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“Ted Bundy”: o discreto charme de um psicopata

Zac Efron interpreta o serial killer carismático – e de ferocidade tenebrosa –, visto aqui pelos olhos da namorada que nunca desconfiou dele

Por Isabela Boscov Atualizado em 25 jul 2019, 20h14 - Publicado em 25 jul 2019, 20h03
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  • Se tiver curiosidade, dê uma espiada no Google na cara de serial killers como John Wayne Gacy, Ed Gein, Charles Manson, David Berkowitz, Jeffrey Dahmer ou Edmund Kemper: é verdade que foto de prisão não favorece ninguém, mas no geral é uma gente assustadora. A exceção célebre é Ted Bundy, o estudante de direito bonitão, bem-apessoado, bem-humorado, educado, articulado e charmoso que antes de ir para a cadeia elétrica afinal confessou trinta dos assassinatos que cometera, depois de anos alegando de pés juntos sua inocência. A polícia dos estados em que ele agiu entre (presume-se) 1974 e 1978 acredita que o total de jovens mortas por ele seja muito maior. Bundy era um sujeito voluntarioso e pode ter resolvido por razões insondáveis não admitir alguns dos crimes. Ou pode ter tido dificuldade em fazer a conta: quando saía à caça, ele agia com uma selvageria capaz de impressionar até alguns dos colegas dele citados aí acima. Em muitos casos, além de matar barbaramente e estuprar (antes de matar e também depois, por dias ou semanas a fio), ele mutilava, decapitava e – bem, chega de detalhes sórdidos; já deu para entender. O maior perigo de Bundy, porém, era aparentar não tê-lo. E não só em um primeiro contato: Liz Kendall, uma mãe solteira tímida e responsável, namorou Bundy durante anos (ele foi preso antes de se casarem) e nunca enxergou além da fachada agradável dele. Jamais desconfiou do que tinha ao seu lado, e demorou muito para acreditar que os policiais, procuradores e promotores estavam falando a verdade. Liz era uma tonta? Não, não era: foi uma das muitas pessoas com quem Bundy conviveu de perto e prolongadamente sem levantar suspeitas. Por exemplo, os oficiais do Partido Republicano para os quais trabalhou em campanhas eleitorais, uma policial com quem namorou e os colegas de um comitê estadual anticrime (pois é) que integrou.

    Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal
    (Paris Filmes/Divulgação)

    Dada a natureza íntima do relacionamento de Liz com Bundy, mais o fato de que ele foi um pai postiço muito carinhoso para a filha dela, é ela a escolhida pelo diretor Joe Berlinger para ser o avatar do espectador em Ted Bundy: a Irresistível Face do Mal, que está em cartaz no país. Berlinger é um documentarista de primeira linha e muito experiente nessa seara do “true crime”, e é dele também a série documental Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy, que está disponível na Netflix. Mas a versão ficcionalizada de Face do Mal é fascinante justamente por se deter nesse aspecto tão perverso de Bundy – o de que nada na sua aparência ou no seu comportamento denotava o que ele era. Ao contrário, compunham uma camuflagem praticamente indevassável.

    Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal
    (Paris Filmes/Divulgação)

    “Praticamente” é, aí, uma palavra importante. Interpretada com muita precisão por Lily Collins, Liz revela durante o filme um fato que sugere que lá no fundo dela havia um alarme tocando. Mas tocando baixo, abafado pela investida maciça de charme e atenção de Bundy – vivido por Zac Efron com o carisma de ídolo juvenil ligado no máximo. É apropriado, porque Bundy era carismático mesmo: durante seu julgamento, o primeiro a ser gravado por câmeras de TV nos Estados Unidos, ele ganhou uma legião de jovens admiradoras, seduzidas não só por sua cara e seu jeito mas também pelo que ia se revelando sobre ele. O julgamento, aliás, é um dos pontos altos do filme. John Malkovich está magnífico no papel do juiz (o título original do filme, “extremamente cruel, de um mal chocante e vil”, é um trecho da sua sentença), que funciona como o segundo avatar da plateia: alguém que, ao contrário de Liz, sabe já a criatura que tem diante de si mas lamenta não apenas sua monstruosidade, como também tanto desperdício de material humano – de inteligência, capacidade, potencial. Um filme, enfim, que é um primor de equilíbrio e de critério, e que horroriza pela essência do que tem a dizer, sem ter de recorrer a cenas gráficas. Até porque o pior, aqui, é colocar-se no lugar de Liz e imaginar do que ela escapou e aquelas trinta ou mais mulheres, não.

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    Trailer

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    TED BUNDY: A IRRESISTÍVEL FACE DO MAL
    (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile)
    Estados Unidos, 2019
    Direção: Joe Berlinger
    Com Lily Collins, Zac Efron, John Malkovich, Haley Joel Osment, Kaya Scodelario, Jim Parsons, Jeffrey Donovan, James Hetfield, Dylan Baker
    Distribuição: Paris Filmes

     

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