJA de 16 de setembro de 2020, edição nº 2704
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