É 1896, e o assassinato e mutilação grotescos de um menino empregado num tipo muito particular de prostituição — em que garotos ainda impúberes trabalham vestidos de meninas nos bordéis — choca a então suja, caótica e populosa Nova York. A polícia não está interessada em resolver o caso: e por que ela deveria se preocupar com o que acontece a tal escória?, diz o delegado-chefe. O novo comissário, Theodore Roosevelt (Brian Geraghty), pensa diferente. Um homem da era moderna, que ambiciona transformar a cidade corrupta em exemplo, Roosevelt (que em 1901 se tornaria o 26º presidente americano, e um dos melhores de toda a lista) decide trabalhar pelas costas da polícia, e contrata o alienista Laszlo Kreizler (Daniel Brühl) para investigar o crime; um homicídio assim peculiar indica um criminoso de psicologia também ela singular. A Laszlo, juntam-se seu velho amigo John Moore (Luke Evans), um ilustrador do New York Times de família rica e vida dissoluta; e a jovem Sara Howard (Dakota Fanning), primeira mulher a trabalhar no departamento de Polícia de Nova York, como secretária de Roosevelt. A começar pelo próprio Laszlo, todos carregam seus traumas e fantasmas do passado para dentro da investigação, ao mesmo tempo contribuindo para ela com pontos de vista diversos e turvando-a com seus respectivos desvios de perspectiva. Logo, outros corpos mutilados de prostitutos mirins começam a surgir: há algo, ou alguém, muito doentio em ação na cidade. The Alienist (nada a ver com o romance O Alienista, de Machado de Assis) é uma espécie de resposta com sotaque americano a Penny Dreadful: embora não tenha o elemento sobrenatural tão forte na série inglesa, tira toda vantagem possível da ambientação na estirada final do século 19 e da tensão típica da Nova York daquele período, dividida entre umas poucas dezenas de famílias riquíssimas e as massas paupérrimas de imigrantes que então desembarcavam sem parar na estação de Ellis Island.
Laszlo Kreizler, também ele imigrante, mas endinheirado, é um personagem recorrente nos romances do escritor americano Caleb Carr, e é bastante provável, portanto, que The Alienist ganhe novas temporadas; material para tanto não falta. Eu continuaria a assistir com prazer. Embora nenhum dos protagonistas alcance a força de Eva Green e Josh Hartnett em Penny Dreadful, o elenco é irretocável — com destaque para Luke Evans, que há pouco fez um trabalho excelente (e totalmente diferente) também em A Bela e a Fera. Adorei também o personagem secundário, mas muito interessante, da índia muda Mary (Q’orianka Kilcher), que Laszlo socorreu de um passado escabroso e transformou em sua criada. Os jovens atores que fazem os meninos dos bordéis, além disso, são todos excelentes. As locações — a Hungria se finge aqui de Nova York vitoriana —, os cenários e os figurinos são de primeira linha, e a trama toma rumos realmente inesperados (porém lógicos, sem o que nenhum mistério tem graça de verdade). É coisa de quem entende mesmo do assunto: o time de produção é todo da maior categoria, começando por Caleb Carr e prosseguindo com Cary Joji Fukunaga (True Detective, de que The Alienist pega emprestados elementos importantes), Hossein Amini (Killshot, Drive) Jakob Verbruggen (The Fall, London Spy) e John Sayles (Lone Star, Homens Armados). Torço por novos crimes perturbadores — e felizmente fictícios — para Laszlo investigar, enfim.